Nick

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Já se passaram alguns dias e eu estava mais próxima do que nunca. A cena da senhora que morreu atropelada ficou marcada na minha mente - acho difícil ela sair de lá por muito tempo - mas tento não pensar naquele "show" de horrores. Com o tempo que passei com David, pude acompanhar seu tratamento e perceber os sinais do câncer chegar no seu corpo. Mechas e mechas pelo chão de onde ele passava, algumas fraquezas momentâneas e cansaço.

- Me sinto cada vez mais cansado a cada dia que se passa, sabe? - falou enquanto fazia a quimioterapia com Weber, um enfermeiro e amigo de mamãe. 

- Não sei! Se é que me entende - ri tentando afastar aquele clima dali.

Weber sai da sala, eu me levanto da poltrona e me sento na cama de David.

- Faz um tempo - David começou - que eu tenho saído escondido durante a noite da instituição.

- Como? - assustei.

- Nessas saídas, eu conheci um homem. Ele sabia que eu tinha leucemia e me mandou um papo estranho. Ele falou que tinha um modo de acabar com a leucemia do meu corpo. Eu...eu estou na dúvida...

- Como? - interrompi - Você acha mesmo que esse homem que você mal conhece vai acabar mesmo com o câncer do seu corpo?

- Eu também não sei. O que você acha? - perguntou.

- Eu não sei de nada. Mas, o que você decidir, eu apoio! - concordei.

Esperei ele dormir enquanto eu acariciava seu rosto.

Na noite seguinte eu e David saímos juntos escondidos rumo ao homem que prometia a "cura milagrosa" para a leucemia. Ele me levou à alguns quarterões longe de casa até o local onde estava o homem. O lugar parecia limpo e normal para o que eu imaginava. David bateu na porta e alguns segundos depois um homem alto e curvado apareceu.

O horror tomou conta de mim novamente - minhas pernas perderam a sensibilidade, minha pele se transformou um água e tudo o que eu pude fazer foi me apoiar em David.

Aquele homem, que causou tanto mal, que causou a morte daquela senhora. Ele, era ele! Ele que matou ela.

- O quê? Como? David você sabia? - dei dois passos pra trás e tropecei num paralelepípedo que cobria a rua.

- Calma Constance, calma. Ele me explicou tudo, ele não fez de propósito... - o homem interrompeu David e começou a falar:

- Eu não queria causar a morte daquela mulher, garota! Eu estava com uma nuvem de pensamentos negativos e estresse na minha cabeça. Quando eu vi o que houve, tudo o que pude fazer foi frear. Mas, não adiantou.

David segurou na minha mão suada e me puxou para seu corpo. Segurei na sua cintura e fiquei atrás dele. David era 15 centímetros mais alto que eu mesmo sendo mais novo.

Entramos na casa dele e nos sentamos logo depois que ele convidou.

- Então, Constance, me chamo Nick, acho que seu namorado já falou de mim pra você... - olhei pra David e ele olhou pra mim, mas não falamos nada, apenas aceitamos com sorrisos.

- Então David, você realmente aceita fazer isso? Pode lhe custar sua vida! - gelei por um momento ao olhar para a frieza no rosto de Nick.


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