Quando uma adolescente deseja estar vivendo apenas um pesadelo.

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Assim que abre os olhos, Rebecca fecha-os novamente. É como se alguém tivesse desferido inúmeras marteladas em sua cabeça, de tanto que ela lateja. Fazendo mais uma tentativa, Rebecca abre os olhos e boceja, logo em seguida passando os dedos por todo o rosto. Ela suspira lentamente ao deixar a mão cair de volta na cama.

Por alguns minutos, Rebecca fica olhando para o teto, relembrando a briga que teve com Sarocha. Na verdade, ela sabe que Sarocha não realmente entrou na briga, sua namorada nem soube como reagir direito. Perdida em seus pensamentos, Rebecca demora a perceber que a janela na parede não é a do seu quarto, e nem a do quarto de Sarocha.

Ela franze um pouco as sobrancelhas, contorce o corpo e quando vira a cabeça para o outro lado, leva um enorme susto. Imediatamente, Rebecca se senta na cama e arqueja. Olhando para baixo, ela se depara com seu corpo nu e leva a mão até a boca, olhos estatelados em função de seu choque. Totalmente confusa, ela deixa a mão descansar em cima da boca e encara a parede branca na frente da cama, se esforçando para saber como veio parar aqui, mas não se lembra muito bem.

Rebecca leva as duas mãos até a cabeça, deixa seus dedos penetrarem entre os fios de seus cabelos e depois desliza-os de volta para sua boca, ainda não acreditando. Ela olha para o lado mais uma vez, e enquanto fita Nat, que dorme profundamente ao seu lado, sente algo angustiante se remexer em seu estômago, não muito diferente do que ela sentiu da outra vez, porém, duas vezes mais intenso.

Ainda em um imenso estado de choque, Rebecca fecha os olhos e aperta-os antes de desferir um forte tapa na própria bochecha. O barulho do estalo faz Nat se revirar na cama. Jogando as cobertas para longe de seu corpo, Rebecca encara a parte inferior de seu corpo, totalmente nua, e engole o nó em sua garganta.

Isso não pode ser verdade, Rebecca diz para si mesma.

Isso é um sonho, isso é um sonho... isso é um sonho. Ela repete em sua cabeça enquanto veste as roupas.

Rebecca se levanta, de um jeito ainda desnorteado, ignora a imensa dor em sua cabeça e começa a rodar pelo quarto à procura de sua mochila. Quando se ajoelha no chão para olhar debaixo da cama, tem uma súbita vontade de vomitar ao se deparar com uma embalagem rasgada e vazia de camisinha.

Isso é um pesadelo, isso é um pesadelo... isso é um pesadelo. Rebecca encontra sua mochila atrás da porta, que está aberta, e deixa o quarto como se fosse um furacão.

Quando já está na saída da casa de Heidi, Rebecca bate as palmas das mãos contra seus bolsos e percebe que não está com seu celular. Ela começa a rodar pela casa, sendo cuidadosa para não derrubar nenhuma garrafa de vidro e acordar alguns dos adolescentes que estão esparramados pelo chão, cadeiras, poltronas e sofás.

Rebecca encontra seu celular na cozinha, bem em cima da pia, e puxa-o rapidamente. Ela desceu pensando em procurar por Nam, mas de tão caótica que sua mente está, seus pés deixam a casa antes mesmo dela se lembrar de sua amiga.

Jogada na calçada está a bicicleta de Rebecca. Ela caminha até a bicicleta, ergue-a pelo guidão e sobe nela. Alguns segundos são necessários para que Rebecca perceba que está parada no mesmo lugar, fitando o chão, ainda tentando raciocinar.

Ela se dá conta do celular em sua mão e ao desbloqueá-lo, seu coração se aperta. Inúmeras ligações perdidas e mensagens de Sarocha.

Freen:

(08:05 PM)

Rebecca, por que você não me atende?

Freen:

(09:10 PM)

Rebecca, você pode atender? Por favor.

Freen:

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