O quarto ao lado

159 37 17
                                    

"O que diabos tinha nesse spray?" Fleur exclamou, com uma mistura de confusão e surpresa, enquanto se aproximava de Harry, desviando dos alfas caídos no chão, em agonia ou desacordados. Luna estava ao seu lado, segurando o braço da corredora, com os olhos arregalados de espanto.

"Feromônios, talvez..." murmurou Luna, ainda tentando entender o que havia acontecido.

Harry deu de ombros, tentando parecer indiferente, enquanto discretamente ocultava o recipiente do spray na aba de seu short, cobrindo-o com a camisa. Esse movimento, no entanto, não passou despercebido por Neville, que observou em silêncio.

"O que importa é que eliminamos esse obstáculo... Precisamos encontrar a próxima pista," disse Harry, já forçando a passagem por entre os corpos dos alfas caídos, dirigindo-se à porta conectada ao quarto, que antes estava oculta pela cortina. Com a ação de Harry ao puxar parte do tecido do suporte, a porta agora estava claramente visível.

"Harry... O pessoal da organização não vai gostar nem um pouco de você usar isso," advertiu Neville, gesticulando para o spray agora escondido nas roupas do amigo. "Ômegas não podem usar objetos ou instrumentos para auxiliá-los."

"Bem, isso pode ser verdade," interveio Fleur, com um tom preocupado. "Droga, podemos ser desqualificados."

"Acho que a regra enfatiza que não podemos trazer objetos de fora para a corrida. Mas Harry ganhou o spr... Digo, a coisa aqui... Ele não trouxe de fora, então isso não seria necessariamente um problema," ponderou Luna, tentando tranquilizar os outros.

"Pode ser que nessa regra em particular não seja um problema," admitiu Fleur, ainda preocupada. "Mas atacar alfas sempre traz complicações! Eles podem até criar uma regra especial, só para proteger os seus."

"Vamos pensar nisso depois," cortou Harry, já abrindo a porta do quarto adjacente. "Por enquanto, estamos na corrida e ainda temos uma pista para encontrar."

Eles adentraram o quarto em silêncio, mas foram subitamente surpreendidos por uma cena inimaginável. O ambiente ao lado, ao contrário do anterior, não estava obscurecido. Pelo contrário, estava bem iluminado pela ampla janela, deixando evidente cada detalhe perturbador. O quarto não era filmado por drones, o que tornava a cena ainda mais impactante.

No chão, havia vários ômegas, alguns desacordados, enquanto outros estavam encolhidos e trêmulos nos cantos da sala. Muitos deles estavam sem roupas, exibindo marcas de violência em seus corpos, com rostos marcados pelo cansaço e o medo. Colchões desarrumados e jogados pelo chão indicavam claramente as atividades brutais que haviam ocorrido ali. O chão estava manchado de sangue, e os gemidos de choro e dor preenchiam o ar, tornando a atmosfera ainda mais opressiva. O cheiro pesado de feromônios alfa misturado com o aroma angustiante dos ômegas tornava o ar denso e nauseante, difícil de respirar.

Na parede que conectava ao quarto adjacente, um painel permitia ouvir os sons do outro cômodo, como se cada movimento e som fosse monitorado. Não era difícil conectar os pontos: os ômegas que adentravam o quarto anterior eram observados pelos alfas daquele espaço, e talvez, ao pegarem o boneco no berço, que emitia o som alto, esse fosse o sinal para os alfas invadirem. De fato, aquilo era uma grande armadilha arquitetada pelos organizadores da corrida.

"Eles... Eles não queriam que ninguém vencesse de fato..." murmurou Fleur, tentando esconder as emoções que borbulhavam em seu rosto. Luna, por outro lado, não conseguia conter as lágrimas ao ver o estado dos ômegas.

Neville, movido pela empatia, avançou em direção aos ômegas, tentando oferecer algum tipo de ajuda. Luna logo o acompanhou, mas os ômegas se afastaram, chorosos e envergonhados, enquanto outros pareciam completamente perdidos, com olhares vagos e vazios, como se toda a esperança tivesse sido arrancada deles.

A corridaOnde histórias criam vida. Descubra agora