Fogo e Sangue

Odior

Não sabia o que estava acontecendo, mas tudo à minha volta estava tremendo. Eu estava fraca. Mal conseguia abrir os olhos. Quando consegui abrir, vejo uma imagem embaçada à minha frente. Um homem sentado ao meu lado.
Era Carlos. Ele segurava sua arma.
- A mocinha acordou? - pergunta.
- Onde eu estou? O que vocês fizeram comigo? - não consigo me mexer.
- Estamos num carro, indo rumo à cidade - ele fala.
Com muito esforço eu consigo sentar.
- Porque fez isso? Qual seu objetivo com tudo isso...? - antes de terminar ele me interrompe.
- Eu não queria fazer isso, te juro, mas fui obrigado. Eu estava gostando de você, mas não posso levar isso para o lado pessoal - Carlos olha para sua arma e depois para as botas sujas que usava.
- Você atirou em mim...de propósito? - olho em seus olhos.
- Sim - ele me olha e depois foge o olhar para as botas - Quando te vi naquele campo, eu... eu mal conseguia segurar a arma. Você estava linda, como naqueles filmes. Foi duro pra mim, mas... - o barulho do carro para e isso interrompe Carlos.
As portas à nossa frente se abrem. Estávamos em um tipo de van. Meu olho arde ao encontrar com o sol.
- Bem vinda de volta, Constance - era ele.
Gerard. Estava usando uma máscara laranja que cobria metade do rosto.
- Eu sei que você deve estar se imaginando porque laranja. Poderia ser vermelho, combina com sangue. Poderia ser preto, me lembra trevas, mas eu queria algo diferente. Todo vilão que se preze tem uma marca registrada. Foi aí que me veio a mente o alaranjado, combina com seu cabelo - ele ri doentiamente - Mas não é porque virei um 'vilão' que estou usando essa máscara, é porque você fez isso, lembra? Você que deixou essa cicatriz medonha debaixo dessa máscara. Mas pra você ver como tenho um coração bom, não vou te machucar por isso. Vou te machucar porque quero seu bem e consequentemente o meu bem também.
- Pode ter certeza que vou deixar outra cicatriz no outro lado - eu já estava ficando quente.
- Esse seu instinto de vingança me deixa animado. Temos que ir logo querida, preciso te mostrar a alegria do povo em lhe ver novamente - ele pega meu braço com força.
Povo? Que diabos ele tá falando?
- Aqui está o desgosto da nossa vila! É ela, Constance está de volta! - Gerard grita enquanto segura meu braço de um lado e Carlos de outro.
A vila estava do mesmo jeito, mas as pessoas não. Eu podia ver um olhar de indignação em cada um ali. Eles pareciam me odiar a cada passo que eu dava.
- Olha que recepção querida, nosso povo te ama! - Gerard sem dúvida era doente - Vamos vamos! Seus pais estão lhe aguardando ansiosamente.
Meus pais? Eu não acredito.
Um dos "capangas" de Gerard abre a porta e eu vejo. Vejo quem eu sonho quase todas as noites no meio da aflição. Meus pais.
Minha mãe me olha sem conseguir conter as lágrimas, como se elas fossem um perigo. Meu pai não faz nada, ele fica parado sorrindo pra mim.
- Constance! - minha mãe corre pra me abraçar - Eu estava muito preocupada. Você está bem, eles te machucaram?
- Não mãe, eu... eu... estou bem. Eu não entendo mais nada mãe, o que Gerard transformou nossa vila? - pergunto ainda aproveitando aquele abraço.
- Depois te explico tudo querida.
- Constance - papai estava atrás de mamãe - Minha garotinha está bem?
- Pai! Como eu estava com saudades dessa sua... - Gerard me puxa por trás e interrompe o abraço.
- Já chega! Preciso te mostrar o que fizemos com seu quarto. Estou ansioso por isso - Gerard sorri estranhamente.
Ele me arrasta até meu quarto.
- Preparada? - ele abre a porta - Chan ran!
Uma máquina enorme substituía minha cama, meu guarda roupa, tudo!
- Mas que porra é essa? - pergunto meio tonta.
- Parece que você ficou mais comovida com a ideia de perder o quarto do que rever seus pais? Bem, essa porra é minha obra de arte. Eu apelidei de Odior, entendeu? Ódio - ele sussurra em meu ouvido e depois ri - Preparada?
- Preparada pra quê? - pergunto confusa.
- Pra entrar aí oras - ele gargalha.