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Cheguei exausto na casa do meu amigo

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Cheguei exausto na casa do meu amigo. Joyce me obrigara a arquivar um milhão de contratos idiotas. Eu não tinha certeza se tinha guardado tudo no lugar certo, mas, como não havia ninguém no arquivamento para me ensinar - ou delatar -, fiz o que pude. Jisung já tinha chegado, e sua mãe preparava as famosas enchiladas de frango. A casa simples, com apenas dois quartos, porém aconchegante, era cheia da vida. O oposto do que havia se tornado a mansão. Eu passava mais tempo na casa deles do que na minha, e já tinha uma pilha considerável de roupas no quarto do meu amigo. Eu não gostava de invadir sua privacidade desse jeito, mas naquele momento não me restava muitas alternativas.
Ele no entanto, havia pensado em uma.

- Conversei com Jay, é ele que resolve problemas jurídicos do meu contador. Carinha bacana - ele explicou, se jogando no sofá da sala pouco espaçosa, mas muito bem decorada. – Ele disse que, se você contestar a saúde mental do seu avô, talvez possa anular o testamento.

- O Choi disse que não posso contestar o testamento – lembrei a ele.

- Eu sei. Mas você contestaria seu avô, não o testamento – ele sorriu, colocando os pés no assento e abraçando as pernas. – É uma maneira de burlar a lei, entendeu?

Humm... Ter minha casa de volta só para mim, um bocado de grana e nada de acordar cedo. Mas isso implicaria em denegrir a imagem do vovô, quase tão imaculada quanto a Virgem Maria. Nem eu seria capaz de descer tão baixo.

- Valeu ji. – respondi desanimado – Mas acho que não posso fazer isso. Eu não quero transformar meu avô num doido de pedra. Vou tentar ir levando até aparecer uma nova ideia.

Ele suspirou.

- Imaginei que você não seria capaz, mas você não pode ignorar essa possibilidade caso... as coisas piorem. Eu ri, sem humor algum.

- Como pode ficar pior do que está? É impossível!

- O que você pretende fazer, então?

- Tomar um banho e depois rua.– respondi. Jisung sorriu, totalmente a favor do meu plano. – Estou cheia dessa vida regrada. Preciso sair e esquecer a vida de lacaia. Minha grana tá acabando, e tenho que comprar umas roupas mais certinhas. Quem sabe assim alguém me respeita na empresa. Hoje ouvi dizer que o salario vai sair por esses dias.

Bem a tempo ou vou ter que pedir dinheiro emprestado.

- Bem-vindo ao mundo dos pobres!

- Você não é pobre. É nutricionista e tem sua própria clinica.

- Recém-formada e quase sem nenhum cliente que paga em dinheiro vivo. O que esses planos de saúde repassam é uma vergonha! – ele reclamou. – E qualquer um é pobre comparado a você... pelo menos ao que você tinha antes do seu avô morrer.

Tomei um banho rápido e vesti um jeans escuro e a camiseta branca com delicados bordados que eu havia comprado no Mercado Central de Riga quando passara pela Letônia a caminho de Oslo. E agora contava moedas para comprar uma cerveja nacional que provavelmente estaria quente. Era o fim da linha...

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