— Eu sinto muito também. — Sentamos um ao lado do outro, encarando a janela do quarto e pensando em tudo aquilo que diria. — Sabe, Henry. Eu acho que estamos passando por uma fase difícil. — Encarei o menino vendo sua fisionomia mudar. — Nunca discordamos em muita coisa. Sempre gostamos das mesmas coisas que o outro e ultimamente isso tem mudado. Discordamos muito agora.
O menino ficou alguns segundo me encarando, até que abaixou o seu olhar e respirou fundo.
— Você não está pensando em terminar, né? — Soltou de repente, como se as palavras fossem difíceis demais para proferir.
— Não! Não foi isso que eu quis dizer, me desculpa. — Me aproximei do menino, tocando a ponta de seu queixo para que me encarasse. — Eu só estou dizendo que precisamos aprender a lidar com essa parte difícil um do outro. Pelo bem do relacionamento.
— Nossa... que susto! — Levou a mão ao peito, o alívio nítido em seus olhos. — Eu comecei a imaginar minha vida sem você, e meu Deus do céu, que horror! Acho que não funciono sem você. — Abriu um leve sorriso, que me fez sorrir também.
Era engraçado que mesmo ele dizendo essas coisas, eu não parecia sentir mais o amor como antes.
— Olha só, Luna. — Chamou a minha atenção. — Eu te amo. Eu te amo muito e eu tenho a absoluta certeza de que quero você para o resto da minha vida. Eu faço de tudo para continuar tendo você do meu lado. — Passou seu braço pelo meu pescoço, me fazendo encostar a cabeça em seu peito. — Se você se incomoda com as minhas saídas, vou dar uma parada. Se a minha falta de irresponsabilidade te incomoda, eu vou mudar, isso é uma promessa. Não quero perder você por coisas tão bobas.
Essa era a primeira vez que ele dizia aquilo. De todas as nossas brigas, ele sempre me perguntava o que tinha de errado em querer sair, ver os amigos e jogar o quanto quiser. Mas dessa vez não, dessa vez ele reconhecia que estava exagerando.
— Pode me desculpar e me dar uma oportunidade de fazer diferente? — Perguntou, encostando sua cabeça na minha.
— Eu te desculpo. — Ouvi sua risada baixa e então começamos a rir. Baixinho e tão felizes por estar resolvendo finalmente um problema. — Me desculpa também. Eu sei que as vezes exagero. É claro que pode sair com seus amigos, mas talvez pudesse dar um pouco mais de atenção para mim.
— É claro que sim. Minha atenção sempre vai ser sua. — Declarou assim que depositou um beijo em minha cabeça.
— Acho muito bom! — Ele riu levemente e se levantou, se afastando um pouco de mim. Colocou o celular e a chave do carro na mesa, indo em direção ao banheiro.
— Um minuto que eu vou ao banheiro. — Foi saltitando até lá e eu me levantei também, rindo da sua ação.
Caminhei em direção a mesa para pegar o meu celular quando a tela do telefone de Henry acendeu. Revelando uma mensagem de um número desconhecido.
"Qual a boa, gatinho? Te vi hoje na festa e peguei seu número com um dos seus amigos, bora ficar quando?"
Aquela simples mensagem foi suficiente para acender uma raiva muito grande dentro de mim. Então quer dizer que ele estava em uma festa em pleno domingo, rodeado de garotas e não me enviou uma mensagem mesmo quando passamos o dia inteiro brigados? Precisou ser minha a iniciativa para ele vir conversar?
Quando atendeu o celular, eu já imaginava que estava em uma festa por conta da música alta. Mas depois de todo aquele pedido de desculpas eu imaginei que havia apenas passado por um lugar muito barulhento, mas não! Ele nitidamente foi distrair a cabeça para esquecer de mim.
— Amor, será que se raspar a sobrancelha toda com gilete ela demora muito para crescer? — O menino saiu do banheiro com uma gilete nas mãos. Ele olhou para mim e notou o seu celular em minhas mãos e uma expressão furiosa em meu rosto.
— Onde você estava mais cedo? — Perguntei, controlando a minha voz.
— Por que essa pergunta? Aconteceu algo? — Ele se aproximou de mim e tentou tirar o celular de minhas mãos, mas foi em vão pois eu me afastei. — Por que está com o meu celular?
— Por que a pergunta? Você tem mais alguma coisa para me esconder? — O encarei, vendo a sua expressão incrédula.
— Esconder? Do que você está falando, Luna? O que é que eu tenho para esconder de você?
— Você estava em uma festa antes de vir para cá, não é? — Ele engoliu a seco, como se não soubesse o que dizer. — Mais uma vez se divertindo com aquelas pessoas que não estão nem aí para nada! Não se importam com você e só querem ver tudo que você conquistou sendo destruído, Henry! A prova disso é o seu amiguinho que mandou o seu número para uma garota! Uma garota que nitidamente quer você. — Estendi o celular para o menino que viu a mensagem na tela e me encarou balançando a cabeça para os lados. — Se fosse seu amigo e tivesse um pingo de noção, preservaria o seu namoro. E você ainda diz confiar nesse tipo de pessoa.
— Me desculpa. — Ele tentou se aproximar, mas me afastei mais uma vez. Sentindo raiva por ele ser tão ingênuo. — Eu fui na esperança de me divertir. Eu juro que pensava em passar aqui depois para resolver os nossos problemas!
— Henry, vai embora. — Olhei no fundo dos olhos dele, estendendo a minha mão em direção a porta. — Por favor, me deixa sozinha. Não estou com vontade de escutar o que você pensa agora. — Seus olhos se encheram de lágrimas, como se estivesse muito arrependido.
Senti meu coração se partir ao ver o menino abaixar o olhar e uma lágrima escorrer de seus olhos. Ele tomou a chave do carro e foi em direção a porta, olhando uma última vez para mim.
— Eu acho que é uma fase muito difícil... — Foi a última coisa que disse antes de passar pela porta com o rosto tomado de tristeza.
A porta bateu e fez um barulho tão estrondoso quanto o som do meu coração se partindo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Amor NÃO Pode Curar II
RomanceLIVRO II DA DUOLOGIA "O AMOR PODE CURAR". Luna vê o relacionamento de seu irmão com a sua cunhada como um espelho. Pois Luke e Hannah sempre estiveram ali no momento mais difícil um do outro. Viveram longos anos juntos e agora finalmente iam se casa...