Quando uma adolescente descobre que esquecer é difícil.

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Rebecca acredita que nunca se abriu tanto com Tara como fez dias atrás. Ela falou de tudo, até mais do que pretendia, e também chorou o que precisava para não se sufocar. Sua melhor amiga escutou tudo, lhe acalmou de um jeito que só ela consegue fazer e ofereceu ajuda, qualquer que fosse necessária. Rebecca decidiu ficar na casa de Sarocha até resolver as coisas. Ela sabe que pode voltar para casa quando quiser, mas teme o que pode acontecer se o fizer.

Viver com Sarocha está se mostrando ser mais complexo do que Rebecca imaginou. Desde a noite em que recebeu uma ligação de seu pai, Rebecca tem notado certa distância por parte de sua namorada, e ela sabe por quê. Rebecca não procurou Sarocha quando precisou de alguém, ela procurou Tara. Mas foi preciso, pois ela precisava falar também de Sarocha, entre outras coisas.

Os momentos de isolamento de Sarocha são ainda mais sentidos por Rebecca quando elas estão dentro da mesma casa. Se reconciliar com sua namorada está sendo como pisar em ovos, principalmente porque os pais da última estão sempre por perto.

Deitada na cama, segurando a borda do edredom e fitando o teto escuro, Rebecca não consegue dormir por vários motivos. Está incomodada pelo escuro, Sarocha está ao seu lado, mas é como se nem estivesse ali, e seus pensamentos estão impedindo o descanso de sua consciência.

"Sarocha." Rebecca vira o rosto, encara as costas de sua namorada, que está deitada de lado, e sussurra o nome dela, mas nada aconteceu. Sarocha não move nem um músculo. "Eu consigo ver seus cílios se movendo quando você pisca, eu sei que você está acordada."

"Eu não estou tentando fingir que estou dormindo." Sarocha também sussurra.

"Então você pode se virar?" Rebecca se deita de lado, com as mãos por baixo da cabeça, e assiste Sarocha suspirar densamente antes de se virar para que elas fiquem frente a frente.

"O que foi?" Sarocha pergunta depois delas ficarem se olhando por um tempo.

"Nada, eu só... não consigo dormir." Rebecca responde.

"E me manter acordada vai te ajudar?" Sarocha realmente estava prestes a pegar no sono quando Rebecca lhe chamou.

"Não..." Rebecca fecha os olhos e respira fundo, notando que subiu um pouco o tom de voz. "Olha, eu sei que você está com raiva por eu não ter me aberto com você –"

"Eu não estou com raiva." Sarocha revela ao interromper sua namorada.

"Não?" Rebecca franze o cenho para enfatizar sua confusão.

"Não." Sarocha reforça. Ela não tem raiva de sua namorada, até porque seria hipocrisia de sua parte exigir que Rebecca se abrisse completamente, quando ela está sempre se fechando. "Eu só... estou te dando espaço, porque eu achei que fosse isso que você queria."

"Isso soa mais como você, e não eu." Rebecca abre um sorriso que Sarocha mal consegue ver no escuro.

"É..." Sarocha também sorri ao concordar. "Mas eu pensei que talvez um tempo com seus pensamentos fosse te ajudar."

"Ah... não mesmo." Rebecca ri de um jeito meio embaraçado. "Pode funcionar com você, mas no meu caso, só piora tudo."

"Desculpa..." Sarocha lamenta por ter lido a situação de um jeito errado.

"Não... você estava tentando ajudar." Sentindo que o conflito foi resolvido, Rebecca acha que é seguro se arrastar para perto de Sarocha e achar a mão dela debaixo do edredom. Ela olha para sua namorada, que lhe encara de volta enquanto entrelaça os dedos com os seus e puxa a mão para cima para poder aproximar os dedos de seu rosto e inalar. "Você está decepcionada porque agora que eu estou aqui não tenho mais o meu cheiro de sempre?"

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