A volta

5.1K 433 9
                                    


When I was younger I saw

My daddy cry and curse at the wind

He broke his own heart and I watched

As he tried to reassemble it

And my momma swore that she would

Never let herself forget

And that was the day that I promised

I'd never sing of love if it does not exist

But, darling, you are the only exception

Well, you are the only exception

Well, you are the only exception

Well, you are the only exception

Quando eu era jovem, eu vi meu pai chorar e amaldiçoar o vento.

Ele partiu seu próprio coração e o meu, ao me deixar.

Minha mãe jurou que ela nunca mais se deixaria esquecer que ele foi embora, e foi nesse dia que eu prometi que nunca mais cantaria sobre amor se ele não existisse

Mas você é a única exceção, Crixus.

***

Selenia Bryce

Assim que coloquei meus pés dentro de Miway Medicine, todos olharam para mim.

Com pena, dor, compaixão.

Eu já não tinha mais força para encarar o que quer que fosse.

Meu coração acelerava cada vez mais.

Meus pés começaram a agir sem mim e me levaram até a sala de Crixus.

Eu abrir a porta mais forte do que desejado não influenciou muito na visão que tive assim que entrei.

Crixus estava sentado com o rosto e os braços na mesa, a doutora Lunardi gritava com ele coisas as quais eu não dava atenção.

A única coisa que me prendia era vê-lo tão vulnerável, como naquele dia, na sala de cirurgia.

- Você não pode! Não pode! - Jhennifer gritava histérica.

- Crix... - Ele levantou os olhos assustado, e logo veio em minha direção.

- Sel... - Ele me abraçou forte, aconchegando-se em meu corpo. - Eu te amo.

Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. - Ele disse contra meu pescoço.

- O que está acontecendo? - Meus olhos se encheram d'água.

É impressionante como nosso coração sabe, sente, quando algo está para acontecer.

- Crixus...

- Selenia! - E então eu ouço uma voz.

Seca e forte. Lembrava-me bem dela, uma voz que antigamente fazia parte da minha vida.

Preston Donavan.

Meus olhos estão arregalados e os de Crixus também, as lagrimas agora não estavam mais contidas. Caíam tão rapidamente que eu não as podia impedir.

Ele deu um passo até mim e eu afastei um passo.

Crixus se pôs em minha frente.

- Ela não merece isso, Donavan. Não faça isso a ela. - Não conseguia processar a conversa dos dois, ainda não conseguia processar que meu pai estava em minha frente.

- Mas você merece. - Preston diz com ódio.

Crixus se vira para mim e se põe de joelhos.

- Eu juro que não sabia, Selenia você tem que acreditar em mim. Tem que acreditar! - Ele segura minhas mãos e as minhas lagrimas de repente se tornam as dele.

Nunca.

Nunca o vi chorar antes. E com terror mirei meu pai.

- Seja o que for... - Um nó surge em minha garganta. - Diga. Apenas diga. - Aperto forte as mãos do homem que eu amo e então Preston se pronuncia.

- Ele matou meu Filho! Esse filho da puta matou meu filho!

Crixus agora chora alto e soluça.

Eu estou em choque. Não consigo me mover e meu pai grita sem parar despejando sua raiva sobre algo que eu não consigo entender e nem acreditar.

Minha visão ficou turva.

E de repente nada mais faz sentindo.

As cores daquela sala se misturam e eu não consigo mais distinguir uma pessoa de outra, nem chão de teto nem um lado do outro.

Então tudo ficar escuro.

Ainda consigo ouvir alguém chamando por mim, mas não consigo formular palavra nenhuma que tranquilize seja lá quem for.

As vozes também se misturam e eu já não consigo ouvir nada além de murmúrios que não entendo.

O ar entra com dificuldade em meus pulmões e como médica, preparada - pelo menos teoricamente - para esse tipo de situação, tento depositar toda minha concentração em respirar, mas simplesmente perco esse controle.

E então perco a consciência.

Preston Donavan

- Não Frederico, eu irei o quanto antes. Não fico mais aqui. - Desliguei e me levantei.

- Você vai embora? - Não consegui responder. - Por favor não vá embora.

Como uma criança tão pequena podia ocupar um espaço tão grande no coração de alguém?

A segurei pelos braços e a chacoalhei.

- Pare de me perguntar, não sou surdo, droga. - Tento ser grosso, mas ao vê-la soluçar eu me arrependo.

- Eu não irei a lugar algum, Selenia.

- Promete? Você não pode me deixar! Eu te amo, papai. - Ela se agarra a minhas pernas.

Eu também te amo, meu anjo, mas você parece tanto seu pai. O homem que estragou minha vida que eu não consigo ser bonzinho com você. Na verdade eu tento te odiar. Mas também não consigo.

- Eu não irei a lugar algum.

Mas eu fui.

E não voltei.

Antes de eu conhecer sua mãe, eu tive um caso com Valquíria, uma garota de quem eu só apreciava o sexo, mas meses depois de terminarmos e eu engatar um relacionamento sério com a mulher que eu amei desde a primeira série, ela me procura dizendo estar grávida.

E então tudo no meu relacionamento desmorona e eu não vejo escolha senão partir.

Me casei com Valquiria por obrigação, graças a sua gravidez, que gerou o filho que eu mimei e amei.

Colt Vann Donavan, que virou um playboy mimado e rebelde quando cresceu, com o qual eu não conseguia lidar.

E depois de se envolver com um traficante e não pagar as próprias dividas foi encontrado e trazido ao hospital mais próximo, mas morreu lá. Não conseguiram salvá-lo.

Ou pelo menos era o que eu estupidamente achei.

Até ontem.

Quando um homem que eu nunca havia visto na vida bateu a minha porta e jogou várias verdades e meu passado na minha cara.

Então me vi obrigado a voltar.

Para toda a dor.

Para a morte do meu filho.

Para a garotinha que era filha do homem que eu mais odiei na vida, que teve a mulher que eu amava até morrer. E que fez a mocinha que eu adotei como minha, mas que eu não pude demonstrar amor graças a semelhança com ele.

Eu voltei.

E vou leva-la comigo.


AmávelOnde histórias criam vida. Descubra agora