— Por que seus amigos não ficaram para a feira? — Perguntei enquanto caminhava no meio dos estandes com Henry e Aurora ao meu lado.
— Ben quer se tornar um jogador de basquete profissional e já está trabalhando nisso. Nathan me disse que já tem uma ideia do que quer fazer, mas também falou que não vai contar para se realizar mais rápido. — Comecei a rir ao ouvir o que Nathan pensava.
— Ben tem porte para jogar de basquete. — Aurora entrou no assunto.
— O menino é alto, né? — Me virei para ela.
— Demais. Nem se eu subisse na suas costas daríamos a altura dele! — Declarou, me fazendo rir ainda mais.
Caminhamos mais um pouco no meio dos estandes até que Henry se afastou de nós ao ver os animadores. Confesso que o expositor de animação era um dos mais bonitos. Cercados de desenhos, personagens em forma de bonecos e até mesmo monitores com animações passando. Alguns eram meros esboços enquanto outros eram produções bem elaboradas. E até mesmo os profissionais pareciam bem divertidos contando sobre os deveres de um animador.
Aurora foi em direção aos escritores. Ela não sabia ao certo se era aquilo mesmo que queria ser. Me disse uma vez que uma das coisas que mais a motivava era o fato de adorar criar histórias de amor em um caderno que carregava de uma lado para o outro. Outro ponto era o quanto se mostrava apaixonada pelo mundo da escrita. Ela seria uma ótima profissional.
Quando percebi que eles estavam entretidos naquilo que gostavam, caminhei em busca de algo que chamasse a minha atenção. Passei pelos estandes dos mais variados tipos de profissão. De gastronomia até turismo. A escola estava fazendo um ótimo trabalho em ajudar os alunos indecisos com o seu futuro.
Mas talvez a minha indecisão não tenha jeito mesmo.
Estava quase desistindo de procurar alguma coisa quando ao longe, notei duas mulheres e um homem com alguns cachorrinhos em um estande. Alguns alunos se aproximavam e acariciavam os cachorros enquanto os três diziam sobre as suas profissões. Eles estavam vestidos com um jaleco branco e uma patinha de cachorro desenhada bem no peito.
Me aproximei do expositor notando um cachorrinho abanar o rabo assim que me viu. Ele abaixou a cabeça esperando um carinho e eu sorri. Passei a minha mão pelo seu pelo sedoso e percebi o quanto ele era bem cuidado.
Peguei o pequeno no colo, notando suas patinhas de cores diferentes. Duas eram marrons e as outras duas bem branquinhas. Ele lambeu o meu rosto parecendo muito feliz.
— Você leva jeito com os animais, sabia? — O homem que tinha uma aparência jovem, se aproximou com um gatinho e uma calopsita no ombro. — Esse é o macho mais nervoso que temos. Só tem quatro meses e acha que manda em si mesmo. — Ele fez a piada balançando a cabeça para os lados.
— Jura? Ele é tão fofo. — Ri um pouco, ainda acariciando o cachorro.
— Você quer fazer medicina veterinária? — Aquela pergunta me pegou de surpresa.
— Nunca pensei nisso... — Respondi ao perceber que realmente nunca tinha pensando nisso. Jamais se passou pela minha cabeça.
— Entendi, mas parece gostar bastante de animais... — O homem colocou o gatinho em uma das mesas e ele veio imediatamente em minha direção, me encarando com aquele olhinhos fofos. Até que eu estendi a minha mão e o gatinho se esfregou para ser acariciado. — Ou eles que gostam bastante de você... — Ele riu ao perceber o gato se desmontar ao receber carinho na barriga.
— Posso fazer uma pergunta? — O questionei, colocando o cachorrinho sobre a mesa e o vendo dar pequenos pulinhos para me alcançar.
— Claro que pode.
— O que te fez ter a certeza de que era isso que desejava seguir para o resto da vida? — Apoiei meus braços na mesa, esperando uma resposta. Ele pareceu pensar por alguns segundos antes de abrir um sorriso.
— Quando eu era mais novo, me lembro que minha casa era uma verdadeira fazenda. — O menino também se apoiou na mesa, ficando de frente para mim. — Eu tinha três gatos, dois cachorros, um periquito, uma calopsita, dois coelhos, quatro hamsters e um porquinho da Índia. — Ele erguia o dedo das mãos para listar os animais, enquanto eu arregalava os olhos. — E toda vez que algum deles sofria de alguma coisa, eu sempre tive a solução. — Ele abaixou um pouco a cabeça e sorriu. — E nunca passou pela minha cabeça cursar medicina veterinária. Sabe, se eu gostava tanto de estar cercado de animais, se gostava tanto de cuidar e zelar pela vida deles, por que isso nunca passou pela minha cabeça? — O garoto puxou o cachorro que estava quase se jogando da mesa. — Foi quando um belo dia eu esbarrei com uma mulher na rua e ela derrubou uns livros. Desses livros, um folheto caiu anunciando vagas para medicina veterinária em uma faculdade no Canadá!
— E foi aí que você viajou para o Canadá para se tornar um veterinário? — Perguntei, empolgada com a história.
— Sim. Fui para Western University, em Londres, Ontário. — Ele estendeu um folheto para mim e sorriu. — A vida me deu sinais de que nasci para isso, talvez ela te dê alguns sinais em breve.
(...)
Eu observava atentamente aquele panfleto. Ele parecia amassado e bem antigo. Talvez fosse o mesmo que ele pegou a uns anos atrás antes de decidir o seu futuro.
Será que seria uma boa ideia?
— O que está olhando? — Henry perguntou assim que se aproximou de mim.
— Nada de interessante. — Guardei o folheto em meu bolso e sorri.
Estava indo para o curso, dirigindo o carro de meu pai com Henry ao meu lado. Henry era ruim demais no volante e muitas vezes pedia até mesmo para eu dirigir. Ele não tinha problema nenhum em admitir isso.
— Gostou da feira? — Puxou um assunto ao perceber o silêncio.
— Gostei sim. — Respondi.
— Agora você tem a certeza de que quer fazer enfermagem? — Me questionou.
— Não sei, quem sabe? — Suspirei, o vendo virar o rosto para o outro lado.
— Entendi...
Talvez o jeito em que eu falei tão sem emoção tenha afetado ele de alguma forma.
Eu não sei, mas o jeito que aquele homem falou sobre a sua profissão, sobre como descobriu que amava fazer aquilo e talvez aquele folheto, tocou em mim como nunca antes. E se talvez eu fosse boa em algo que ainda não percebi? E se eu demorasse a perceber e fosse tarde demais para voltar atrás? E se em nenhum momento eu descobrisse no que sou boa?
A vida sempre te dá sinais...
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O Amor NÃO Pode Curar II
RomantizmLIVRO II DA DUOLOGIA "O AMOR PODE CURAR". Luna vê o relacionamento de seu irmão com a sua cunhada como um espelho. Pois Luke e Hannah sempre estiveram ali no momento mais difícil um do outro. Viveram longos anos juntos e agora finalmente iam se casa...