Hannah parou o carro em uma praça tranquila.
Eu me lembro bem daquela praça.
Uma vez, quando ainda era bem pequena, Luke e ela marcaram de fazer um piquenique aqui. Foi um dos dias mágicos dos quais ainda me recordo.
(...)
— Aí a minha irmã pegou um cabo de vassoura e correu para se trancar no quarto. E adivinha? A bonita me deixou lá! Sozinho! Com a ratazana. — Estávamos todos sentados ao redor da toalha de piquenique enquanto Henry contava uma das suas histórias de vida. — Mas como eu sou um rapaz corajoso, Peguei o bichano pelo rabo e botei ele para fora.
Era impressionante o quanto Henry parecia corajoso! Ele não tinha medo nem mesmo de um rato. Eu admirava muito essa coragem e determinação.
— Nossa! Que legal! — Fui a primeira a dizer assim que Henry terminou a história.
— Você pegou mesmo um rato? — Luke perguntou com uma das suas sobrancelhas arqueada. Ele achava mesmo que Henry estava mentindo sobre aquela história incrível?
— Peguei pô. — Ele disse convicto daquilo.
— Sinal de que você é um menino corajoso. — Alice respondeu, acreditando também na história do menino.
(...)
Me lembro que nos sentamos todos debaixo de uma árvore enorme no meio do parque. Henry contava algumas história e me lembro que uma delas foi sobre um rato que ele matou.
Lembro que acreditei na sua coragem, mas hoje, vejo que era só um conto que ele inventou na tentativa de nos impressionar. E na época funcionou muito comigo.
Nos sentamos em uma sombra formada por uma árvore. Hannah admirava o local enquanto eu pensava em tudo que aconteceu nos últimos minutos.
— Você se lembra daqui? — Perguntou, observando algumas crianças que brincavam com uma bola.
— Sim... épocas boas. — Abri um pequeno sorriso.
— Você considera boa pelo fato de que não tinha muito pelo que se preocupar. — Arqueou uma sobrancelha. — Você desconhecia outras emoções além de alegria por estar com a família e amigos; tristeza por ir mal em alguma prova, por cair algumas vezes ou por ganhar um castigo porque não arrumou o quarto. Ah, e você também tinha a preguiça. — Isso me fez rir. — Essa era a emoção mais forte que habitava em você e Henry. — Eu gargalhei enquanto ela mantinha um sorriso amável no rosto. — Mas então... a Luna cresceu. — O meu sorriso aos poucos foi se desfazendo no rosto. — Ela descobriu novas emoções, novas responsabilidades, descobriu que agora ela é totalmente responsável por suas decisões e o seu futuro.
— É... a Luna cresceu e se perdeu completamente. — Suspirei, levando a mão até o rosto. Desapontada comigo mesma.
— Não acho. — Ergui os meus olhos. — A Luna não se perdeu, a Luna não está perdida. — Falou com total convicção. — A Luna está se moldando.
— O que quer dizer com isso? — A questionei.
— Luna, crescer não é apenas evoluir de tamanho ou aparência. Crescer é mudar, se transformar, amadurecer, se moldar, explorar e adquirir experiência. Crescer é uma constante modificação em si mesmo. — Hannah pegou em minha mão, encarando o fundo dos meus olhos. — Não significa que você se perdeu, Luna. Você ainda está se encontrando. Como pode perder algo que ainda nem encontrou? Você ainda está se moldando, está se transformando, amadurecendo, está explorando os novos caminhos que a vida tem te mostrado, você está criando as suas experiências. Não está se perdendo, está criando a sua própria história. Uma história que você precisa tomar cuidado enquanto escreve, para não cometer um erro do qual pode se arrepender quando chegar ao fim.
— Esse é o problema. Tenho medo de me arrepender das escolhas que tenho tomado. — Afastei a minha mão da dela, abraçando os meus joelhos enquanto ainda observava as crianças. — Eu estou com muito medo de crescer. Eu queria voltar a ser uma crianças. Longe de responsabilidades, com emoções bases e sem essa infernal preocupação em relação ao futuro.
— O medo é uma barreira que impede a felicidade. — A encarei. — Talvez o primeiro passo a ser tomado é vencer esse medo. Depois pensamos no resto.
(...)
Passei a tarde inteira conversando com Hannah. Ela me ouvia atentamente, entendendo os meus sentimentos e me aconselhando.
Contei a ela sobre a minha decisão de ir estudar medicina veterinária no Canadá e ela teve a reação que menos esperava: sorriu e disse que estava ansiosa para me ver formada cuidando de animais.
Contei a ela sobre minhas constantes brigas com Henry, sobre a última briga por conta da minha escolha e a decisão que tomamos em relação ao nosso relacionamento. Ela apenas me disse que eu tinha que pensar. Que se eu realmente o amava, devia pensar bem se aquela era uma boa decisão.
Me contou que o amor era puro, natural, leve. No amor não contém peso, pressão ou medo. Ele traz a certeza, a paz, a total confiança de que você quer pertencer aquela pessoa para o resto da vida.
Porque aquela pessoa tem o poder de acalmar a tempestade dentro de você. Porque só a sua voz, penetra o lugar mais profundo de sua alma, capaz de te libertar das prisões mais sombrias de sua mente. Porque ela é capaz de despertar o que há de mais bonito em você, te fazendo ser capaz até mesmo de florescer.
O amor estava ali sempre, nos momentos bons e ruins. Nos momentos de felicidade e nos de angústia. Não importa a hora, ele sempre estaria presente. E disposto a curar todos, e qualquer resquícios de dor dentro de você.
Esse era o amor que Henry me apresentou. Um amor jovem, novo, que despertou novas sensações dentro de mim. Um amor que me trouxe paz, que foi um conforto nos momentos difíceis, mas que também foi o principal motivo dos melhores momentos.
Eu o amava muito, principalmente porque sei do quanto o seu amor é grande por mim. Do quanto ele luta pelo nosso relacionamento e do quanto deseja que ainda fiquemos juntos.
Mas e se só o amor não fosse o suficiente? Temos tantas coisas no momento que nos impede de viver o mais puro amor...
Falei também um pouco sobre Bob. Hannah me disse que eu devia não pensar somente na falta que eu sentiria dele, mas no quanto ele está sofrendo. E que se eu estava causando dor em algo que eu digo amar, é realmente amor? Porque o amor não causa feridas, não é?
Me disse para pensar com calma, pois ela sabia que tomar decisões difíceis não era uma tarefa fácil.
Mas só de conversar com ela e pedir ajuda, eu sentia que uma grande barreira já havia sido quebrada.
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O Amor NÃO Pode Curar II
RomanceLIVRO II DA DUOLOGIA "O AMOR PODE CURAR". Luna vê o relacionamento de seu irmão com a sua cunhada como um espelho. Pois Luke e Hannah sempre estiveram ali no momento mais difícil um do outro. Viveram longos anos juntos e agora finalmente iam se casa...