— Henry... — O chamei ao ver que ele passou por mim e foi em direção ao exames. Ele folheou e leu com atenção um em específico. Até que se virou para mim com um olhar incrédulo. Ele estava com raiva. Eu nem imaginava o que se passava em sua cabeça naquele momento.
Talvez pensamentos como "como ela não me contou isso?" ou então "suas desculpas foram falsas porque continua a cometer o mesmo erro". Talvez nesse momento ele esteja pensando que realmente não confio nele, que essa foi a prova que precisava.
— Henry, eu ia te contar. — Me aproximei do menino. Henry ainda carregava seu semblante incrédulo. Ele balançou a cabeça para os lados, em negação. Como se estivesse ainda processando aquilo tudo.
— Foi por isso que não me respondeu sobre Bob? Não queria contar? — Ele soltou uma risada. Mas aquela risada não era um deboche ou ironia, era uma risada de completo choque. — Quando você vai entender que fazendo isso não está apenas se prejudicando como também prejudicando as pessoas ao seu redor?! Meu Deus, Luna! Meu cachorro está morrendo e você não teve a merda da consideração de me contar! — Levou a sua mão até os fios de seu cabelo, respirando fundo. — Isso é inacreditável! Está me pedindo desculpas por algo que acabou de cometer de novo. É realmente impressionante.
— Henry, eu está planejando contar! — Tentei justificar, mas ele apenas ignorava aquilo tudo com um sorriso perplexo.
— Quanto tempo você estava planejando me contar? — Franziu o cenho.
— Henry... — Suspirei. Estava com medo. Logo quando eu tentei consertar as coisas, quando segui exatamente o conselho de Hannah, quando confiei e contei tudo aquilo que estava guardado há muito tempo dentro de mim. Onde foi que eu errei?
— Vamos descer. Estou com fome. — Henry colocou os papéis de volta na mesa e saiu do quarto, sem nem ao menos me encarar nos olhos.
Eu estava sentindo uma dor insuportável no estômago. Um medo, uma angústia, uma sensação de culpa... era incrível que mesmo tentando fazer o certo, eu consegui errar. E agora o cenário se inverteu e é ele que não deseja conversar.
Eu não imaginava o quanto o silêncio podia doer.
E diante daquele cenário, eu me recordei sobre o que Hannah disse sobre o amor. Sobre o fato dele ser puro, sem dor, estar com você no seu momento de mais necessidade, te dar forças, curar suas feridas mais profundas...
Por que é que naquele momento o amor doía tanto?
Eu observei Bob, quietinho no canto dele, dormindo. Era a única coisa que ele ainda conseguia fazer, mesmo com uma dificuldade imensa. Eu sentia falta do meu cachorro elétrico, que não podia me ver chegar que fazia a maior festa, que gostava de brincar e correr para todos os lados. Eu sentia falta desse lado de Bob. Agora ele não tinha forças para se levantar, não aguentava nem andar direito, quem dirá correr. Ele não sentia alegria o suficiente para desejar brincar e sua dor era tão grande que me ter por perto não amenizava isso.
O fato de vê-lo sofrer dessa maneira tendo o poder de tirar essa dor dele, fazia eu me sentir culpada e egoísta por ainda o querer por perto.
Eu acariciei os pelos do cachorro e sua única reação foi balançar o rabinho umas quatro vezes. Eu sorri com aquele simples gesto.
— Você ainda tá aí, né? — Respirei fundo, evitando as lágrimas. — Eu não posso te forçar a continuar vivendo... né? Isso tá acabando com você só porque eu estou evitando acabar comigo. — Eu ainda controlava a minha respiração, vendo que meus olhos se encheram de água. — Não posso continuar fazendo isso...
Abracei os meus joelhos, apoiando o queixo sobre eles, observando cada detalhe do animal. Tentando gravar pela última vez, a sua imagem.
(...)
Conversei com Hannah sobre como Henry ficou ao descobrir sobre Bob. Hannah me aconselhou a deixá-lo pensar um pouco, pois logo iria querer conversar de novo.
Henry era o tipo de pessoa que odiava brigar, odiava não conversar pois isso o deixava nervoso. Ele quer resolver as coisas no momento em que são causadas. Pois detesta discutir e até se magoa com isso.
Eu decidi esperar. Aproveitar o baile de formatura ao lado das pessoas que gosto e me divertir. Afinal, não era todo dia que você se forma, não é? Eu finalmente concluí o colégio, era motivo de comemoração.
Henry se arrumou aqui, porém, por conta da briga, ele resolveu que sair mais cedo seria melhor. Aquilo me magoou um pouco já que esse deveria ser o nosso baile. O baile em que nós dois estaríamos felizes por estar concluindo o ensino médio.
Mas acontece que os dois contribuíram para que isso não acontecesse. Os dois não controlaram suas atitudes infantis pois acreditavam ter a razão. E agora os dois se encontram nesse cenário do relacionamento onde não sabem se vale a pena continuar.
O relacionamento a dois não é se moldar para que ambas as partes se encaixam? Não é lutar um pelo outro? Eu via que agora, não estávamos mais lutando. Aos poucos, ambos estavam abandonando essa luta.
Eu coloquei o salto nos pés e me encarei no espelho. O vestido ficou muito bom em mim, talvez seja porque eu experimentei na loja. E quando experimentei, eu achei que não estava muito bom até Hannah e a atendente elogiarem o vestido em meu corpo. Agora, completamente arrumada, com o vestido no corpo e o salto nos pés, eu me senti bem com a minha aparência.
Eu estava bonita. Muito bonita.
— Uau. — Olhei para trás me deparando com Luke e Hannah me encarando com os olhos brilhando. — Você está magnífica, minha irmã.
— Está linda, cunhadinha. — Hannah veio até mim e percebi que consegui, com os saltos, ficar um centímetro maior que a mulher.
— Gostaram? Está aprovado? — Dei uma voltinha. Hannah e Luke aplaudiram enquanto eu ria.
Eles também estavam arrumados para ir e acredito que meu pai e Alice estavam terminando de se arrumar.
Hoje era um dia importante. Um ciclo se encerrava em minha vida.
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O Amor NÃO Pode Curar II
RomanceLIVRO II DA DUOLOGIA "O AMOR PODE CURAR". Luna vê o relacionamento de seu irmão com a sua cunhada como um espelho. Pois Luke e Hannah sempre estiveram ali no momento mais difícil um do outro. Viveram longos anos juntos e agora finalmente iam se casa...