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Por um momento eu achei que tivesse preso num pesadelo

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Por um momento eu achei que tivesse preso num pesadelo. Tudo aconteceu tão rápido e de repente desacelerou, como em câmera lenta. Até a bala que vinha na direção da minha cabeça se movia lentamente. Fiquei esperando o tal filme da minha vida começar, louco pra relembrar os momentos felizes, mas o que vi se desenrolar à minha frente foi muito mais assustador do que todas as piores memórias juntas.

Antes que eu pudesse piscar, um ombro largo bloqueou minha visão e mãos fortes agarraram meus braços, seu peso me fez perder o equilíbrio e seguir em direção ao piso frio de mármore. Ouvi o som aterrorizante de carne e músculos sendo dilacerados pelo projetil. Escutei o gemido de dor. Então encontrei aqueles olhos me observando, espantados.

- Não! – tentei gritar, mas estava sem ar. Na queda, seu peso me fez perder o fôlego.

O corpo de hyunjin ficou mole sobre o meu. Tentei empurrá-lo para o lado, para que eu pudesse acudi-lo, mas não consegui. Ele piscava muito, tentava não gemer. Eu não conseguia ver onde a bala o atingira.

O mundo voltou a girar, veloz e assustador. Alguém caiu. Eunbi. Jisung se abaixou atrás do sofá, e park, ignorando a idade e o bom-senso, estava lutando com Choi, tentando desarmá-lo. Os seguranças se entreolhavam sem saber o que fazer.

Hyunjin começou a se mover, tentando sentar, a mão pressionada sobre o ombro esquerdo, os olhos presos no embate entre Choi e park. Antes que ele decidisse se levantar e tentar salvar o mundo, procurei qualquer coisa que pudesse usar como arma para atingir Choi, que acabara de empurrar park com violência, derrubando-o ruidosamente. Park gemeu.

- Você não devia ter me desafiado! – bramiu Choi, subitamente à minha frente.

- Hyunjin, não! – gritei, mas não fui rápido o bastante.

Ele se lançou sobre choi, desajeitado, e acabou acertando um soco naquela cara redonda. Choi balançou, e hyunjin usou o peso do próprio corpo para derrubá-lo. O punho dele encontrou o nariz de Choi uma, duas, muitas vezes. Choi era menor, porém mais pesado e, em sua insanidade, forte como um mamute. Eles trocavam socos e chutes, e eu não conseguia me meter entre os dois, com medo de que hyunjin se ferisse ainda mais. Em algum momento, avistei a arma ali no meio. Era como naqueles filmes em que o bandido e o mocinho se engalfinham, e em seguida haveria um tiro. Um dos dois estaria morto. Eu não podia permitir que isso acontecesse.

- Chamem a polícia! – ordenei aos dois seguranças abobalhados. Eles se entreolharam novamente e, depois de um minuto de hesitação, um deles deixou a sala. O outro observava a luta, sem saber em quem deveria atirar.

- Faz alguma coisa! – gritei para ele, que assentiu e correu em direção a park.

- Ele... não... vai... ficar... com meu dinheiro – grunhiu Choi, conseguindo se colocar sobre hyunjin e envolvendo seu pescoço com uma das mãos gordas, enquanto a outra alcançava a arma, que caíra no chão por um microssegundo.

Tomando impulso, voei sobre Choi, derrubando-o meio de lado. Acertei-o como pude, no estomago, no queixo, na orelha, nas costelas. Ele tentou apontar a arma para mim, mas mãos grandes e fortes o impediram. Hyunjin se esforçava para desarmar choi enquanto eu tentava nocauteá-lo. Os ossos de minha mão estalaram, mas eu não senti a dor. Numa última tentativa, Choi conseguiu enviar o joelho entre minhas costelas e eu caí, sem fôlego.

Hyunjin hesitou ao me ver arfando em busca de ar, e Choi se aproveitou, atingindo-o no nariz, deixando-o atordoado o suficiente para se livrar de suas mãos. Choi se colocou de pé, meio torto, trôpego, ensanguentado, os olhos injetados presos aos meus. Então seus lábios se curvaram para cima, num sorriso diabólico. Ele ergueu o braço lentamente, apontando o cano do revólver para mim.

Fechei os olhos e esperei que tudo acabasse.
Um baque surdo e um gemido me fizeram abrir os olhos. Choi estava caindo, os olhos revirando nas órbitas. Hyunjin estava em pé bem atrás dele, arfante, ferido. O vaso de prata - pesado e maciço - pendeu de sua mão e caiu a seus pés. Choi desabou, mole, soltando a arma, os olhos fechados, a boca entreaberta. Hyunjin chutou o revolver para longe antes de entregar os pontos e se deixar afundar no chão. Corri para ele, desabalado.

- Hyun fala comigo! – pedi, me agachando a seu lado, tocando seu ombro e encharcando minhas mãos de sangue. Observei-as por um momento onírico, tomada pelo mais absoluto horror. – Ah, Deus, não!

- Shhh... – ele gemeu com a voz engasgada. – Estou... bem. Não se pre...ocupe.

- Não fique aí parado como um idiota! Chame ajuda! – ouvi park dizer. Talvez ele se dirigisse ao segurança, eu não conseguia desgrudar os olhos de todo aquele sangue. Meu coração batia num ritmo alucinante, doía, sangrava. Hyunjin sangrava. E era minha prioridade.

- Ah, não! Você, não! – chorei, saindo do torpor, quando percebi que ele pretendia se sentar. Eu o empurrei o mais gentilmente que pude de volta para o chão, estendo as pernas embaixo de sua cabeça na tentativa de deixa-lo o mais confortável possível, quando vislumbrei a enorme ferida em suas costas, no meio do ombro. – Não!

- Estou bem... Não chora – ele ofegou, num esforço hercúleo para soar menos agonizante. Seus olhos estavam fixos nos meus. Seu rosto estava coberto de sangue. Sangue dele, de Choi, eu não fazia ideia.

- Por favor, não morre! – implorei

Ele sorriu brevemente.

- Não vou morrer. Prometo. – Mas uma poça de sangue se formava no mármore branco.

- Ah, meu Deus! O Choi matou o hyunjin! O Choi matou o hyunjin! – ouvi jisung gritar histericamente.

- Ele está ferido, mas está consciente – park tentou acalmá-lo.- Ele vai ficar bem. Acalme-se, querido você só está tendo uma noite ruim – e tentou se endireitar.

Tentei mudar de posição para que hyunjin ficasse mais confortável, se é que isso era possível, mas ele me interpretou mal.

- Fica comigo - pediu, com a voz mais controlada. Lagrimas turvavam minha visão. Eu assenti freneticamente.

- Fico. Pra sempre.

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