Capítulo 10

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Acordei cedo.  Vesti a mesma roupa, dei um beijo no Rodolffo e saí.  Dona Vera ainda dormia.

Entrei no carro tentando visualizar todos os acontecimentos da noite anterior.

- Isto foi errado. Não poderia ter acontecido.   Nós dois nunca vai dar certo.
Quando ele souber toda a história por trás da tramóia do meu pai vai-me odiar.

Entrei em casa e fui tomar um banho.  Refrescar as ideias talvez ajude a raciocinar.
Desci para tomar café, como sempre sózinha.  No meu pai ainda não tinha chegado.

Volto novamente para o meu carro e sigo em direcção ao hospital.
Felizmente o Rodolffo hoje só tem plantão à noite e não corro o risco de o encontrar.
Não tenho como justificar a saída rápida de sua casa.

Um único pensamento estava na minha cabeça.  Onde guardará o meu pai, os documentos que extorquiu ao pai do Rodolffo?  Será que estão no cofre de casa.

No cofre há imensas coisas e eu tenho a senha pois guardo ali algumas jóias.  Vou ter que averiguar mas preciso de afastar o meu pai.

Juliette estava decidida.  Ajudar a mãe e devolver os bens de dona Vera eram agora o seu objectivo de vida, nem que para isso brigasse feio com seu pai.

Alheio a tudo isso Rodolffo acordou e não encontrou Juliette.

Já era meio dia e concluiu que ela tinha ido para o hospital.

Foi ter com sua mãe que estava na cozinha preparando o almoço.

- Bom dia, filho. Como correu a noite? Não ouvi você chegar.

- Bom dia, mãe. Deu-lhe um beijo na cabeça.   Correu bem. Divertimo-nos muito. A Ju é uma óptima companhia.

- Boa menina apesar do pai que tem.

- Porque é que eu acho que tu não me contaste tudo sobre ele e o pai?

- Impressão tua. Não há mais nada a saber.

Peguei o meu telemóvel e mandei mensagem à Ju.

- Bom dia! Porque saíste sem me acordar? Queria um beijinho de bom dia. Vens cá logo?  Beijo.

Ela visualizou e respondeu.

- Bom dia.  Durante os próximos dias não posso ir. Preciso resolver a minha vida. Tchau.

Uma bofetada doeria menos. Senti-me lixo sendo descartado.

Foi uma noite tão agradável até chegar aqui e depois nos amámos e eu juro que tanto da minha parte quanto da dela eu senti que era amor.
Ninguém pode representar assim tão bem.   Não pode ser mentira.
Com estes pensamentos Entrei no duche.

Nos dias seguintes não nos encontrámos.   No hospital ela não me procurou e eu não procurei ela.

Soube hoje por uma colega que ela ia ficar afastada cerca de 2 semanas.

Sou muito orgulhoso e porque acho que não fiz nada para que ela agisse assim, então,  ela que se resolva.

A minha mãe sentia a falta dela mas hoje recebeu a seguinte mensagem.

- Dona Vera.  Desculpe a minha ausência mas preciso de resolver uma parte da minha vida e vou estar ausente durante um tempo.  Volto quando puder.
Um beijo.

Hoje o meu pai finalmente tomou café comigo.

- Filha! Vou fazer uma viagem de negócios.   Vou-me ausentar durante uma semana, ficas bem?

- Pai, já sou adulta. Não tenho 5 anos.

- E a faculdade, quando começa?

- Dentro de 3 meses.

- Bom filha. Já vou. O motorista espera-me para me levar ao aeroporto.

- Boa viagem,  pai.

Eu sabia perfeitamente que a viagem de negócios era afinal uma amante nova.  Conheceram-se há uma semana e já vão viajar juntos.

Esta é a minha oportunidade para espiolhar bem tudo o que está no cofre.  Vai ser a minha tarefa mais logo.

Saí para fazer umas compras e regressei disposta a tudo, apenas confirmei com o Matias se o meu pai havia embarcado realmente.

Retirei toda a papelada do cofre e sentei-me no chão.

O meu objectivo era todo e qualquer documento onde constasse o nome Albuquerque, mas, não estava preparada para o que encontrei.

Primeiro separei os que procurava.  Escrituras de propriedades, acções de empresas e as promissórias de dívida que o pai do Rodolffo assinou.

Coloquei tudo numa pasta e dentro de um envelope.

Voltemos ao principio.  Documento por documento.  Havia várias escrituras de casas, terras e participações em empresas mas não em nome do meu pai.  Inclusive a casa onde moramos não estava no nome dele.  Estava tudo no nome de quem?  Da minha mãe.

Porque ela não me falou disto. Será que ela sabe?

Separei estes novos documentos e arrumei tudo o resto no cofre tal como estava.

Por certo o meu pai vai-me odiar, mas, eu vou fazer o certo.

Nos dias seguintes eu dediquei-me a saber se aqueles documentos eram legais e estavam actualizados.
Contratei um advogado fora do nosso ciclo de amizades que me ajudou na parte burocrática.

Guardei todos os documentos no cofre de um banco.

Hoje fui visitar minha mãe e questionei-a;

- Mãe. Quando tu assinavas alguma coisa que o pai mandava ele explicava o que era?

- Não filha.  Normalmente era a seguir a uma sova. Acho que algumas sovas foram só o pretexto para eu assinar.

- Então não sabes que mais de metade do património que o pai tem é teu legalmente?

- Nem quero saber. Eu quero distância desse homem.

- Pois prepara-te que em breve voltas para a tua casa. O meu pai tem que ser responsável pelos actos.

- Não mexas com ele. Não sabes do que ele é capaz.

- Sei bem mãe.  Já não sou criança. Agora tem muita coisa em jogo.  Desta reposição da verdade depende a felicidade de muita gente.
Se em alguma altura da minha vida eu fui fútil, insensível e egocêntrica,  hoje não sou mais.

- Quero resgatar o convívio contigo sem ser escondido e se o meu pai se opuser o problema é dele.
Tem também outras pessoas que sofreram por culpa dele e é preciso que se faça justiça.

- Amo-te minha filha.

- E eu a ti mãe. Dissemos num apertado abraço.









Da àgua pró lixoOnde histórias criam vida. Descubra agora