Quando duas adolescentes percebem que precisam ser cuidadosas.

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Deitada com a cabeça por cima das mãos, Sarocha observa Rebecca, que ainda está dormindo. Ela franze as sobrancelhas e logo depois sorri quando sua namorada balbucia palavras incoerentes, que provavelmente fazem algum sentido no sonho que ela está tendo. Puxando uma mão que está embaixo das cobertas, Sarocha aproxima os dedos do rosto de Rebecca e cuidadosamente traça o corte nos lábios de sua namorada, que agora já possui uma cor mais escura.

Olhando para os hematomas de Rebecca, Sarocha começa a se perguntar que sociedade é essa onde elas vivem. Um lugar lamentável, onde os indivíduos utilizam de artifícios agressivos para imporem uma suposta superioridade em relação à orientação sexual, e propagarem ódio entre seus semelhantes.

Ela suspira profundamente enquanto muda sua posição, se deitando de bruços, cruzando os braços em cima do travesseiro e descansando a cabeça por cima deles. Sarocha se lembra do dia anterior, sentada no corredor, escutando Rebecca chorar debaixo do chuveiro. Durou muito tempo, e isso fez Sarocha perceber que os danos físicos que Rebecca sofreu não foram os piores.

Sarocha teve vontade de perguntar o que os garotos disseram para ela, se a ameaçaram de alguma forma, mas ao mesmo tempo não quer que Rebecca fique revivendo o que passou.

No meio de seus pensamentos, Sarocha assiste Rebecca despertando aos poucos, tateando o próprio corpo e a cama enquanto ainda tem os olhos fechados. Virando o rosto, Rebecca finalmente abre os olhos e coça-os, estranhando ao ver que Sarocha está no outro canto da cama. "Por que você não está me abraçando, como sempre faz?"

"Você está machucada." Sarocha responde.

"Você está exagerando." Rebecca arqueia as sobrancelhas. Ela se arrasta para perto de Sarocha, gentilmente tirando o braço dela do travesseiro para que também possa deitar sua cabeça nele e aninhar o rosto contra o pescoço de Sarocha. "É por isso que eu não dormi tão bem essa noite." Rebecca abre um sorriso estúpido quando escuta Sarocha rindo.

Com certa relutância, Sarocha abraça Rebecca de volta, passando os braços em volta da cintura dela, sendo cautelosa para não tocar as partes das costas que estão machucadas. Mesmo não admitindo, Sarocha também teve dificuldade de pegar no sono sabendo que Rebecca estava ali, bem ao seu alcance, mas não podia abraçá-la.

"Você também sente que... a cada vez que dormimos na mesma cama, fica mais difícil pegar no sono quando estamos sozinhas?" Rebecca pergunta.

"Eu sinto." Sarocha simpatiza. "Você tem que parar de dormir aqui, daqui a pouco eu vou passar noites em claro quando precisar dormir sozinha." Ela fecha os olhos e sorri, se alegrando por escutar Rebecca dando risadas.

"Nós deveríamos fazer uma loucura." Rebecca propõe. "Tipo, fugir da cidade e achar uma casa no meio do nada. Aí poderíamos dormir juntas todas as noites."

"E você tem alguma ideia de como sobreviveríamos no meio do nada, sem dinheiro ou recursos?" Sarocha pergunta.

"Ai... é por isso que você é uma adolescente estranha. Tira a diversão de tudo!" Rebecca reclama.

"Eu sou realista, é bem diferente." Sarocha discorda.

"Ser realista demais é ruim. Você acaba levando tudo muito a sério." Rebecca diz, e parando para pensar nisso, Sarocha deve dizer que concorda com a sua namorada. "É preciso ser um pouco otimista de vez em quando."

"Tudo bem, então." Sarocha concorda. "Como seria uma vida no meio do nada?"

"Ah... seria ótima." Rebecca imagina. "Nós viveríamos apenas com duas peças de roupa, lavaríamos uma quando estivéssemos usando a outra. De manhã, comeríamos ovos frescos direto da galinha que criaríamos, e frutas também frescas, da nossa horta."

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