#6 - despedidas

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Eu subo a pequena escadaria da Igreja, falar na frente de várias pessoas nunca foi algo prazeroso pra mim, hoje muito menos.

Mas a sensação de ansiedade e aquele medo de errar as palavras me abandona assim que ajeito a folha amassada e com a minha caligrafia meio torta diante de mim, de repente me sinto pronta.

De repente faz sentido ter de dizer algumas palavras, afinal, nunca nos separamos. E eu não vou deixá-la sozinha agora.

Então se me sinto mais aliviada por estar aqui diante dessas pessoas, gosto de pensar que é por que ela também está aqui me incentivando a não ter medo.

E assim posso ter certeza de que ela também não me abandonou completamente.

Limpo a garganta, verifico discretamente se a minha bombinha de corticoide ainda está no meu bolso. Pois tenho o receio de precisar dela.

E só assim, crio a atitude de começar a falar para todas aquelas pessoas, o tanto que sinto sua falta;

𝑆𝑜́𝑐𝑟𝑎𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑖𝑠𝑠𝑒 𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑒𝑔𝑢𝑖𝑟𝑚𝑜𝑠 𝑎 𝑎𝑚𝑖𝑧𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑢𝑚𝑎 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎 𝑑𝑖𝑔𝑛𝑎 𝑒́ 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑛𝑣𝑜𝑙𝑣𝑒𝑟𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑛𝑜́𝑠 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜𝑠 𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑟𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑛𝑎𝑞𝑢𝑒𝑙𝑎 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎.

𝑀𝑎𝑠 𝑒𝑢 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑓𝑢𝑖 𝑏𝑜𝑎 𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑟 𝑑𝑜𝑐𝑒 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂, 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑏𝑟𝑖 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑓𝑎𝑧𝑒𝑟 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡𝑒𝑟 𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑓𝑖𝑎𝑛𝑐̧𝑎 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑒𝑙𝑎 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑡𝑒𝑣𝑒, 𝑚𝑎𝑠 𝑒𝑢 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑎 𝑎𝑑𝑚𝑖𝑟𝑒𝑖, 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠 𝑜𝑠 𝑑𝑖𝑎𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑑𝑒 𝑞𝑢𝑒 𝑚𝑒 𝑒𝑛𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜.

𝐸 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑏𝑟𝑖, 𝑡𝑎𝑟𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑚𝑎𝑖𝑠, 𝑞𝑢𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑖𝑠𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑔𝑜𝑠𝑡𝑎𝑟𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑟 𝑑𝑖𝑡𝑜 𝑎 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑒𝑢 𝑠𝑜́ 𝑓𝑢𝑖 𝑐𝑎𝑝𝑎𝑧 𝑑𝑒 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑗𝑎́ 𝑛𝑎̃𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑣𝑎 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑎𝑞𝑢𝑖, 𝑠𝑜𝑢 𝑖𝑛𝑓𝑒𝑙𝑖𝑧 𝑝𝑜𝑟 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑡𝑒𝑟 𝑙ℎ𝑒 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑓𝑒𝑧 𝑚𝑒𝑢 𝑐𝑜𝑟𝑎𝑐̧𝑎̃𝑜 𝑠𝑒 𝑠𝑒𝑛𝑡𝑖𝑟 𝑝𝑙𝑒𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑓𝑒𝑙𝑖𝑧.

𝐸 𝑜 𝑚𝑒𝑙ℎ𝑜𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑝𝑜𝑠𝑠𝑜 𝑡𝑒𝑟, 𝑒́ 𝑠𝑎𝑏𝑒𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑡𝑒𝑟𝑒𝑖 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑔𝑜 𝑢𝑚𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑡𝑒 𝑠𝑢𝑎, 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑑𝑎𝑐̧𝑜 𝑑𝑎 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑎𝑙𝑚𝑎, 𝑝𝑜𝑟𝑒́𝑚, 𝑜 𝑝𝑖𝑜𝑟 𝑒́ 𝑠𝑎𝑏𝑒𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑢 𝑛𝑢𝑛𝑐𝑎 𝑡𝑒𝑟𝑒𝑖 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑝𝑜𝑟 𝑝𝑒𝑟𝑡𝑜 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑎 𝑣𝑒𝑧.

𝑀𝑎𝑠 𝑠𝑎𝑖𝑏𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑠𝑒𝑟𝑒𝑖 𝑒𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑔𝑟𝑎𝑡𝑎 𝑎 𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑓𝑒𝑧 𝑝𝑜𝑟 𝑚𝑖𝑚, 𝑎𝑑𝑒𝑢𝑠...

𝐶𝑙𝑎𝑖𝑟𝑒.

*dois dias antes, de volta a UTI*

Foi infernal, aquilo tudo.

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