Isso sou eu

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Selenia

" - Você é estranha. - Lucy muller disse pela terceira vez, fazendo meus coleguinhas rirem. - Selly Aberração! - Ela cantarolou.

Não sabia como responder a ela então só abaixei a cabeça e esperei que a aula acabasse.

Corri para casa e com um sorriso nos lábios entrei pela porta da cozinha, sentindo cheiro de purê de batatas e filé.

- Oi mãe. - Disse rápido e corri até o escritório de Preston Donavan. Meu padrasto, mas a porta estava trancada.

Nós tínhamos uma conexão muito forte, como se fossemos realmente pai e filha, eu sempre quis ter um pai, como toda criança de 10 que não tem. E ele realizou meu sonho, se juntando a família.

Esperei a tarde toda para que ele abrisse a porta.

Não almocei, não tomei café, nem mesmo banho.

Era muito nova para entender que se a porta estava trancada era porque ele não queria que ninguém entrasse.

- Eu não quero saber de nada disso. - Ele dizia, mas eu insistia em lhe contar como havia sido meu dia na escola depois de ter conseguido entrar.

- Nós aprendemos expressões numéricas e... - Ele atendeu o telefone.

- Não Frederico, eu irei o quanto antes. Não fico mais aqui. - Então ele desligou e se levantou.

- Você vai embora? - Ele não respondeu. - Por favor, não vá embora.

Ele me segurou pelos braços e me chacoalhou.

- Pare de perguntar, eu não sou surdo, droga. - Solucei e assenti.

- Eu não irei a lugar algum, Selenia.

- Promete? - Meu olhos já se enchiam d'água. - Você não pode me deixar.

Me agarrei a suas pernas.

- Eu te amo. - Disse com a voz embargada.

- Eu não irei a lugar algum."

Naquela noite ele me fez dormir, cantou para mim. Eu me senti feliz, pois nunca havia ouvido sua voz cantando. Ele era meu anjo, meu amigo, meu protetor, meu pai.

Quando eu acordei ele não estava.

Eu o procurei por toda a casa, seu guarda roupa estava vazio.

Quando cheguei a sala de estar minha mãe estava lá com os olhos marejados e um bilhete em mãos. Olhando para a parede. Sem se mexer.

Meu pai nos deixou.

Sem mais nem menos.

Como um ponto final no meio da frase.

Quando Crixus me segurou daquela maneira e gritou comigo, tudo que eu quis deixar no passado voltou com força, me deixando desnorteada.

Sem rumo.

Cheguei ao hospital depois de passar no banco e tentar reaver meus cartões de crédito e debito, eles chegariam em dois dias.

Falei com minha mãe pelo telefone público, o que a assustou um pouco, mas depois expliquei toda a situação, cortando a parte de ter sido atropelada.

Doutor Lewis me mostrou a sala de Crixus e me deixou lá dentro, dizendo que ele chegaria.

Debrucei-me na pequena mesinha, onde, com os olhos marejados pelas lembranças amargas eu acabei dormindo.

AmávelOnde histórias criam vida. Descubra agora