Quando uma adolescente percebe que o amor é mais complicado do que imaginava.

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Bebericando seu café quente em uma manhã de verão igualmente quente, Sra. Armstrong assiste Sarocha sair apressada de sua casa, abraçando duas blusas que ela reconhece como sendo as de Rebecca. Seus olhos se estreitam um pouco quando, quase na esquina, Sarocha para e olha para a casa, diretamente onde fica a janela do quarto de Rebecca. Ela sustenta o olhar por alguns segundos, depois abaixa a cabeça, pensa, e segue seu caminho.

Tomando o último gole de seu café, ela faz uma careta e treme um pouco a língua, uma mania sua que Rebecca pegou quando toma café, e deixa a xícara vazia dentro da pia, também vazia. Ela levanta o braço e checa as horas em seu relógio de pulso. Ainda tem 20 minutos antes de precisar sair para o trabalho. Depois de deixar a cozinha e encarar fixamente as escadas que levam ao segundo andar, Sra. Armstrong começa a subir os degraus, um por um, o salto de seu sapato ecoando em cada passo.

Ela empurra cautelosamente a porta do quarto da filha e se certifica de que a mesma está dormindo antes de pisar dentro do cômodo. Sra. Armstrong corre os olhos pelos desenhos na parede, a bagunça espalhada pelo chão e na cama, bem ao pé de Rebecca. Direcionando o olhar para a também caótica mesa de estudos da filha, que certamente não será muito usada durantes as longas férias de verão, Sra. Armstrong se aproxima dela e deixa a mão correr pelo caderno de desenhos da filha. Ela abre em uma página aleatória e depois começa a folheá-lo. Sarocha por toda a parte, em todos os ângulos, com todas as expressões. Ela viu alguns desenhos de paisagens, animais, alguns artistas que Rebecca gosta, mas Sarocha certamente apareceu mais.

Quando finalmente chega no último desenho, que mostra duas mãos femininas entrelaçadas, Sra. Armstrong fecha os olhos enquanto lentamente faz o mesmo com o caderno, e respira fundo, tendo maus pressentimentos.

Seus olhos caem novamente em Rebecca, que ainda dorme serenamente, e depois de observar por alguns segundos, ela se aproxima da cama. Lentamente, Sra. Armstrong inclina o corpo e inala o aroma que vem do lado vazio da cama da filha. O travesseiro está com cheiro de lavanda.

O estômago da mulher começa a embrulhar, e com muita dificuldade, ela engole toda a repulsa travada em sua garganta. Seus olhos se fecham novamente, pois ela não precisa ver mais nada para tirar conclusões, na verdade, não precisava nem ter cheirado o travesseiro de sua filha.

Na noite passada, quando voltou para casa, Sra. Armstrong foi ao quarto de Rebecca e se deparou com as duas dormindo juntas. Ela entende o jeito que Rebecca e Sarocha estavam se abraçando. É o mesmo jeito que ela abraçava Sr. Armstrong quando estava apaixonada por ele. Sra. Armstrong entende que sua filha está amando outra garota, e esta garota é Sarocha. A mesma Sarocha que era como uma filha para ela. Era, porque agora, nem mesmo Rebecca é sua filha.

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Sarocha desce do ônibus e caminha bem devagar, abraçando as blusas de Rebecca, que deixam-na com ainda mais calor, e fazem o suor escorrer mais intensamente pelo seu rosto. Sarocha odeia tudo deste momento.

O suor, estar andando sob o sol escaldante de verão, ter que carregar as blusas de Rebecca na mão, e o pior de tudo, ela se sente o ser mais burro do mundo por ter ido até a casa de Rebecca ontem e dormido ao lado dela. O plano era ela se sentir melhor depois de passar um tempo com Rebecca. Aparentemente, o tiro saiu pela culatra.

Sarocha dá graças aos céus quando finalmente consegue avistar sua casa que sofre ondulações visuais debaixo do calor. Quanto mais ela se aproxima, mais ela consegue ter certeza de que é a figura de seu pai logo na entrada da garagem, checando alguma coisa no carro.

"Ei, querida, senti sua falta ontem de noite." Sr. Chankimha comenta, dando uma rápida olhadela na direção da filha e depois voltando a atenção para o carro. "Vou ter que falar com Rebecca sobre essa mania dela de ficar roubando você da gente." Ele brinca.

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