29. Finalmente respirei.

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Eu sentia a ansiedade correr pelo o meu corpo a cada minuto que se passava. Tentava demonstrar que estava tudo bem, que eu conseguia, que era fácil lidar com aquilo. Mas na verdade não era.

Eu literalmente escondi um fato muito importante da pessoa que eu confio até de olhos fechados. Como contar a ela que você não tinha forças para dizer? Que sempre que tentava, não conseguia nem ao menos juntar as palavras? Que está errada nessa questão e que se arrepende...

Hannah terminou o último cachos do cabelo com um sorriso no rosto ao admirar seu trabalho. Ela prendeu algumas presilhas que formavam uma tiara no topo do cabelo. Estava lindo, o seu trabalho ficou maravilhoso.

— Eu estou tão... emocionada. — Hannah me encarava do espelho com os olhos cheios de lágrimas e um sorriso suave nos lábios. — Eu não sei mas... é lindo te ver crescer e amadurecer Luna, eu estou muito feliz. Te vi tão nova e acompanhar a sua evolução como mulher é lindo... e eu tenho certeza de que vai tomar as melhores decisões. — Hannah me deu um abraço que durou alguns minutos, mas foi interrompido com Luke e Henry passando pela porta do quarto.

Eu sorri. Eu o vi de forma diferente agora. Eu entendi que Henry era a melhor coisa que já me aconteceu, e não importa o que eu enfrente no meio do caminho, se ele estiver comigo, eu sei que consigo vencer até mesmo o impossível. Como diz Hannah, ele é o amor que despertava o melhor dentro de mim. Era ele que me fazia florescer. Ele tinha o poder de curar toda e qualquer ferida que a vida me deixou.

Eu não posso perder algo tão raro de se conquistar quanto o amor.

— Irmã! — Luke correu em minha direção e me ergueu no alto em um abraço sufocante. — Você está linda, tanto quanto um festival de sakuras no Japão. Aquilo me fez sorrir.

— Vem, Luke. Henry e Luna precisam conversar.— Hannah o puxou pelo braço, fazendo-o me soltar. Luke seguiu a menina com as sobrancelhas franzidas, perguntando o que estava acontecendo.

Henry me encarou por alguns segundos, como se estivesse me admirando, mas ainda estava com o pé atrás em relação a mim. Seus olhos visitaram cada pedacinho de mim até que olhou para trás, onde estava pendurado o quadro de avisos. Foi notório a sua mudança. Ele pareceu se lembrar do porquê estávamos brigados.

Ok, talvez seja a minha vez de começar a falar.

— Me desculpa. — Foi a primeira coisa que disse. Não sabia como iniciar com "preciso te contar uma situação meio complicada. Bom, descobri a quase dois meses atrás que o nosso cachorro está morrendo e não te contei. Mas é claro que eu ia te contar, eu só não sabia como". Ótimo jeito de acabar com tudo. — Eu sei que estou errada.

— É só o que tem para dizer? — Ele estava mais sério que o normal. Dessa vez, a minha atitude o feriu o suficiente para fazê-lo ficar frio, como demonstrava.

— Não. Henry eu não sei como dizer... eu me arrependo de tudo que fiz. Eu estava tão preocupada em me arrepender com as minhas escolhas para o futuro que nem percebi as escolhas que estava fazendo no presente. As escolhas que consequentemente influenciam o meu futuro... — Eu me aproximei do menino, vendo que ele não recuou. — Eu agi muito mal. Estava afastando a minha melhor escolha porque simplesmente não conseguia lidar com os meus problemas. Porque estava tão atordoada com as dificuldades, ignorando tudo achando que estava sob controle, que nem percebi que você estava sempre ali disposto a ser um ombro amigo. Que você está aqui para me ajudar, me completar, me fazer florescer. — A essa altura, eu já estava chorando de novo.

Quando me tornei tão sentimental?

Mas naquele momento, uma venda caiu de meus olhos e me fez ver que estava quase cometendo a maior burrada. Estava quase deixando ir o amor da minha vida, a pessoa que eu sei que quero do meu lado, que quero construir um futuro.

Sei que nada do que eu conquistar vai ser perfeito se ele não estiver aqui me aplaudindo.

E ver que tudo que eu fiz até agora só estava colaborando para o nosso futuro separados um do outro, me fez ter medo de perde-lo.

— Henry, meu Deus, eu estou chorando de novo. — Eu tentava segurar as lágrimas para não borrar a maquiagem que Hannah lutou tanto para fazer. — Me desculpa se algum momento eu te fiz acreditar que não o queria mais do meu lado. Me desculpa se te afastei, se te fiz sofrer e se o meu amor foi doloroso para você. — Era impossível segurar aquelas aguinhas insistentes. — Mas eu te amo muito, Henry. Eu te amo muito, muito mesmo.

Um sorriso foi surgindo aos poucos em seus lábios. Henry sorriu abaixando o seu olhar.

— Eu não quero te perder, está bom? Não quero que se afaste mais de mim! Me sufoque com essas suas perguntas insistente sobre como eu estou me sentindo. Me encha de abraços reconfortantes como você sempre faz. Me faça rir para eu esquecer do quanto estou triste. Me ajuda a resolver as questões que eu não consigo, Henry. Por favor. — Eu desabei em lágrimas, tendo a ciência de que a maquiagem não era importante naquele momento.

Eu me sentia extremamente feliz por conseguir falar tudo aquilo que estava estagnado dentro de mim. Eu libertei aquelas palavras e era um alívio saber que eu finalmente consegui.

Finalmente respirei.

— Mesmo que você me afaste. Mesmo que se canse de mim. Mesmo que meus beijos e abraços não te confortem mais. Mesmo que canse das minhas piadas e mesmo que eu não seja mais útil para você. Não existe outra pessoa nesse mundo que eu seja capaz de amar sem ser você. — Henry se aproximou de mim, com um sorriso radiante nos olhos.

Mas de repente, esse sorriso foi se desfazendo. Até se voltar a sua expressão séria.

Henry não olhava mais para mim. Ele olhava para a mesinha que eu estava sentada.

Quando olhei para ver o que ele tanto encarava perplexo, notei os exames de Bob em cima da mesa.

O Amor NÃO Pode Curar IIOnde histórias criam vida. Descubra agora