Sarocha é desperta pelo barulho de seus pais discutindo no andar de baixo. Para ela, é estranho, visto que eles raramente discutem. Ela esfrega os olhos, espreguiça o corpo e fica totalmente absorta, encarando o teto do quarto enquanto as vozes de seus pais ecoam dentro de seus ouvidos.
Ela decide se arrumar com uma lentidão fora do normal, cedendo tempo para que seus pais resolvam o conflito que tanto os perturba. Quando desce, assim que o som dos gritos se esvai, Sarocha não encontra sua mãe à mesa, apenas o pai.
Ela se senta, tomando o café da manhã em silêncio e, de vez em quando, olhando para o pai. Hoje não teve 'bom dia', nem um sorriso, ou piadas sem graça, ou a irritante bagunçada em seu cabelo. Não houve nada.
E no caminho da escola, a mesma coisa. Sr. Chankimha dirigiu com um cotovelo apoiado na janela aberta, os olhos concentrados na estrada, mas o foco bem distante dali. Quando deixa o carro e se vira, Sarocha não tem tempo de perguntar ao seu pai o que aconteceu, pois ele já está partindo.
--
Abrindo os olhos lentamente, Rebecca sente gritos se intensificando aos poucos. São seus pais discutindo. Para ela, é algo normal, visto que eles estão sempre brigando. Ela grunhe preguiçosamente e deita o rosto no travesseiro, tentando retomar ao sono até sua mãe subir e gritar com ela, mas o barulho vindo do andar de baixo está muito alto.
Então, Rebecca se arrasta para fora da cama, levando uma eternidade para se arrumar e, quando desce, seus pais ainda estão discutindo. Quando percebem a presença da filha, eles migram a discussão para a cozinha, como se, no cômodo ao lado, sentada à mesa, Rebecca não fosse capaz de ouvir perfeitamente o que eles estão falando, ou melhor, gritando.
O percurso para a escola não foi nada fora do comum, Sr. Armstrong correu um pouco mais do que o normal, mas Rebecca não pensou muito sobre isso, provavelmente é apenas um efeito da raiva que ele acabou de passar em casa. Quando deixa o veículo, ela bate a porta já de costas, não se importando em ceder uma gentileza que não será retribuída.
--
"Rebecca, você precisa terminar sua redação. É para amanhã." Sarocha tira os olhos de seu caderno e olha para sua namorada, que está explorando seus livros, lendo sinopse atrás de sinopse.
"Eu já terminei." Rebecca murmura, claramente concentrada na leitura.
Sarocha franze as sobrancelhas, não acreditando que Rebecca já escreveu 30 linhas em apenas 15 minutos. Ela tira o caderno do colo e coloca-o em cima da cama, se ajoelhando para alcançar o de Rebecca, que está do lado direito da cama. Quando passa os olhos pela redação de sua namorada, ela não pode deixar de rir em silêncio. Rebecca escreveu as mesmas ideias de modos diferentes, apenas para preencher o espaço necessário.
"Sabe... mudar as palavras por sinônimos delas não vai alterar o significado das frases." Sarocha comenta como quem não quer nada.
"Hm..." Rebecca não parece ter ouvido claramente o que sua namorada disse, olhos concentrados nos livros.
Sarocha se intriga com o comportamento de Rebecca. Ela está calada demais, e o mais assustador de tudo, interessada nos livros. Exalando lentamente, Sarocha descruza as pernas e se senta na beira da cama. Antes de se levantar, ela corre os olhos por Rebecca. Olhar sério, cabelos volumosos, figura magra, mangas do moletom grandes demais e a barra dobrada da calça jeans revelando os detalhes na borda da meia amarela. Rebecca costuma se vestir sempre do mesmo jeito, apenas alterando as cores. Sarocha é ao contrário, vestimentas diferentes, cores iguais.
Mesmo quando sente os braços de Sarocha lhe envolvendo por trás, Rebecca não tira os olhos da sinopse, que, na verdade, já parou de ler faz alguns segundos. Ela escuta Sarocha inalando profundamente contra o seu ombro, os olhos dela provavelmente se fecharam no mesmo instante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aquilo que se encontra quando não se está procurando.
RomanceRebecca sente que está ficando louca desde que os pensamentos começaram a consumi-la. Não gostou de perder sono, mas amou imaginar a mão de Sarocha junto da sua, e seus braços sendo capazes de envolver o corpo que é maior do que o seu. Enquanto imag...