O Amor NÃO Pode Curar II

06. Tá bom, você ganhou.

Narrado por Henry.

Eu estava na frente do colégio, aguardando Luna. Talvez eu esteja agindo errado. Ultimamente não tenho me dedicado ao nosso relacionamento como antes. Talvez eu esteja fazendo ela entender que não é tão especial para mim, mas ela é. É muito especial para mim.

Quando se encerrou nossas aulas, não consegui chegar até ela pelo fato de Ben me puxar para mostrar seu novo jogo de vídeo game. Quando me dei conta, a menina já havia saído da sala.

Tentei até mesmo correr atrás dela, mas Grace me pegou no meio do caminho. Falando coisa tão insignificante que eu apenas ria para cortar o assunto.

Como até agora não a vi passando, acredito que já tenha ido embora.

Meu celular começou a tocar e eu o peguei de pressa, desejando ser a menina. Mas não, era Luke.

— Alô? Henry você tá ocupado? — Ele perguntou assim que eu atendi o telefone.

— Estou indo para casa agora, por quê? — Perguntei, parando no ponto de ônibus.

— Então espera aí na escola, tô chegando. — E assim, ele desligou o celular, me deixando ali sem entender nada.

Luke chegou uns dez minutos depois da ligação, com um óculos escuro e um som alto no carro.

— Entra aí, cunhado. Vamos ali rapidinho. — Ele abriu a porta do carro, e eu entrei com uma certa desconfiança.

— Para onde vamos? — Perguntei, notando alguns aparelhos nos bancos de trás. Tudo que ele usava nas suas sessões de fotos.

— Vamos na casa nova. A casa que vou morar com Hannah depois do casamento. — Ele sorriu, passando a marcha e andando o carro.

O homem cantou o caminho inteiro as músicas que passavam na sua playlist. Meu Deus, só música horrorosa.

— Você tá feliz, né? — Perguntei, olhando com uma careta para ele.

— E você tá triste, né? — Arregalei os olhos assim que ele me encarou com os olhos estreitos. — Eu e Hannah estávamos conversando hoje de manhã sobre você e Luna. Temos visto a mudança do humor de vocês ultimamente. E para um casal que vive grudado, é estranho ver o quanto vocês estão afastados. — Suspirei ao ouvir aquilo. Se eles dois já começaram a entender o que tem acontecido entre nós, é porque as coisas não estão indo nem um pouco bem.

— Só estamos passando por uma situação difícil. — Soltei, abaixando aquele som horroso que ele chamava de música.

— Quer conversar sobre? Quem sabe assim eu possa te ajudar. — Arqueei a minha sobrancelha.

— Você não sabe nem escolher música, acha mesmo que pode me ajudar com as questões do meu relacionamento? — Ele se surpreendeu com a minha resposta.

— Bom, eu vou me casar com a sua irmã. — Rebateu, com um olhar desafiador.

— Tá bom, você ganhou. — Começou a rir enquanto eu formulava o que dizer na cabeça.

Eu não sei bem o que fez o nosso relacionamento se desgastar dessa forma. Acho que talvez seja o fato das nossas conversas nunca resolverem o real assunto. Nenhum dos dois parece dizer o que incomoda mesmo, o que falta, o que tá criando uma barreira no nosso meio.

Ela já chegou algumas vezes a me dizer que não gostava que eu fosse em festas ou o fato de não gostar de alguns dos meus amigos, mas será que esse era o único motivo disso tudo? Porque me parece que vai muito além disso.

Nunca parece estar satisfeita ao meu lado, sempre tem algo para reclamar e ultimamente venho sentindo que eu não atinjo mais o seu tipo ideal de namorado. Mas ela nunca parece disposta a resolver nossa situação. Sempre que de alguma forma sentamos para conversa, acaba com gritaria, brigas e acho que de uns meses para cá, não tivemos uma única lembrança boa.

Portanto que a última memória boa que tenho, foi no Natal.

— Não sei... as vezes me parece que estou perdendo ela. — Respirei bem fundo, tentando não pensar naquilo.

Era muito assustador a ideia de não ter Luna mais em minha vida. Foi a primeira garota que eu amei e a única que pretendo amar. É a pessoa que mais me conhece nesse mundo e a que tenho as melhores lembranças, desde que éramos menores.

— Por que diz isso? — Luke perguntou, com uma certa preocupação nos olhos.

— Estamos passando por um momento muito turbulento no relacionamento. Não concordamos mais com muita coisa, nossas conversas sempre terminam em brigas por opiniões diferentes e sempre que tentamos consertar as coisas, elas acabam mal. —  comecei a cutucar os meus dedos porque finalmente a minha mente entendeu que aquela situação não era normal, precisava ser resolvida antes que chegasse a ruína do relacionamento. — Luna ultimamente está sendo bem mandona. Como se quisesse que eu agisse como ela. Porque ela fica vidrada nos estudos e a única coisa que sabe falar é sobre o futuro, ela acha que devo agir como ela. Acha que não devo sair, não devo falar com os meus amigos, não devo me divertir. — Suspirei, como se aquilo estivesse me sufocando. — Eu sei que as vezes exagero. Sei que tem dias que ela somente precisa da minha companhia e eu não estou lá porque estou com os meus amigos. — Engoli a seco. — Eu venho mudando isso. Porque somos namorados e precisamos mudar um pelo outro. Mas não vejo a mudança nela.

Luke apenas ouvia atentamente cada palavra minha, ele entendia que naquele momento eu só precisava ser escutado antes de me dar as broncas necessarias.

— Ela não parece mais me querer por perto. Prefere ficar sozinha do que sei lá, sair para algum lugar comigo. Não se abre mais, não sei o que se passa na cabeça dela. E como podemos resolver as questões se ela não fala? Sempre que sentamos para conversar ela nunca diz, e quando diz é sempre gritando e me mandando parar de falar. A maioria das vezes em que consertamos a situação, é porque eu precisei abaixar a guarda. Eu não sei mais lidar com ela... e olha que nos entendíamos tão bem.

— Nossa... eu não imaginava que as coisas estavam assim. — Luke falou assim que o silêncio se instalou.

— Nem eu. Eu percebi agora que as coisas estão mais complicadas do que eu imaginava. — Suspirei. — Mas eu ainda a amo tanto. Quero tanto resolver as coisas e tenho tanto medo de machuca-la. Luna é muito especial para mim.