Quando uma adolescente tenta ignorar seus sentimentos.

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Rebecca inala e depois exala lentamente. Ela não pode deixar de notar que o aroma de lavanda que vem de Sarocha e do quarto dela é o mesmo que emana em todo o restante da casa. Tirando os olhos de seu prato por um momento, ela percebe que os pais de Sarocha mastigam com extremo cuidado, como se estivessem evitando barulhos, e ela se lembra do que Sarocha lhe disse, sobre evitar a cafeteria da escola por causa dos barulhos de mastigação.

Será que é tão sério assim? Sem nem mesmo perceber, Rebecca começa a mastigar com mais cautela, se sentindo desconfortável quando Sarocha imediatamente olha na sua direção, ou melhor, na direção de sua boca, encarando seus lábios fixamente. É como se, em menos de um segundo, Sarocha fosse capaz de notar a mudança na frequência de movimentos de seu maxilar.

"Você está gostando da comida, Rebecca?" Sr. Chankimha tem um brilho esperançoso nos olhos enquanto pergunta, mas Rebecca decide que o melhor é apenas assentir com a cabeça.

"E você gostou da nossa casa?" É a vez de Sra. Chankimha matar sua curiosidade.

"Mãe..." É tudo o que Sarocha diz para repreender a mulher.

Rebecca ri silenciosamente, tomando um gole de sua água antes de responder. "Eu amei."

"Você nem imagina o tamanho da ansiedade de Sarocha antes de você chegar." Sra. Chankimha continua envergonhando a filha.

"Mãe!" Sarocha volta a repreendê-la, desta vez, aumentando o tom de voz.

"O que foi!?" Sra. Chankimha encolhe um pouco os ombros. "Se eu quisesse te envergonhar mesmo, contaria daquela vez que você chorou quando viu um palhaço."

"Ugh..." Desistindo de tudo, Sarocha abaixa a cabeça e leva as duas mãos até o rosto, querendo se enfiar em um buraco.

Do outro lado da mesa, Rebecca morde o lábio inferior com força, se contendo para não rir. Ela é uma pessoa que chora com facilidade, mas isso nunca aconteceu na presença de um palhaço. Talvez Sarocha sofra de alguma fobia. "Eu choro por qualquer coisa." Ela comenta, esperando que isso alivie um pouco do sofrimento de Sarocha.

"Mas essa aqui," Sra. Chankimha aponta para a filha. "Chora com palhaços, com cachorros, com baratas..." A mulher vai contando nos dedos enquanto fala. "Chora quando mexem nos livros dela, chorou quando virou mocinha –"

"Chega!" Sarocha interrompe, estando certa de que sua mãe passou dos limites. "Rebecca, vamos subir?"

"Hm... claro." Rebecca hesita em concordar, visto que não terminou de comer. "Estava ótimo. Boa noite." Ela se curva educadamente antes de deixar a mesa e correr atrás de Sarocha.

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Fitando o teto do quarto, Rebecca tenta vários métodos para pegar no sono, mas nada funciona. Ela olha para o lado, se deparando com a cama de Sarocha, onde a mesma está deitada, de costas, e não move nem um músculo. Rebecca se pergunta se sua amiga já está dormindo. "Sarocha..."

"Eu só me desesperei porque tinha sangue saindo de dentro de mim." A cabeça de Sarocha ainda está no que sua mãe disse mais cedo, durante o jantar.

Rebecca se assusta quando percebe que Sarocha realmente está acordada, ela apoia as mãos no colchão que está no chão do quarto e se senta, observando a mais baixa se virar de frente para ela.

"Eu só queria saber se você ainda estava acordada." Rebecca sussurra.

"Oh..." Sarocha se sente estúpida. Se o quarto não estivesse escuro, Rebecca conseguiria testemunhar as bochechas dela ficando coradas. "Eu estou." Ela diz o óbvio.

"Eu... não consigo dormir no escuro." Rebecca tem vergonha de admitir, mas é preciso para que ela consiga uma solução para o seu problema.

"Eu não consigo dormir com as luzes acesas." Sarocha comenta, nem se importando muito com o que Rebecca disse, pois, para ela, não é motivo de vergonha. Ela se senta na cama, coçando os olhos enquanto pensa em alguma solução.

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