26. Por favor... me ajuda.

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— Houve um tempo em minha vida, antes de rever Luke, que eu achava estar bem. Achava que não precisava de ninguém, que tudo estava em seus conformes, que o passado não me afetava mais, que aquelas emoções nunca mais voltariam e que minha vida estava dentro dos trilhos. — Hannah suspirou, como se não se orgulhasse de quem era. — Eu só prezava o meu trabalho, cuidar do meu irmão e as tarefas de casa. Minha vida havia se tornado um looping infinito. Onde conhecer pessoas, ter emoções, me divertir... não faziam parte da programação. E em um dia, normal como todos os meus outros, eu me deparei com aquilo que jurei que jamais me magoaria de novo. Eu me deparei com o que eu tentei fugir de todas as formas. Me deparei com o meu passado. — Me encarou por alguns minutos. — E esse passado começou a aparecer por todos os lados. Estava se tornando insuportável aguentar aquilo tudo sozinha.

— Mas você tinha Luke. — Soltei, a fazendo sorrir.

— Esse é o ponto. Eu não tinha Luke antes de permitir que entrasse em minha vida. Quando eu entendi que não tinha mal nenhum contar as vezes com as pessoas, quando eu entendi que não tinha problema contar meus sentimentos, quando eu percebi que não tinha problema ser amada... Eu permiti que Luke entrasse em minha vida. — A mulher abriu um sorriso contagiante. — Você já ouviu falar que o amor pode curar? O amor pode curar as feridas mais profundas da alma, pode te dar forças quando você acha que não tem, ele pode mudar a sua vida. Ele te apresenta pessoas das quais muda completamente a sua forma de pensar. E não tem nada de errado em confiar nas pessoas, não tem nada de errado em abrir suas emoções, não tem nada de errado em pedir ajuda, Luna...

Eu senti uma lágrima cair de meus olhos. Mas essa lágrima estava carregada de medos, inseguranças, traumas e angústias acumuladas. Eu a limpei rapidamente, sentindo que outras pulavam de meus olhos.

— A lenda da Sakura nos ensina que outra pessoa pode despertar o que há de melhor dentro de nós. — Ela segurou minhas mãos. — Permita que entrem em sua vida, permite-se chorar, permite-se sofrer, permite-se, de vez em quando, pedir ajuda.

Naquele momento, eu senti que estava segura. Que não tinha problema me derramar em lágrimas, que Hannah não me julgaria se eu chorasse.

A mulher me abraçou bem forte, permitindo que minhas lágrimas caíssem. Eu chorei como nunca, eu coloquei todas aquelas emoções para fora. Chorei por não ter conseguido resolver meus problemas de relacionamento, chorei por não conseguir me expressar, chorei por não saber como salvar o meu cachorro, chorei por não saber se a decisão que estava tomando em relação ao meu futuro estava certa. Chorei até sentir que os meus olhos estavam inchados.

— Hannah, eu não sei o que fazer. — Eu dizia em meio aos soluços, tentando forçar cada palavra a sair. — Eu sinto que tenho feito tudo errado ultimamente. Tenho séria dúvidas sobre o meu futuro, tenho dúvidas sobre o meu relacionamento e tenho passado por coisas tão difíceis! — Me afastei, por um momento, de seus braços. Encarando o olhar aflito da mulher. — O Bob está morrendo, Hannah. — Ela levou a mão a boca, em completo choque. — Ele está morrendo e não importa o que eu faça, ele vai morrer. — Mais lágrimas caíram de meus olhos, mostrando o meu desespero. — Meu Deus, está tudo errado! Eu sinto que me perdi no meio do caminho. Perdi aquela Luna adorável, gentil, amável que achava saber tudo sobre si mesma. Que acreditava saber o que queria até mesmo para o futuro. Perdi a Luna que gostava de passar um tempo com a família, e não a que se tranca dentro do quarto para estudar por horas e horas. Eu gostava da Luna que sorria com mais frequência, que não tinha dificuldade em se divertir com as menores coisas, que seu principal interesse era passar um tempo com as pessoas que ama... eu tenho me afastado de tudo, de todos... até mesmo de mim. Onde foi que... Onde foi que eu me perdi? — Suspirei ao terminar de falar, uma lágrima escorreu. Aquela lágrima decretou o ponto final. O ponto final de toda aquela dor. Aquela lágrima decretou a venda que foi retirada de meus olhos, retirou o tapete que escondia as minhas emoções, ela abriu as cortinas do meu coração.

Hannah me encarou por alguns segundos. Ela me puxou para mais perto e me abraçou, na tentativa de arrancar toda aquela confusão de dentro de mim. Era como se ela me entendesse. Compreendesse exatamente o que eu estava sentindo. A mulher apoiou seu queixo no topo da minha cabeça, sem dizer nada, apenas sua presença era suficiente naquele momento.

— Eu não sei o que fazer... por favor... me ajuda. — Saiu como em um sussurro. Um pedido de misericórdia que nunca havia sido proferido por mim.

— Sabe... podemos comprar vestidos amanhã. Acho que alguns assuntos precisam ser resolvidos mais depressa. — Essas foram suas palavras antes de se afastar, limpar o canto de meus olhos com o seu dedão e ligar o carro. Indo para um outro rumo.

Eu apenas encostei minha cabeça no banco, olhando a estrada sentindo um terrível alívio por saber que agora eu não carregava todo aquele peso sozinha.

O Amor NÃO Pode Curar IIOnde histórias criam vida. Descubra agora