Meus poderes

21 3 0
                                    

Havia algum tempo que eu não tinha pesadelos com a mulher careca. As coisas iam muito bem depois que eu e David nos aproximamos mais. Mas como nem tudo é como flores, eu tive outro pesadelo.

***

- Você se acha muito espera não é? - dizia aquela mesma voz que me assombrava à semanas atrás - Você nunca vai dar conta de se desdobrar pra salvar quem ama. Vai ter de escolher quem salvar, afinal, nem tudo é como flores. Alguém tem que morrer.
Eu ouvia a tudo de olhos fechados, mas quando os abri vi tudo ao contrário. Estava de cabeça para baixo, e abaixo de mim estava simplesmente o mar, azul e reluzente. Olho para a mulher com o seu longo vestido - dessa vez além dela estar segurando mamãe pela gola, apontava uma arma para David que estava caído no chão com muito sangue em sua roupa e agora, sem cabelo também.
- Que diabos você fez com eles? Me tora daqui! - gritava desesperada, mas estava atada tanto nas mãos quanto nos pés.
- Eu avisei, não há como salvar a todos, afinal você não tem nada de heroína, nem sabe usar suas habilidades - ela ri de maneira insuportável - Então, quem você não quer matar? Um dos dois vai ter que matar.
- Por favor... - acompanho uma lágrima chocar contra as rochas lá embaixo.
- Já que não escolheu ninguém, que seja os dois... - ela ri, segura David pelo braço e arremessa os dois ao mar.
Estava paralisada enquanto assistia o mar se tornar vermelho sem poder fazer nada.

***

Acordo encharcada de suor. Me recupero e levanto em busca de água. Vou até à pequena cozinha.
Coloco água num copo de vidro enquanto percebo a mãe de Nick atrás de mim sem ela dizer nada:
- Sem sono? - pergunto.
- Como sabe que estou aqui? - ela retorna outra pergunta surpresa.
- Eu não sabia, só senti que estava. - me viro para olhá-la.
- Sabe, você lembra a minha neta. Ela era uma jovem linda e cheia de vida que nem você, mas sinto que algo lhe incomoda... - viro para colocar a garrafa de água na geladeira - Tá tudo bem?
- Sim, só estou com saudades dos meus pais. Não queria deixar minha vida dessa forma. Eu tinha um futuro pela frente...
- Entendo. Antes de descobrir que estava grávida, eu e meu marido éramos muito unidos, até que um dia ele partiu e nunca mais voltou. Tive que abandonar a faculdade e cuidar de Nick só. Eu até pensei em aborto, mas eu era incapaz de matar um bebê que eu mal sabia o sexo. Hoje, eu tenho o melhor filho que uma mãe poderia ter. Mas a vida não é justa e lhe tirou seu os únicos amores de sua vida. Ele sofreu muito, queria dizer que ele superou isso tudo, mas ele não superou, só eu e Deus sabemos o que se passa no seu olhar. E pode crer, eu sei mesmo! - ela desabafa tranquilamente.
- Depois de tudo, você nunca pensou em desistir? Nunca se sentiu culpada dentro de si por não conseguir fazer algo que queria muito? Eu sinto como se nunca tivesse presente nas vezes que pude, de alguma forma, salvar a vida de alguém. Me sinto inútil.
- Pensar em desistir todos pensamos. Mas Constance, inútil ninguém é. Por mais sem importância seja uma pessoa, ela é útil para alguma coisa. Eu sei que você tem um poder, todos temos. Eu descobri o meu quando vi como era cuidar de um filho sozinho. Hoje eu posso dizer que meu poder é a paciência. Você vai descobrir o seu poder - ela me acalmou muito depois daquilo.
- Eu já sei qual é meu poder, só não sei como usá-lo. - falo.
- Você vai descobrir! - ela me apoia.
- Acho que já estou começando a descobrir...

Fogo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora