A casa já passara por múltiplas reformas ao longo dos anos, e cada renovação era feita em um estilo tão distinto do último que o resultado final lembrava uma estranha, mas cativante, colcha de retalhos arquitetônica. A residência parecia menos uma casa e mais uma entidade complexa e multifacetada, como se fosse um monstro saído da imaginação do Dr. Victor Frankenstein. A Toca, como era carinhosamente apelidada, poderia ser uma obra-prima ou um desastre aos olhos de um arquiteto, dependendo do gosto pessoal.
Harry se lembra claramente da primeira vez que pôs os pés ali. Sentiu como se tivesse cruzado o limiar de um livro de fantasia, do tipo raro que conseguira ler completo, sem encontrar páginas rasgadas, nos anos que vivera com os Dursleys. Aquele lugar peculiar tornou-se seu lar, e ele nunca deu ouvidos aos boatos e fofocas que circulavam a respeito dos Weasleys. Dizia-se que eram excêntricos, desafortunados, que ignoravam as normas sociais do sistema ABO e que era imprudente associar-se com qualquer membro daquela família. Para Harry, todo esse antagonismo apenas solidificou sua conexão com os Weasleys, fazendo-o sentir-se incrivelmente afortunado por ser adotado por eles.
A Toca estava situada em Canterbury, uma cidade encantadora e repleta de história no condado de Kent, a apenas uma hora de trem de Londres. Conhecida por sua majestosa catedral, um dos templos cristãos mais antigos e venerados da Inglaterra, a cidade era uma tapeçaria viva de arquitetura medieval, ruas de paralelepípedos e jardins cuidadosamente mantidos. Embora Harry não tivesse um interesse particular em questões religiosas, a catedral servia como um marco conveniente para ele. A casa dos Weasley ficava a apenas alguns quilômetros de distância desse notável edifício anglicano, construído com a distinta pedra de Caen. O contraste entre a grandiosidade solene da catedral e o charme peculiar da Toca sempre fascinava Harry durante suas caminhadas para o lar que adotara como seu próprio.
O trajeto até A Toca não serviu para aplacar a ansiedade que fervilhava dentro de Harry. Ele havia esboçado meticulosamente um discurso para o Sr. Weasley, delineando as razões pelas quais desejava participar da corrida. Ele pretendia argumentar que sua participação poderia beneficiar não apenas Gina, mas também ele mesmo. Estava convencido de suas boas chances de avançar para a próxima etapa da competição e talvez até levar o grande prêmio para casa. Isso aliviaria as preocupações financeiras da família Weasley por um bom tempo.
"Arthur, quero dizer, Sr. Weasley... Sei que nunca lhe pedi um grande favor considerando sua posição como meu guardião legal. A única coisa que pedi foi a sua assinatura para conseguir um emprego. Agora, preciso da sua ajuda novamente. E acredito que isso também será benéfico para você," Harry ensaiava, mãos enfiadas nos bolsos de seu moletom vermelho e amarelo, enquanto se aproximava da entrada de A Toca.
Ao chegar, notou que uma dupla de ruivos o aguardava, como se estivessem protelando a própria entrada na casa. "Vocês são o comitê de boas-vindas?", brincou Harry ao reconhecer Fred e Jorge.
"Ah, exatamente! Somos designados para te guiar até a porta de entrada. Tem certeza de que ainda sabe onde fica?" Fred deu início à conversa.
"Claro, temos que garantir que você adentre A Toca, gire a maçaneta e, evidentemente, limpe os pés antes de entrar," continuou Jorge, sutilmente irônico.
"E vocês? Não planejam entrar?" Harry perguntou, um sorriso brincando em seus lábios.
"Pretendemos..." respondeu Fred, dando um leve chute numa pedrinha no chão, evitando o olhar direto de Harry.
"Oh! Sim, entraremos. Logo depois que você entrar, Harry," assegurou Jorge, um sorriso nervoso adornando seu rosto.
Harry revirou os olhos e soltou um suspiro exasperado. "Gente, vocês não precisam ficar tão apreensivos. Tenho certeza de que a Sra. Weasley já deve ter superado todo aquele drama..."
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A corrida
FanfictionUma tradição antiga, que remonta aos primórdios da humanidade e aos albores da sociedade Alfa-Beta-Ômega, perdura até hoje: a Corrida. Apesar do nome aparentemente simples, esta prática é uma das pedras angulares dos mitos e crenças dessa civilizaçã...