Cheguei a casa disposto a esclarecer alguns assuntos com a minha mãe.
- Mãe! Porque escondeste que a Juliette vinha sempre visitar-te?
- Ah, filho! Não quis aborrecer-te. Tu estavas magoado com o acidente. Tive medo que a maltratasses.
- Apesar de tudo ela é uma boa menina.- Hoje conversei com ela. Ela contou-me das visitas.
- Não ralhaste com ela, não filho?
- Não mãe. Fica sossegada. Está tudo bem e eu permiti que ela continue a vir, mas, tem outro assunto para falarmos.
- De onde conheces a família dela? Eu vi bem lá no hospital a tua reacção ao ouvir o nome Bragança.
- Deixa esse assunto no passado filho. Não vale a pena.
- Mas eu quero saber, mãe. Sempre desconfiei que havia algum segredo na nossa família. Eu lembro que em criança éramos felizes e de repente ficámos pobres e o pai morreu. Está na hora de me contares. Tem a ver com a família da Juliette?
- Eu conto se prometeres que não vais maltratar a Ju. Ela também era criança e sofreu por isso.
- Conta. Depois eu decido.
- O teu pai e o da Ju eram "amigos". Tinham alguns negócios em conjunto. As famílias não se visitavam mas eles davam-se bem.
- O Bragança era homem de várias mulheres. Vivia rodeado de mulheres de carácter duvidoso e em casa o ambiente não era o melhor. Por vezes o teu pai teve que intervir pois ele maltrarava a esposa.
- Ela confidenciava ao teu pai esses maus tratos e foi num desses dias em que ela chorava que o Bragança os apanhou abraçados.
- Teu pai jurou-me que foi só isso e que nunca houve nada entre eles e eu acreditei.
- O Bragança jurou que se havia de vingar do teu pai e como sabia o fraco dele por jogo, armou-lhe uma cilada para ficar com os nossos bens.
- Isso contou a mãe da Ju ao teu pai, pois ouviu uma conversa entre o Bragança e o advogado.
- Este miserável está arrumado. Agora vai dormir na sarjeta e que leve a pega da minha mulher, ouviu ela na conversa entre os dois.
- A partir daí foi só desgraça. O teu pai refugiou-se na bebida e morreu.
Soube que a mãe da Ju foi embora mas não sei mais nada.Rodolffo ouvia com atenção mais a raiva no seu rosto era evidente.
- Eu era pequeno, não tive a noção disso mas, lembro do pai sempre alcoolizado até morrer.
- A Ju encontrou a mãe. Costuma vê-la às escondidas do pai. Ela não lhe contou ainda porque saiu de casa. Vive modestamente com uma antiga bábá da Ju e é professora. Vive do salário. Pouco ou nada tem.
- Cafageste!! Disse Rodolffo. O que é teu está guardado.
- Por amor de Deus, filho! Não faças nada. Deixa tudo nas mãos de Deus.
- Fica descansada.
Num outro local
- Mãe! É hoje que me vais contar porque saíste de casa? Eu não me esqueci.
- Deixa isso, filha! É passado.
- É o meu passado. Eu quero saber.
- Senta aqui.
- O teu pai vivia rodeado de mulheres. Todos os dias uma nova.
Se eu dissesse alguma coisa apanhava. Tudo era motivo para me agredir.
Nunca o fez na tua frente. Esse cuidado ele tinha.
Um dia num desabafo com um amigo dele, eu chorei. Para me consolar ele abraçou-me.
Só que o teu pai viu e fez julgamentos.- Jurou que se ia vingar do amigo e chamou-me de mulher da vida, cafetína e libertina.
- Um dia ouvi a conversa dele com o advogado em como tinham tirado tudo ao Albuquerque numa mesa de jogo.
- Confrontei-o com isso e o resultado foi: uma sova e um ultimato.
- Só tens duas hipóteses; ou vais embora desta casa sem nada ou uma sova todos os dias.
- E a minha filha?
- Esquece que tens filha. Se fores embora não lhe dizes nada. Simplesmente vais.
- Tentei ficar por ti, mas, ao fim de três dias e três sovas, desisti e fui embora com a roupa no corpo.
- Pedi abrigo à nana para estar mais perto e poder ver-te. Nunca mais falei com ele. Eu acho que ele sabe onde estou, mas nunca me incomodou.
- Mãe! E esse Albuquerque, sabes deles?
- Não filha. Sei que eram um casal com um filho, mas eu só o conheci a ele. A esposa e o filho não.
Juliette nem queria acreditar que o pai que sempre fez as suas vontades fosse aquele monstro.
Mulheres, ela sabia de muitas, mas, afinal ele era um homem sózinho.Saiu dali decidida a tirar informações sobre o assunto de onde pudesse. Iria começar pelos funcionários mais antigos, Mas antes ia passar para ver a dona Vera.
À entrada de casa encontrou o Rodolffo com cara de poucos amigos.
- Bom dia doutor. Dá-me licença que visite sua mãe.
- Bom dia. Não dei já permissão? Não precisa de pedir sempre, respondeu ríspido.
- Grosso, pensou Juliette