Quando uma adolescente sente que vai ficar louca sem ela.

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Nota inicial:

É meio divertido ver a reação de vocês pelo X, e agora pelo bluesky. Sei que muitos não gostam de histórias que envolvem traição, mas continuem por aqui que não vão se arrepender, prometo! Boa leitura. :)

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Rebecca não sabe exatamente há quanto tempo está perambulando à beira do rio Chao Phray. Não sabe exatamente por quê. Talvez, bem nas profundezas de sua ingenuidade, esteja esperando ver Sarocha a qualquer minuto, lhe alcançando para caminhar ao seu lado e segurar seu mindinho quando ninguém estiver por perto.

Em seu estado de sanidade, sabe que isso não vai acontecer. Mas ela continua caminhando sem rumo exato. Qualquer coisa é melhor do que voltar para casa. Sua mãe está lhe tratando muito mal ultimamente, e Rebecca não sabe dizer o que fez de errado. Tudo estava bem até alguns dias atrás.

Ela decidiu deixar o celular em casa, não sair com nada além da roupa que tem no corpo. Quer evitar as ligações raivosas de sua mãe e os impulsos de ficar sempre ligando para Sarocha. Mais uma coisa que Rebecca não entende. No último fim de semana, as duas passaram quase um sábado inteiro juntas, mas agora, quase uma semana depois, Rebecca ainda não entende por que Sarocha decidiu fingir que aquilo não aconteceu.

Rebecca não entende. É a frase perfeita para definir a atual situação da adolescente. Não entende por que sua mãe está lhe tratando como lixo. Não entende como seu pai pode ser um homem tão desprezível. Não entende por que os pais de Nam não enxergam que a filha precisa de ajuda o mais rápido possível. Não entende por que Tara se afastou. Não entende por que machucou Sarocha, e muito menos a dor que ela deve estar sentindo.

Rebecca reflete sobre sua falta de respostas. Sabe que pensar sobre seus problemas não lhe dará nenhuma resolução, mas pelo menos tenta separá-los e achar um ponto, um momento em que tudo começou a dar errado.

Ela pensa por um longo tempo e decide voltar para casa apenas quando seu estômago está implorando por comida. Rebecca amaldiçoa sua estúpida cabeça por ter lhe feito deixar o dinheiro em casa. Sua vontade era comer na rua e voltar apenas tarde da noite, quando sua mãe já estivesse em um profundo sono.

Assim que abre a porta da frente, ela decide olhar somente para onde quer ir, para, caso sua mãe a veja, não ter a chance de cuspir ofensas. Rebecca vai direto ao banheiro, arranca fora as roupas que estão colando no corpo e esfria a cabeça debaixo da água igualmente fria.

Ainda usando uma toalha para secar o cabelo, Rebecca caminha até seu quarto e usa o pé para empurrar a porta e fechá-la. Ela imediatamente vai até sua mesa e desbloqueia o celular na esperança de ver alguma mensagem de Sarocha. Não há nada, como sempre.

Rebecca decide responder ao outras mensagens que recebeu. Suas amigas de dança querem marcar um encontro. Ela cancela. Heidi lhe convidou para uma festa. Ela cancela. Seu irmão está a caminho da cidade e quer vê-la. Ela cancela. Rebecca não quer se encontrar com ninguém. Ela só queria poder ligar para Sarocha e conversar um pouco com ela até sentir que sua mente não vai mais lhe levar à loucura. Mas Sarocha não quer o mesmo.

Rebecca decide tentar outras opções. Ela liga para o pai, Tara, Noey, Nam, até mesmo para Heidi, que deve estar ocupada com a festa. Ninguém atende. Ela tenta Sarocha por último. Nada. Rebecca tenta mais uma vez, mas nem chama. Sarocha deve ter desligado o celular de propósito.

Rebecca estala a língua e joga o celular em cima da cama. Ela fica irritada quando sente seus olhos ardendo, então pressiona a toalha que usava contra o rosto, bem forte, e grunhe até sentir que as lágrimas se assustaram e foram embora. Ela não quer mais chorar. Antes até adiantava alguma coisa, era uma forma de alívio, agora já não tem mais efeito algum.

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