Quando uma adolescente tira um último peso das costas.

158 44 23
                                    

Sarocha percorre o rosto de Rebecca com os olhos enquanto sente a respiração extremamente difícil e quente dela atingir seu rosto. Ela deixa seus dedos massagearem o couro cabeludo de Rebecca, na região bem acima da nuca, e utiliza a outra mão para, casualmente, sentir a temperatura da pele de sua namorada. Rebecca ainda está pelando.

"Sarocha," De olhos totalmente fechados, Rebecca chama por sua namorada com uma voz um tanto fraca.

"Hm..." Sarocha murmura apenas para indicar que está ouvindo.

"Eu sinto muito por ter estragado nosso aniversário." Rebecca lamenta.

"Rebecca, você pegou um resfriado, não foi culpa sua. Além disso, nós podemos comemorar no próximo fim de semana." Sarocha tranquiliza sua namorada.

"Certo." Rebecca diz, e Sarocha fixa os olhos no sorriso seco que ela abre. "Eu fico doente logo no fim de semana do nosso aniversário e do nascimento da minha sobrinha." Rebecca ri do próprio azar.

"Seu irmão disse que iria gravar." Sarocha diz.

"Eu sei," Rebecca assente, os olhos ainda fechados, porque eles doem quando expostos à claridade. "Mas eu queria estar lá."

"Você sabe que provavelmente ficaria só esperando, não é?" Sarocha diz. "Eu não acho que você seria autorizada a ficar na sala de parto com esse resfriado."

"Não?" As sobrancelhas de Rebecca se franzem. "Ah, então tudo bem." Ela abre outro fraco sorriso, e Sarocha faz o mesmo.

Rebecca aproxima a mão da boca para tossir, e é quando Sarocha se arrasta para ainda mais perto, sua perna encontrando a meia de sua namorada. Ela acha impressionante como, mesmo dentro da meia e debaixo das cobertas, o pé de Rebecca ainda está frio, bem diferente da mão na sua cintura, que está extremamente quente.

"Você não deveria ficar tão perto, vai acabar pegando meu resfriado." Rebecca finalmente percebe a extrema proximidade.

"Não, eu não vou." Sarocha nega.

"Sim, você vai."

"Não."

"Você é tão teimosa."

"Você é teimosa."

"Ah... sério." Rebecca exala em pura frustração e depois ri de leve.

"Só fique quieta e tente dormir para você acordar melhor." Sarocha comanda, puxando Rebecca para mais perto e abraçando-a mais forte.

"Sim, senhora." Rebecca aconchega o rosto no pescoço de sua namorada e abre um sorriso estúpido. Ela pode estar doente, mas pelo menos isso significa que Sarocha não vai deixar seu lado nem sequer por um minuto. Rebecca deposita um pequeno e tímido beijo no pescoço de sua namorada e corre seus dedos lentamente pelo braço dela. Seus olhos permanecem completamente fechados, mas sua atenção é cada vez mais desperta pelos arrepios que os dedos de Sarocha causam em sua pele. Rebecca acha impressionante como até mesmo o mais leve roçar de unhas pode lhe causar uma sensação tão boa. "Sabe, nem mesmo meus pais faziam carinho tão bem quanto você."

O comentário de Rebecca pega Sarocha desprevenida. Ela olha para baixo e observa os olhos fechados de sua namorada, pensando se deve finalmente entrar no assunto que quer faz muito tempo: os pais. Pelo que Rebecca acabou de dizer, Sarocha sente que o momento é propício. "Hum..." Sarocha escolhe apenas murmurar, emudecendo por alguns segundos para pensar em um jeito bem sutil de entrar no assunto que deseja. "Talvez porque eles não faziam tanto quanto eu..."

"Não mesmo." Rebecca ri amargamente ao concordar.

"Não?" Sarocha incentiva Rebecca a falar mais.

"A única memória que eu tenho de um toque carinhoso do meu pai é de quando eu era criança e, nas noites do meu aniversário, ele me fazia cafuné até eu pegar no sono. Sempre foi meu tipo predileto de carinho, mas eu só ganhava uma vez por ano, então deve ser por isso que eu gosto tanto quando você faz." Rebecca conta. "Eu me lembro que eu ficava lutando contra o sono para aproveitar o carinho dele por mais tempo... patético."

Aquilo que se encontra quando não se está procurando.Onde histórias criam vida. Descubra agora