Quando, pela primeira vez, uma amiga dorme na sua casa.

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"Você está bem?" O pai de Rebecca estranha o fato de sua filha estar extremamente calada, porém, o que realmente lhe intrigou foi o fato dela ter se arrumado a tempo de tomar café à mesa.

Rebecca apenas assente com a cabeça, descansando o queixo em cima da mão e brincando com sua comida.

De minuto em minuto, Sr. Armstrong olha para a esposa, silenciosamente perguntando o que aconteceu com Rebecca, mas Sra. Armstrong apenas encolhe os ombros e esbugalha os pequenos olhos, como se dissesse 'como eu vou saber?'. "Podemos ir, Rebecca?" O homem pergunta antes de se levantar.

"Eu vou a pé hoje." Rebecca surpreende os pais com o que diz.

Os dois adultos voltam a se entreolhar, não tendo a mínima ideia do que aconteceu. Geralmente, Rebecca faz de tudo para não caminhar.

"Você quer que eu te leve?" Sra. Armstrong, que também sairá para o trabalho, pergunta.

"Eu disse que vou andar." Rebecca repete em um tom impaciente.

Ela empurra seu prato, com o café da manhã praticamente intocado e joga uma alça da mochila por cima do ombro. Rebecca não se importa o suficiente para se despedir de seus pais quando sai pela porta da frente, sua cabeça está em outro lugar, como sempre. Ela tenta se concentrar na música que escuta nos fones de ouvido. Rebecca sempre anda olhando para o chão, se certificando de que não pisará em nenhuma rachadura da calçada e, quando por engano, ela pisa em uma, seus pés coçam para que ela recomece o caminho desde sua casa.

Rebecca decidiu caminhar até a escola pois precisa de um tempo sozinha para pensar nas coisas que têm rodeado sua mente ultimamente. Coisas que envolvem Sarocha. Normalmente, Tara está ali para ouvir todos os seus conflitos, mas existem dois problemas em seu caminho. Primeiro, Tara ainda não lhe perdoou, e segundo, ela tem medo de revelar o que tem rodeado sua mente.

Rebecca sente que está ficando louca desde que os pensamentos começaram a consumi-la. Não gostou de perder sono, mas amou imaginar a mão de Sarocha junto da sua, e seus braços sendo capazes de envolver o corpo que é maior do que o seu. Enquanto imagina, sente que é a coisa mais certa do mundo, mas depois se arrepende, temendo não ter o direito de colocar Sarocha em tal emboscada. É um ciclo sem fim. Rebecca amaldiçoa sua mente, que nunca a obedece, que sempre se aventura em cenários tão surreais que acabam fazendo-a acreditar em veridicidades absurdas, como se fossem fantasias existentes e utopias possíveis.

Pela primeira vez em muito tempo, Rebecca decide tirar os olhos do chão enquanto caminha, ela inclina a cabeça para trás, fitando o céu azul, esperando que algum avião, pássaro, pipa ou qualquer outra coisa atravesse o emaranhado de azul claro e ajude a levar embora seus pensamentos indesejados.

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"Como está a escola?" Sr. Chankimha decide ter uma conversa com a filha enquanto dirige.

"Bem." Sarocha responde, olhando através da janela. Ela não sabe como, mas algo conseguiu distrai-la tanto ao ponto de fazê-la se esquecer do livro que deveria ter comprado ontem depois da aula. Quando ela se deu conta, seus pés já haviam a levado para o seu bairro enquanto ela pensava sobre o ocorrido entre ela e Rebecca.

"Você fez amigos?" Sr. Chankimha tenta perguntar casualmente, mas Sarocha se vira para ele e revira os olhos.

"Não se preocupe com isso, pai. Eu estou muito bem." Sarocha se concentra novamente na vista que a janela do banco de passageiro lhe proporciona.

"E isso quer dizer que..." Sr. Chankimha deixa a frase no ar para que sua filha termine.

"Eu não me isolo o tempo todo como você e mamãe acham." Sarocha diz.

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