Capítulo 7

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Cheguei a casa disposto a esclarecer alguns assuntos com a minha mãe.

- Mãe! Porque escondeste que a Juliette vinha sempre visitar-te?

- Ah, filho! Não quis aborrecer-te.  Tu estavas magoado com o acidente.   Tive medo que a maltratasses.
- Apesar de tudo ela é uma boa menina.

- Hoje conversei com ela.  Ela contou-me das visitas.

- Não ralhaste com ela, não filho?

- Não mãe.   Fica sossegada. Está tudo bem e eu permiti que ela continue a vir, mas, tem outro assunto para falarmos.

- De onde conheces a família dela? Eu vi bem lá no hospital a tua reacção ao ouvir o nome Bragança.

- Deixa esse assunto no passado filho.  Não vale a pena.

- Mas eu quero saber, mãe. Sempre desconfiei que havia algum segredo na nossa família.   Eu lembro que em criança éramos felizes e de repente ficámos pobres e o pai morreu.  Está na hora de me contares.  Tem a ver com a família da Juliette?

- Eu conto se prometeres que não vais maltratar a Ju.  Ela também era criança e sofreu por isso.

- Conta.  Depois eu decido.

- O teu pai e o da Ju eram "amigos". Tinham alguns negócios em conjunto.  As famílias não se visitavam mas eles davam-se bem.

- O Bragança era homem de várias mulheres.  Vivia rodeado de mulheres de carácter duvidoso e em casa o ambiente não era o melhor.   Por vezes o teu pai teve que intervir pois ele maltrarava a esposa.

- Ela confidenciava ao teu pai esses maus tratos e foi num desses dias em que ela chorava que o Bragança os apanhou abraçados.

- Teu pai jurou-me que foi só isso e que nunca houve nada entre eles e eu acreditei.

- O Bragança jurou que se havia de vingar do teu pai e como sabia o fraco dele por jogo, armou-lhe uma cilada para ficar com os nossos bens.

- Isso contou a mãe da Ju ao teu pai, pois ouviu uma conversa entre o Bragança e o advogado.

- Este miserável está arrumado.  Agora vai dormir na sarjeta e que leve a pega da minha mulher, ouviu ela na conversa entre os dois.

- A partir daí foi só desgraça.  O teu pai refugiou-se na bebida e morreu.
Soube que a mãe da Ju foi embora mas não sei mais nada.

Rodolffo ouvia com atenção mais a raiva no seu rosto era evidente.

- Eu era pequeno,  não tive a noção disso mas, lembro do pai sempre alcoolizado até morrer.

- A Ju encontrou a mãe.  Costuma vê-la às escondidas do pai.  Ela não lhe contou ainda porque saiu de casa.  Vive modestamente com uma antiga bábá da Ju e é professora.   Vive do salário.  Pouco ou nada tem.

- Cafageste!! Disse Rodolffo. O que é teu está guardado.

- Por amor de Deus,  filho! Não faças nada.  Deixa tudo nas mãos de Deus.

- Fica descansada.

Num outro local

- Mãe! É hoje que me vais contar porque saíste de casa? Eu não me esqueci.

- Deixa isso, filha! É passado.

- É o meu passado.  Eu quero saber.

- Senta aqui.

- O teu pai vivia rodeado de mulheres.  Todos os dias uma nova.
Se eu dissesse alguma coisa apanhava.  Tudo era motivo para me agredir.
Nunca o fez na tua frente.  Esse  cuidado ele tinha.
Um dia num desabafo com um amigo dele, eu chorei.  Para me consolar ele abraçou-me.
Só que o teu pai viu e fez julgamentos.

- Jurou que se ia vingar do amigo e chamou-me de mulher da vida, cafetína e libertina.

- Um dia ouvi a conversa dele com o advogado em como tinham tirado tudo ao Albuquerque numa mesa de jogo.

- Confrontei-o com isso e o resultado foi: uma sova e um ultimato.

- Só tens duas hipóteses;  ou vais embora desta casa sem nada  ou uma sova todos os dias.

- E a minha filha?

- Esquece que tens filha. Se fores embora não lhe dizes nada.  Simplesmente vais.

- Tentei ficar por ti, mas, ao fim de três dias e três sovas, desisti e fui embora com a roupa no corpo.

- Pedi abrigo à nana para estar mais perto e poder ver-te.  Nunca mais falei com ele.  Eu acho que ele sabe onde estou, mas nunca me incomodou.

- Mãe! E esse Albuquerque,  sabes deles?

- Não filha.  Sei que eram um casal com um filho,  mas eu só o conheci a ele.  A esposa e o filho não.

Juliette nem queria acreditar que o pai que sempre fez as suas vontades fosse aquele monstro.
Mulheres, ela sabia de muitas, mas, afinal ele era um homem sózinho.

Saiu dali decidida a tirar informações sobre o assunto de onde pudesse.   Iria começar pelos funcionários mais antigos, Mas antes ia passar para ver a dona Vera.

À entrada de casa encontrou o Rodolffo com cara de poucos amigos.

- Bom dia doutor. Dá-me licença que visite sua mãe.

- Bom dia. Não dei já permissão? Não precisa de pedir sempre,  respondeu ríspido.

- Grosso, pensou Juliette

Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora