Feitiço

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Naquela noite eu dormi pensativa. Carlos estava me deixando cada vez mais confusa.
Eu não sabia o que ele escondia e isso me deixava intrigada.

***

- O dia está próximo! O grande dia... - eu conhecia aquela voz.
Não, não era a mulher careca, e sim Gerard. Há um bom tempo eu não o vejo, nem por sonhos.
- Estou ansioso, querida. Você será quem realmente eu quero que seja - ele dizia. Eu não o via, mas ouvia claramente o murmúrio de mentiras.

***

Acordo.
Um pingo de suor cai em meu olho. Só em ouvir sua voz eu estremeço, mesmo ele longe de mim, ou não.
Levanto em busca da minha toalha. É uma boa hora pra uma ducha.
Enquanto a água do chuveiro escorria pelo meu corpo, eu pensava em meus pais. Parecia que todas as vezes em que eu penso neles, eles estão em perigo.
A água fria colide com a fervura da minha cabeça.
Me enxugo e me visto. Havia escolhido uma calça jeans bastante antiga e provavelmente encolhida que eu guardava em algum lugar do meu guarda roupa, o guarda roupa de casa.
A blusa era a mais folgada que eu tinha: caída nos braços e mostrando meus ombros.
Depois de me vestir vou para a mesa e sento na cadeira ao lado de David. Carmen parecia bem e estava sentada no seu lugar de costume:
- Bom dia Constance. Soube que você e David foram para a floresta buscar ervas. Muito bravo da sua parte. David contou o incidente com o lobo - ela falava antes de eu atacar o pão.
- Não foi nada, é o mínimo que podemos fazer. Você acordou bem? - pergunto preocupada esperando David me passar a faca para cortar o pão.
- Sim. Só estou aqui por causa da atenção e coragem de vocês. Sou muito grata pelo que fizeram - ela sorri graciosamente.
- Não foi nada dona Carmen! - David fala antes de voltar seu olhar para mim - Tá tudo bem? - ele pergunta.
- Tive meio que um sonho em que eu só ouvia vozes - falo enquanto passo pasta de amendoim no meu pão.
- Quem você ouviu? Seus pais...? - ele pergunta.
- Não. Ouvi Gerard. Ele dizia que o grande dia está próximo.
David se cala e me beija. Aquilo parou por alguns segundos o que me machucava interiormente.
- Não gosto de te ver assim. Espero que tudo fique bem, com todos nós - ainda sinto seus lábios moverem contra os meus.
- Também espero - me afasto bruscamente ao ouvir alguém batendo na porta.
- Isso é hora! - Carmen para de comer.
- Acho que sei quem é - me levanto e ando em direção à porta.
- Preciso falar com você urgentemente! - Carlos estava apavorado.
Olho para a mesa e vejo todos os olhares voltados para mim.
- Não vou demorar - falo.
Saio e fecho a porta.
Nos afastamos um pouco da casa. Olho para ela e vejo Nick e David nos observando pela janela. Melhor assim. Não sei mais quem é o verdadeiro Carlos.
- O que houve? - pergunto enquanto ando.
- Minha esposa, ela está descontrolada. Hoje me ameaçou com uma faca. Não sei mais o que fazer - ele declara nervoso.
- Como posso ajudar se nem conheço-a. Sabe se lá se ela existe... - olho fixamente para ele.
- Você acha que estou mentindo pra você? Constance eu nunca me abri pra alguém como me abri para você. Seus amigos te enfeitiçaram contra mim, é isso... - interrompo.
- Eles não são do tipo que enfeitiçam, já você... não sei mais de nada! - paro e fico de frente pra ele.
- Você tem um gênio forte - ele aproxima de mim.
- O que está fazendo? - olho nos seus olhos.
- Shhhh... não resista. Você sabe o que você quer - ele me toca.
- Eu não... - tento falar.
- Você pode! - ele avança e me beija. Beija até eu não aguentar mais.
- O que foi que você fez? - afasto tentando me recuperar.
- Vou te levar até minha esposa - ele vai na frente.
Carlos me guia até onde Nick e David não conseguem mais me ver, por entre as árvores - Tem certeza que é pra cá? - pergunto para Carlos que agora está atrás de mim.
- Claro, é logo ali - ele fala de um jeito diferente.
Não vejo mais nada. Só sinto uma forte pancada em minha nuca.

Fogo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora