— Eu não sei o que dizer. — Puxei uma grande quantidade de ar no ambiente. — Eu não sei nem o que está acontecendo entre a gente. Digamos que seja uma fase difícil no relacionamento, mas acredito que vai passar. — Abri um sorriso, tentando acreditar naquilo.
— Quer me contar o que tem acontecido? Quem sabe assim eu posso te ajudar. — Hannah perguntou, colocando alguns guardanapos no envelope e uma florzinha branca, bem delicada. Fiz o mesmo.
— Só alguns desentendimentos. Vai passar. — Forcei um sorriso, desviando o meu olhar do dela.
Passamos mais algumas horas enfiando guardanapos nos envelopes bregas quando notei já estar tarde. Precisava voltar para casa pois no dia seguinte minha semana já iniciaria de novo.
O mau dos domingos é que eles chegam ao fim, trazendo com eles as segundas-feiras.
Me despedi de Hannah que parecia mais calma quando concordei em ir a sua prova de vestidos. Ela estava tão agitada que não teve como negar.
Fui em direção ao carro de meu pai estacionado na porta de Hannah. Sim, eu tenho quase dezoito anos e ninguém ainda me abençoou com um carro, isso é muito triste.
Dirigi pela estrada muito pensativa. Era incrível como alguns pontos de água caindo do céu, a famosa chuva, eram capazes de fazer você se questionar até mesmo da sua existência. Ultimamente venho me questionando sobre tudo. Sobre como me sinto diante as situações da vida, sobre o que quero para mim e também sobre o que posso fazer para mudar o que me desagrada.
Cheguei a conclusão de que o que mais tem me incomodado é o meu relacionamento. Henry tem sido o maior dos meus problemas.
E não digo isso tentando o transformar na pior pessoa do mundo. A pessoa que mais me causa mal. Não, não é isso. Mas eu costumava amar mais a versão antiga dele. A versão que me trazia flores sem nenhum motivo, que se desculpava quando até mesmo não tinha culpa, que dizia a todo instante o quanto me amava, sem se importar se eu me cansaria ou não. Gostava da versão que me levava para sair em qualquer lugar, ou a que segurava a minha mão quando eu me sentia ansiosa por alguma prova.
Puxei a marcha do carro me lembrando do dia em que treinamos juntos antes da minha prova para receber a habilitação. Ele estava tão empenhado em me ensinar algumas técnicas ótimas para passar de primeira, mesmo sabendo menos que eu. Toquei a minha mão em cima da marcha.
Talvez seja só uma fase...
— E se eu ligar? — Assim que parei o carro na garagem, encarei o meu celular no banco do carro e me questionei.
Eu sei que brigamos da última vez e que talvez a culpa seja minha. É errado demais querer passar o final de semana com o seu namorado e ele dizer na sua cara que precisava de um tempo para se divertir com os amigos? E ainda ter a capacidade de dizer que você está o pressionando demais?
Eu sei que errei em gritar. Errei em desligar o celular na cara dele e dizer ainda para fazer o que quiser. Errei em quase terminar um namoro de anos por uma coisa boba.
Mas o que posso fazer quando essas pequenas coisas bobas estão destruindo o meu relacionamento?
Peguei o celular e cliquei em seu contato onde "amor" estava escrito. Eu não era aquele tipo de pessoa que brigava e imediatamente mudava o nome do contato.
O celular chamou tantas vezes que eu desisti de ligar. Suspirei e peguei as minhas coisas para entrar dentro de casa. Quando passei pela porta de entrada, meu celular começou a vibrar e o contato "amor" surgiu na tela.
Meu pai estava assistindo basquete no sofá. Parecia fissurado por homens se pendurando em uma cesta e depois comemorando com umas dancinhas engraçadas.
Passei por ele e toquei o seu braço, vendo o homem pular do sofá tomando um susto. Ele abriu um sorriso e voltou a encarar a tela da televisão. Fui em direção ao meu quarto para atender Henry.
Se isso estava me incomodando, era necessário falar para haver uma mudança, certo? Não adianta reclamar dos problemas e não fazer nada para muda-los.
E como a maioria das brigas em relacionamentos são resolvidas com uma conversa, nada melhor do que um diálogo quando ambos estão calmos, certo?
Sentei em minha cama cruzando as pernas, sentindo a ansiedade correr pelo o meu corpo. Já tivemos essa mesma conversa umas mil vezes desde que as brigas se iniciaram. Eu já não sabia mais o que dizer.
Bob saiu de sua cama e veio em minha direção, abanando o seu rabinho em euforia. Ele se deitou ao meu lado me encarando com os olhinhos de anjo.
— É... Bob. — Acariciei o seu pelo. — E mais uma vez, vamos lá... — Atendi a chamada, esperando ouvir a sua voz do outro lado da linha.
— Oi... — Sua voz surgiu em meio ao barulho de música alta. — Eu estou indo embora agora e imagino que queira conversar... pode esperar só alguns minutos até eu chegar aí? Essa noite foi difícil de dormir e acho que não consigo dormir de novo sabendo que você está com raiva de mim. — Ouvi uma batida de porta de carro e suspirei aliviada.
Ele queria resolver as coisas e não estava mais me culpando por ser exagerada.
— Tudo bem, a porta está aberta. Não toca no meu pai porque ele pode se assustar. — Declarei, ouvindo a sua risada leve no outro lado da linha.
...
Eu contava os minutos até ele chegar. Sentindo o meu coração a mil quando escutei algumas batidinhas na porta do quarto.
— Você tinha razão, eu não devia ter tocado no seu pai. — O vi parado na frente de minha porta com um sorriso enorme no rosto e um buquê em mãos.
Ele trouxe flores.
— Ele se assustou tanto que até eu tomei um susto com o seu susto. — Ainda estava parado, buscando qualquer reação em meu rosto ao ver o buquê. Quando viu que eu não diria nada, continuou com um certo receio. — Me desculpa, Luna. Eu sinto muito mesmo. Não quero brigar com você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Amor NÃO Pode Curar II
RomanceLIVRO II DA DUOLOGIA "O AMOR PODE CURAR". Luna vê o relacionamento de seu irmão com a sua cunhada como um espelho. Pois Luke e Hannah sempre estiveram ali no momento mais difícil um do outro. Viveram longos anos juntos e agora finalmente iam se casa...