Quando duas adolescentes partilham da paixão que existe entre corações partidos.

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Sarocha sente o tecido de seu vestido se molhando a cada segundo que as roupas encharcadas de Rebecca permanecem pressionadas contra seu corpo. Ela coloca as duas mãos nos ombros da garota mais baixa e a afasta gentilmente, querendo falar alguma coisa, mas Rebecca é mais rápida.

"A minha melhor amiga nem olha mais na minha cara. Viver com a minha mãe se tornou um verdadeiro inferno. Eu estou assistindo Nam acabar com a própria vida sem saber como ajudá-la, e o pior de tudo, eu me sinto um lixo pelo que eu fiz com você, me mata pensar que eu sou como o meu pai, e me mata pensar que eu posso ter arruinado a melhor coisa da minha vida. Eu não entendo o que está acontecendo, eu só sei que você pode fazer tudo ficar melhor." Rebecca toma seu fôlego depois de colocar tudo para fora.

"Rebecca," Sarocha usa os dedos para afastar dos olhos de Rebecca algumas mechas molhadas de cabelo que grudaram no rosto dela. "Primeiro você vai respirar fundo e se acalmar." Ela observa Rebecca obedecer aos seus comandos, e os soluços dela se acalmam aos poucos sob a voz suave e toque delicado de Sarocha.

"Certo." Sarocha afasta a mão do rosto de Rebecca. "Agora você vai subir, tomar um banho, descer, e depois que você comer alguma coisa, eu vou te ouvir, tudo bem?" Sarocha mostra um sorriso de segurança quando Rebecca olha em seus olhos e depois assente.

Ela fica parada no mesmo lugar enquanto assiste Rebecca subir as escadas, e assim que a mesma some dentro do corredor, Sarocha segue para a cozinha. Ela prepara o que já estava planejando comer antes mesmo da chegada de Rebecca, e quando ainda está terminando, a mais baixa adentra a cozinha e se senta na frente do balcão em silêncio absoluto.

Enquanto come com toda a calma do mundo, Sarocha fica assustada ao ver como Rebecca devora a comida. Ela não sabe se come primeiro a carne, o arroz, os legumes, só vai colocando tudo dentro da boca até matar sua fome medonha. Sarocha se recosta na banqueta, toma um gole de água e fica observando com o rosto contorcido os irritantes, rápidos e irregulares movimentos de mastigação de Rebecca.

Incomodada pelo olhar fixo e sinistro que está recebendo, Rebecca pigarreia e deixa a comida de lado para tomar um gole de água. "E seus pais?"

"Meu pai está em Chiang Mai, e minha mãe logo aqui ao lado." Sarocha usa a cabeça para apontar para o lado direito. "Na nossa vizinha." Ela cruza os braços e permanece olhando para Rebecca enquanto a mesma assente e abaixa a cabeça.

Sarocha estreita um pouco os olhos ao reparar na blusa que Rebecca vestiu, que é dela mesma. Sarocha percebe que Rebecca descobriu que ela roubou algumas de suas roupas na última vez em que lhe viu. Mas Sarocha não se importa. "Você não é como o seu pai, Rebecca." Ela diz, se lembrando do que ouviu mais cedo, e recebe um longo silêncio como resposta.

"Ultimamente, eu tenho pensado tanto em como torço para não ser igual a ele que, no fundo, estou começando a acreditar que não tem como eu escapar disso..." Rebecca conta, cabeça ainda baixa e olhos revezando entre o pingente em seu peito e suas mãos. "Ser como ele."

"Você não é igual a ele... e também não é igual sua mãe." Sarocha reforça. "Só porque eles são seus pais não significa que você está fadada a ser a imagem exata deles, Rebecca."

"Minha mãe também está se mostrando ser tão cruel quanto o meu pai." Rebecca confessa.

"Como assim?" Sarocha franze as sobrancelhas.

"Nada..." Rebecca nega com a cabeça, porque não sabe exatamente como responder isso. "Eu só acho que... estou pensando demais sem ter ninguém com quem falar, e eu não gosto disso." Ela confessa.

"Eu sempre me senti assim." Sarocha simpatiza com a angústia de Rebecca.

"Mas você não precisa," Rebecca diz. "Tem os pais mais legais do mundo, e tem a mim."

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