32. Eu fui aceita.

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— Estou tão ansiosa para te conhecer pessoalmente! — Kate estava em uma ligação de vídeo comigo. Daqui a dois dias, ela e sua família estariam a caminho para o casamento de Hannah e Luke, que aconteceria nesse final de semana.

Desviei o meu olhar da tela do notebook e encarei o meu vestido que estava pendurado atrás da porta. Quando saí com Hannah, Aurora e Alice para comprar o vestido, as três me disseram que eu estava proibida de usar preto no casamento. Disseram que não podia ir em um casamento de preto ou branco, e eu arregalei meus olhos vendo que eram as cores que mais vestia.

O branco era até compreensivo, já que essa era oficialmente a cor da noiva, mas fala sério, por que eu não podia usar preto? Acabei optando por um vestido que era de um rose magnífico, confesso que me fez esquecer quase de imediato do preto. O vestido tinha um corte em V, os ombros tinham um formato de blazer e as mangas longas, até o pulso, com um certo volume bufante. A saia do vestido era rodada e batia um pouco acima dos joelhos. Ele era simples, mas maravilhoso.

— Você já entrou no site para ver se foi aceita? — Kate chamou a minha atenção, fazendo com que meu olhar voltasse para a tela do notebook. Aquilo me fez mergulhar em um mar de pensamentos que eu confesso estar evitando desde a formatura a uns quatro dias atrás.

Eu já tinha certeza do que desejava: eu queria ser aceita, eu acreditava que podia me sair bem. Da mesma forma que empurrei enfermaria por um ano, tenho certeza que seria uma ótima profissional se me dedicasse. Eu amava os animais, amava ser útil e a sensação de salvar um deles seria ótima. Não via como a profissão poderia influenciar negativamente a minha vida. Ah não ser que eu tivesse que tratar de um com a mesma doença de Bob, talvez isso ainda seria um tópico sensível.

E falando de Bob... decidi que não quero mais vê-lo naquela situação. Não quero mais ser egoísta ao ponto de fazê-lo sofrer para que o meu coração se mantivesse inteiro.

Quando liguei para a veterinária na manhã de ontem, ela me disse que eu poderia levá-lo a qualquer momento para sacrifica-lo. E me auxiliou dizendo que eu não estava sendo cruel de pensar nessa maneira, e que na verdade, estava sendo humana.

Eu confesso que chorei muito ao pensar que teria que me despedir do meu companheiro. Do que me compreende, sem ao menos entender o que eu digo. Um cachorro era como um amigo.

Decidi marcar o seu sacrifício para uma semana depois do casamento dos pombinhos. Eu não queria trazer tristeza em dias tão festivos, mas eu precisava fazer isso antes da faculdade.

Eu não sei se deveria comentar isso com Henry, mas de qualquer forma, eu o faria. O cachorro não era apenas meu, eu não devia ser egoísta a esse ponto. Mas fiquei pensando por um tempo de que forma eu diria que decidi sacrifica-lo.

— Estou com um certo medo de entrar. — Declarei, me lembrando de que a menina ainda estava comigo na linha. — Se eu não passar, acho que não tenho muitas opções.

— Vá olhar o site! — Ela me incentivou. — Eu ainda nem acredito que consegui a minha vaga. Meus pais ficaram tão orgulhosos. — Isso me fez lembrar que eu ainda não contei ao meu pai que não pretendo fazer faculdade aqui. — Olha logo! Não fica se torturando desse jeito!

Eu acabei abrindo uma outra aba no notebook e abri o meu email, notando que havia um diretamente da Universidade. Meu estômago embrulhou quando olhei para ele.

— E aí? — Escutei a voz ansiosa de Kate.

Eu cliquei com um certo receio no email e comecei ler frase por frase. Minha esperança foi caindo a cada palavra, até que as últimas letras formaram as palavras "Parabéns, você foi aceita em nossa Universidade para o curso de medicina veterinária. Entre em nosso site para mais informações."

Eu fui aceita...

Minha reação foi a mais confusa possível. Eu estava feliz, eu realmente me sentia feliz. Mas era estranho pois naquele momento, eu provavelmente ligaria para Henry e contaria com todo fôlego que me restava, essa maravilhosa conquista. O interessante era que nesse momento, eu estava feliz pela conquista, mas não tinha ele por perto para me abraçar, me elogiar e dizer "eu sabia que conseguiria". Ele não estava ali para me aplaudir.

— Me diz! Estou ansiosa. — Ela dizia eufórica.

— O site não quer abrir, acho que muitas pessoas devem estar acessando. — Eu fechei o site e voltei para a chamada, tentando abrir o meu mais simpático sorriso.

Quando me tornei uma mentirosa tão boa?

— Ah... que pena. Mas com certeza mais tarde já deve estar acessível!

Passei mais algumas horas conversando com Kate e montando todos os nossos planos caso eu fosse morar lá. Ela me contou tudo que me mostraria, tudo que faríamos, cada pequeno plano que formava em sua cabecinha. Tenho certeza que meus cinco anos no curso veterinário seriam os mais doidos possíveis ao lado dela. Gostava disso.

Desliguei a chamada quando percebi que Hannah me ligava. Me despedi de Kate e conectei Hannah na chamada dessa vez. Ela atendeu com uma expressão estranha no rosto.

— O que houve? — A questionei, com uma certa preocupação.

— Estou tendo pressão pré casamento. Não sei como resolver isso e acredito que nem a psicologia me ajude nesse momento. — Ela respirou bem fundo e notei o quanto realmente estava nervosa.

— A incrível psicóloga Hannah Brown está tendo problemas com ansiedade? Não é possível! Precisamos dá um jeito nessa situação. — Eu ri um pouco, vendo que ela não achou a mínima graça. — Ah sim, tudo bem, a situação é séria então, né? — Concordou com a cabeça. — Hannah, você está planejando isso desde que Luke ajoelhou naquela noite de Natal e pediu a sua mão em casamento. Fala sério! Você é genial e não tenho dúvidas de que tudo sairá perfeito, do jeito que você deseja. Será uma noiva deslumbrante, com um noivo amável, um casamento elegante, convidados adoráveis e será feliz para o resto da sua vida com o tal do amor que cura sua alma ou algo assim. — Hannah abriu um sorriso tão grande que se seguiu com uma risada baixa.

O Amor NÃO Pode Curar IIOnde histórias criam vida. Descubra agora