25. A lenda de Sakura.

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Caminhei até em casa pois meu pai estava com o carro hoje, então só me restou esperar um ônibus ou ir andando. E como não gosto de esperar, a segunda opção me pareceu mais atraente.

Me aproximei da porta de casa quando um carro parou em frente à minha grama, buzinando. Era Hannah.

— Meu Deus, você já viu as horas? Nem chegar em casa eu cheguei ainda! — Briguei com ela. Hannah desligou o carro, saiu e veio em minha direção.

— Você já está com um pé dentro de casa, então tecnicamente você já chegou. — A mulher beijou a minha cabeça e entrou na minha frente. — Tem vinte minutos para se arrumar enquanto eu converso com a minha sogra.

— Acontece que a sua sogra está trabalhando! — Respondi, já pegando a toalha do varal na área, e indo em direção ao banheiro.

— Poxa, achei que hoje era o dia de folga dela. — Hannah franziu o rostou. — Então eu fico com Bob, cadê ele?

— Ele... — Um desespero tomou conta do meu corpo. Hannah com certeza perceberia que há algo de errado com ele. É a única que presta atenção nos mínimos detalhes. — Ele está dormindo, não o pertube.

— Você é tão sem graça! — Ela revidou, me seguindo até meu quarto.

Ela veria Bob. O que vou fazer? O que ela vai dizer? Será que vai me culpar? E se me culpar principalmente por não ter contado?

Parei em frente à porta do quarto que já se encontrava aberta, pensando em uma solução. Mas antes que eu pudesse chegar a qualquer solução, Hannah passou por mim e entrou em minha frente.

A menina paralisou no exato momento em que cruzou a porta, como se algo a tivesse impactado. Passei em sua frente notando Bob jogado no chão com vômito por todo lado. O cachorro chorava em um grito de desespero, um grito vindo direto da alma.

— Meu Deus... — Hannah levou a mão a boca, incrédula com a situação.

(...)

Enquanto eu passava o pano no chão, a mulher não disse nada. Ela apenas analisava cada canto do meu quarto como se nunca tivesse pisado ali antes.

Peguei uma roupa qualquer e fui em direção ao banheiro, trancando a porta atrás de mim e sentindo meus olhos marejados.

Tomei um banho mais demorado que o planejado. Estava querendo fugir do tempo que passaria com Hannah. Ela provavelmente me encheria de perguntas das quais não sei se consigo responder.

Quando saí do banheiro, encontrei a menina sentando em minha cama com Bob nos braços, ela encarava o meu quadro de avisos com um semblante confuso.

Eu já imagino o que ela está lendo.

— Vamos? — Perguntei, quebrando o silêncio de quase uma hora. Ela não me encarou, parecia ainda tirar uma conclusão sobre o que estava lendo no quadro de avisos.

— Vamos. — Disse após alguns segundo. Se levantou da cama e pôs Bob em sua cama. Ela tomou a chave do carro em suas mãos e ao invés de sair, dessa vez aguardou até que eu me retirasse.

Tranquei a porta de casa e guardei a chave no bolso, suspirando ao ver que o resto do dia seria longo.

Eu achei que a mulher me faria diversas perguntas sobre o que aconteceu. Que me julgaria por querer ir para outro país e abandonar o seu irmão e eles. Que iria me dizer o quanto eu estava agindo errado.

Mas ao invés de fazer tudo isso, ela simplesmente ignorou. Como se nada tivesse acontecido. Ficou calada o caminho inteiro e aquele silêncio foi a coisa mais ensurdecedora que eu já ouvi. É como se eu acabasse de decepciona-la.

Hannah não me encarava, olhava para frente o tempo inteiro, prestando atenção atentamente para as ruas. O seu sorriso de mais cedo não estava mais presente e ela parecia distante.

— Hannah. — Chamei. Eu não aguentava aquilo. Era como uma tortura.

— Sim? — Por mais que ela estivesse agindo daquela forma tão estranha, a sua voz ainda parecia calma, como sempre.

— Me desculpa. — Minha voz estava embargada e as palavras foram tão difícil de serem proferidas que eu virei o rosto para o outro lado, na tentativa de evitar o seu olhar.

— Por que está se desculpando? — Perguntou, parando o carro em frente a loja de vestidos.

— Eu... — Toda vez era a mesma coisa. Eu tentava dizer o que acontecia com a minha mente, tentava colocar meus sentimentos em palavras, tentava dizer todos os problemas que me afligiam, mas era como um bloqueio. Uma barreira muito grande que me impedia de prosseguir.

— Posso te contar uma história? — Ela encostou a sua cabeça no banco, olhando para o teto do carro. Eu apenas assenti esperando que prosseguisse. — Em uma certa época, os senhores feudais travavam grandes guerras que ocasionava na morte de muitas pessoas no Japão. O país estava mergulhando na tristeza e desolação, sem esperança da paz. — Eu cruzei os meus braços e a ouvi atentamente. — Mas havia uma floresta, uma bela floresta. Que nem mesmo os participantes da guerra ousaram destruir. As flores exalavam beleza, cor e perfume, aquelas grandes árvores consolavam os atormentados cidadãos ao redor. No entanto, havia uma árvore que nunca floresceu. Ela era cheia de vida, mas por algum motivo, seus ramos nunca deram flores. E por conta disso, tinha aparência de morta. Mas apenas estava destinada a não florescer. A árvore era solitária, ninguém se aproximava com medo de ser uma maldição. Nem ao menos a grama crescia ao seu redor. — Hannah abriu um sorriso. — Mas um dia, uma fada surgiu. Disposta a ajudar a árvore a um dia realizar o sonho de florescer. Assim, ela lançou um feitiço que duraria vinte anos. A árvore poderia se tornar humano quando bem entendesse, tendo também o privilégio de sentir as sensações humanas. Talvez tendo um pouco de sentimento em sua vida, ela finalmente se sentiria pronta para florescer. Mas, se em vinte anos ela não conseguisse abrir as suas flores, morreria imediatamente. — Aquilo me fez encara-la, me perguntando que tipo de história era aquela. — Muitos anos se passaram mas nada mudou. A árvore só se decepcionada com as emoções humanas, principalmente por conta das guerras. Mas um dia... — Hannah me encarou com seu sorriso. — A árvore encontrou uma jovem, uma bela jovem. Essa jovem se chamava Sakura. A jovem era simpática e amável e a árvore se interessou por ela. Eles passaram horas conversando sobre tudo. Seus encontros se tornaram frequentes e quanto mais a árvore encontrava com Sakura, mais queria estar com ela. Contou a ela o seu nome, Yohiro, e a sua situação. Até que, os vinte anos estavam se findando deixando Yohiro ainda mais abalado. Mas em uma tarde, Sakura abraçou a árvore e disse que estaria ali com ela, que não queria que ela morresse e entendia seus sentimentos. Naquele momento, a fada apareceu e fez uma proposta a garota. Ela poderia se fundir a Yohiro como árvore ou se ela queria que Yohiro se tornasse humano para sempre.

— O quê ela fez? — Perguntei, me sentindo um pouco ansiosa.

— Ao se lembrar das guerras, ela decidiu se fundir a Yohiro em forma de árvore. E assim, um milagre aconteceu. — Ela deu uma longa pausa, me deixando ainda mais curiosa. — A árvore floresceu. E seu amor perfuma os campos japoneses até os dias de hoje.

O Amor NÃO Pode Curar IIOnde histórias criam vida. Descubra agora