22. O eterno.

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Narrado por Luna

Quando Henry saiu pela porta do meu quarto, senti como se o meu mundo estivesse desmoronando. Eu decidi dar um tempo com a pessoa que mais amo, a pessoa que me fez descobrir sobre o amor, a pessoa que esteve comigo em praticamente todos os momentos da minha vida. Eu decidi dar um tempo...

Eu ainda chorava quando o meu pai entrou no quarto, perguntando se eu queria conversar um pouco. Eu neguei. Mais uma vez neguei.

Alice veio logo depois, com certeza a pedido do meu pai. Ela me trouxe um achocolatado e deixou em cima da mesa, dizendo que estaria disponível se em algum momento eu desejasse falar.

Eu desejava falar, eu realmente queria. Mas expor as suas emoções sempre parece uma tarefa muito difícil.

Eu tomei a inscrição pela mão e a pendurei de volta no quadro de avisos, dessa vez, visível para todos.

Eu realmente devia ter o avisado. Não somos um casal? Um casal não trabalha junto? Ambos tomando as decisões? Pelo menos é o que eu vejo quando observo Luke e Hannah. Desde que ficaram juntos, sempre estavam ali auxiliando um ao outro, em qualquer decisão.

Talvez eu tenha errado em esconder isso, mas não foi por mal. Eu pretendia contar, mas contar agora não me parecia importante, já que acabei de fazer a inscrição. E se eu não fosse aceita? Não teria a necessidade de contar.

Respirei fundo quando notei os exames de Bob embaixo do meu caderno. Ele não os viu. Talvez se tivesse visto, diria que é mais uma coisa da qual eu escondo. Mas acontece que essa eu não sei como contar, ainda mais agora. Os exames deveriam sair amanhã, ele provavelmente deve lembrar e perguntar de alguma forma.

Coloquei os exames de volta no envelope e os guardei dentro da mochila, pensando em entregar amanhã a ele.

Deitei minha cabeça no meu travesseiro e fechei os olhos, tentando não pensar em mais nada.

(...)

Acordei naquela manhã vendo o quanto o meu rosto estava inchado. Acho que passei mais tempo do que deveria chorando ao invés de dormir.

Resolvi tomar um banho para despertar. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo com algumas mechas soltas, coloquei o uniforme do colégio e peguei a mochila, saindo de casa rapidamente.

Normalmente eu costumava comer alguma coisa, esperar meu pai acordar para o trabalho e me cumprimentar, mas hoje não me parecia um bom dia para isso.

Liguei o carro e segui o caminho em direção a escola. Eu sentia os meus olhos marejados, sentia o meu coração ainda angustiado. E tudo isso em uma manhã de sexta-feira.

Quando parei no sinal limpando algumas lágrimas que escorriam pelo meu rosto, ao longe, perto de uma árvore, notei um passarinho caído no chão se debatendo. Se eu não me engano, era um bem-te-vi, seu peito amarelo é reconhecível até por quem nunca estudou sobre pássaros, o que é o meu caso.

Estacionei o carro em uma calçada próxima e corri até o passarinho, vendo que uma de suas asas estava machucada. Eu não podia deixá-lo ali. Um bicho poderia o pegar e até mesmo alguém poderia pisa-lo.

Peguei a toalhinha que usei para enxugar os olhos e a dobrei, colocando a ave no meio dela. Voltei para o carro com ela em mãos, analisando atentamente a sua asa, era um ferimento grande. Talvez porque caiu do ninho. Coloquei-a no banco de carona a ouvindo assoviando.

Peguei o meu celular e liguei para a veterinária de Bob, talvez ela pudesse fazer algo por ele. E como o consultório não abria agora, eu só poderia fazer algo por ele depois do colégio.

A recepcionista me atendeu depois de uns segundos. Ela marcou o horário para mim e disse que estaria aguardando.

Eu liguei o carro novamente e voltei ao meu caminho.

(...)

Assim que pisei na escola, observei alguns olhares sobre mim. Mas é claro que estavam me olhando, eu carregava um Bem-te-vi enrolado em uma toalha. Não podia deixar o bichinho preso dentro do carro.

Andei pelo pátio até que notei Aurora conversando com um dos amigos de Henry. Eu não sabia bem se ela estava conversando pois seus olhos estavam focados no livro em suas mãos. Eu acho que ele, na verdade, estava atrapalhando a leitura dela.

Uma coisa que eu acho interessante na nossa amizade é que sempre que chego falando com ela, a menina nunca divide a sua atenção entre o livro e eu. Sua atenção é sempre minha, e o livro perde por alguns instantes.

A observei, pensando se seria uma boa ideia me aproximar. Porque segundo Henry, ela me esperou na festa de ontem e ficou sozinha. E sei que estar sozinha é um medo terrível que ela sente.

A menina levantou o olhar e me encarou por alguns segundos. Ela não falou nada, não gesticulou nada, apenas me encarava. Ben, que estava ao seu lado, percebeu a situação e apontou para uma direção, se levantando e saindo logo em seguida.

Eu não sabia se me aproximar seria a coisa certa, mas mesmo assim, eu resolvi tentar. Talvez a ideia de ver a menina magoada comigo me deixasse ainda mais chateada.

Me sentei ao seu lado vendo que ela ainda seguia com os olhos cada passo meu. Aurora olhou o passarinho em minhas mãos e abriu um sorriso.

— Por isso que Fred não atendeu a minha cantoria essa manhã. — Ela levou a mão a testa, me deixando confusa. — Você nocauteou o meu passarinho!

Demorei alguns segundos para entender que ela estava se referindo ao fato da princesa Aurora cantar para os animais.

— Me desculpa, princesa Aurora! Esse aqui estava rebelde. — Eu mostrei para ela, vendo que a menina começou a gargalhar. Quando as risadas cessaram, eu observei o livro em suas mãos. Era "alice no país das maravilhas". Bem a cara dela.

— Está em que parte? — Perguntei, vendo-a olhar para o livro.

— Estou em uma parte que estava me fazendo refletir muito sobre. Mas infelizmente, Ben estava estragando a minha reflexão com o que aconteceu no jogo de basquete deles lá. — Ela suspirou, me fazendo rir.

— O que te fez refletir? — A questionei, continuando o assunto.

— Estou lendo o diálogo da Alice com o Coelho. O diálogo em que Alice pergunta a ele quanto tempo dura o eterno. — Aurora sorriu. — E ele diz que o eterno as vezes pode durar um único segundo. — Desviei o meu olhar da menina, vendo Henry sentado distante dos amigos. Ele estava com os fones de ouvido e um livro em mãos. — E eu comecei a me questionar sobre o eterno, o para sempre, o infindo... nós costumamos tantos fazer promessas eternas, sendo que nós mesmo somos temporários. Dizemos que estaremos lá para sempre, que amaremos para sempre, que seremos amigos para sempre. Mas e se o infindo não for para sempre? Consegue me entender? — Ela me encarou, com um leve sorriso — E se o infindo durar apenas um único segundo? Sendo assim, o para sempre é eterno até onde durar.

O Amor NÃO Pode Curar IIOnde histórias criam vida. Descubra agora