Eu sou a culpada

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Nos breves instantes em que li alguma coisa, vi uma frase que nunca se apagou em minha mente: "A culpa é algo bom. Te faz pensar que não é o único que erra, mas lhe mostra que seu erro pode ser o mais estúpido e perigoso de todos. A questão não é errar e se culpar, mas sim errar e se perdoar". 

Ser controlada por alguém que deseja meu mal é algo absurdo quando eu penso que posso fazer algo que não lembre depois. E após tanto temer, simplesmente aconteceu. A culpa bateu em minha porta como a morte bate quando deve levar alguém para a escuridão. Se for assim, acho que já morri. A escuridão habita dentro de mim há algum tempo.

Minha cabeça virou um buraco negro. A única frase que se passa nela é: Eu sou a culpada!

***

Eu mais parecia uma formiguinha dentro daquela máquina gigante. Fios e mais fios são implantados em mim. Estou cansada, trêmula. Pareciam que todas as minhas forças haviam se perdido no Odior. Eu não queria, mas era obrigada a pensar que os últimos rostos nos quais eu veria eram de meus pais.

- Aguente firme, sua vida está prestes a mudar... - Gerard fala antes de fechar a porta do Odior. 

Sua frase se repetia na minha cabeça. E repetia, repetia, repetia...

Aguente firme, sua vida está prestes a mudar...

Aguente firme, sua vida está prestes a mudar...

Aguente firme, sua vida está prestes a mudar...

Não sei se era um sonho, mas estava pegando fogo, literalmente. A máquina mais parecia uma viagem no tempo, pois eu via vários e vários lugares até aqui:

Minha casa, a praça com a grande árvore em que eu ficava com David, o instituto, a casa de Susan, o lago, a casa de Carmen com a pequena chaminé...

Minha última memória foi a frase de minha mãe, dizendo que independentemente do que eu havia me transformado, eu ainda era Constance, não uma heroína, mas Constance Silverless. Essa não era mais eu.

***

- Como se sente? - ouço a voz do meu senhor - parece estar bem. Vamos querida, o seu senhor não gosta de atrasos.

- Sim meu senhor - respondo ao meu senhor.

Vejo a luz. Quarto. Porta. Carlos. Sala. Soldados. Força. Mãe. Pai. Luz. Fora de casa. Pessoas. Atenção. Olhares.

- Quero pedir que parem o que estão fazendo para presenciar o mais frio e doloroso acontecimento em que algum dia vocês observaram. A prova de fogo. Está é Constance, moradora deste lugar há anos. Hoje ela está um pouco desorientada, mas com sã consciência irá executar seus tão queridos e amados pais. Constance me suplicou que permitisse sua ação. Como eu poderia negar um pedido de uma menina culpada e cheia de rancor? Cabe a mim como misericordioso permitir isso à ela. Depois de todo o mal que ela me causou, me presenteando com uma horrenda cicatriz, eu com coração bondoso ofereço este presente à ela. Constance, aqui está a arma, faça o que precisa fazer.

Pego a arma já preparada. Levanto. Miro.

- Filha... volte para nós... Eu sei que está aí em algum lugar, por favor! - Ouço a voz de minha mãe. Ouço a voz... Ouço a voz de... MINHA MÃE.

Volto ao meu estado de consciência e vejo minha mãe ajoelhada na minha frente, implorando para que eu não a mate.

- Por favor!!! - ela grita.

Eu grito. Estou lutando para não fazer. Estou sangrando. Estou ardendo. Eu simplesmente luto. Eu não consigo. Eu tenho que fazer.

Pressiono o gatilho. Barulho. Sangue. Mãe está morta. Lágrima quente no meu rosto. Olhares. Viro-me. Pai. Ajoelhado. Lágrimas.

- Constance... eu te amo... - Ouço...

PAI.

Não entendo como me aguento em pé depois de ter matado minha mãe. Eu tentei lutar uma vez. Como conseguiria lutar de novo para não matar meu pai? Eu não consigo. Eu tenho que fazer.

Pressiono o gatilho. Barulho. Sangue. Pai está morto. Lágrima quente no meu rosto. Olhares.

- Não se assustem meu povo, está é a nova Constance, a verdadeira. Isso é o bastante. Bom fim de dia para vocês!

Esta sou eu, prazer, Constance. Hoje é oficialmente o dia em que eu me torno parte da escuridão.

Fogo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora