A corrida

Bolos e Mais Bolos

Como eles sabiam suas medidas? Harry se perguntava enquanto vestia uma camisa de mangas longas que caía perfeitamente sobre seu corpo esguio. As calças jeans justas, os sapatos, as meias — até mesmo a cueca estava no tamanho exato. Ele se lembrou, vagamente, do extenso questionário que teve de preencher durante a inscrição na Corrida, com perguntas intrusivas sobre suas medidas de cintura, busto e altura. Haviam até feito exames de urina e sangue para garantir que os competidores não usassem drogas ou qualquer substância que lhes desse vantagem. Aqueles testes eram recorrentes, e Harry já havia passado por eles ao menos quatro ou cinco vezes desde que entrara na competição. Mesmo sabendo de onde os organizadores obtinham essas informações para providenciar um guarda-roupa completo, ele se sentia invadido, como se a Corrida penetrasse cada aspecto de sua vida de maneira cada vez mais desconfortável.

O treinamento — ou seria uma reunião? Harry não tinha certeza — foi anunciado por um dos betas mordomos, que o guiou por um elevador privativo. Enquanto caminhava pelos corredores do hotel, não viu outro hóspede sequer, o que o fez pensar que alguns andares haviam sido isolados para os vencedores da segunda fase da Corrida. Todo o luxo e ostentação o deixavam desconfiado. Eles não estavam sendo tratados assim sem um custo; alguém esperava algo em troca. Tudo aquilo tinha um preço, e a tensão apertava no peito de Harry a cada passo.

"Por aqui..." anunciou o mordomo, levando-o por um longo corredor luxuoso, decorado com quadros de paisagens bucólicas e figuras imponentes, provavelmente retratos de pessoas que um dia governaram ou dominaram, com seus olhares altivos e entediados. A luz suave dos lustres dourados pendendo do teto criava um ambiente de calma artificial, quase opressor.

Com uma pequena reverência, o mordomo abriu a porta de uma ampla sala de conferências. A visão que se desdobrou diante de Harry trouxe-lhe alívio imediato: seus amigos estavam ali, já vestidos com roupas novas. A sala era vasta, com mesas cobertas por toalhas de linho impecavelmente brancas, carregadas de pratos e travessas, onde doces, pães e, o que chamava mais atenção, uma variedade de bolos estavam dispostos como joias sobre pedestais de prata.

"Harry! Você precisa provar esses bolos!" Luna chamou, acenando com entusiasmo enquanto se sentava em uma das mesas. Sua boca estava cheia, e farelos caíam dela conforme falava, entusiasmada. "São divinos! Nunca comi algo assim!"

Fleur, ao lado, comia com muito mais elegância, usando garfo e faca, mas lançava olhares críticos para a companheira. Havia algo na maneira como ela franzia os lábios que indicava sua insatisfação com a falta de etiqueta de Luna, embora tivesse a boa educação de não dizer nada.

Neville, por outro lado, parecia despreocupado, usando as mãos para pegar pedaços generosos de bolo, assim como Luna, mastigando despreocupadamente. A mesa ao redor deles estava um caos de migalhas, fatias cortadas pela metade e pratos sujos. Harry, sentindo uma onda de relaxamento ao vê-los, quase se permitiu esquecer por um momento o propósito daquele lugar.

"E então? Você também recebeu cartas?" indagou Fleur, arrancando Harry de suas reflexões. Ele não conseguiu evitar uma careta ao lembrar da pilha de correspondências acumuladas em seu quarto.

"Esperem, vocês também?" Luna perguntou, parando de comer e encarando os amigos com olhos arregalados.

"Ah, Luna Lovegood, você realmente achou que só você receberia propostas de alfas?" provocou Fleur, fazendo a garota corar.

"N-não é isso... É só que... Eu nunca tinha recebido nada do tipo antes," murmurou, cutucando o bolo no prato.

"Nem eu," confessou Neville, com um leve rubor no rosto. "Minha avó até tentou enviar cartas a outras famílias de alfas, mas ela nunca esperava resposta. A tradição diz que betas ou ômegas não pedem alfas em casamento."