Amável

Supervisão

"A principal e mais grave punição para quem cometeu uma culpa está em sentir-se culpado."

- Sêneca

Crixus Conahan

Senhor Conahan? - Escutei novamente a voz de Lewis.

- Mas já?! Eu sabia que você voltaria atrás, David, porém, não três horas após a minha demissão. - Pude ouvir um suspiro longo e imaginei-o revirando os olhos e amaldiçoando mentalmente.

- Crixus, eu nunca o demiti. - Ele disse em falsa calmaria. - Eu apenas lhe concedi um período de descanso, de reflexão...luto...

Meu sangue ferveu.

- Escute, David, Ava morreu. Ponto final. Fim de história. - Disse a ele, mesmo sentindo aquelas palavras atravessarem meu peito.

- Você quer se enganar? Tudo bem, o problema é seu, a dor é sua, que se foda. - Ele bufou. - Eu estou voltando atrás porque eu simplesmente achei uma solução melhor que férias.

Porque eu acho que vou passar a preferir ficar em casa?

- Eu pedi a um amigo meu, um contato, alguém de confiança que pudesse ficar de olho em você, e me fazer uma avaliação, e então, junto a este supervisor eu decidiria se você deveria ter o afastamento anual. De início ele disse não ter ninguém bom o suficiente para ocupar um cargo importante como este, mas então, duas semanas depois, quando eu resolvo te dar férias, ele me ligou e está mandando alguém de confiança.

- Então, deixe me ver se entendi, - Trinquei os dentes. - Eu estarei de volta ao trabalho, com qualquer pessoa, me supervisionando, como se eu fosse uma criança? - Ri sarcasticamente. - Isso é RIDICULO!

- É mesmo? Pena que você não tem escolha. Esteja no Miway Medicine amanhã às duas da tarde para conhecer sua supervisora.

- Como é? Supervisora? A? Então é uma mulher? Você quer que a droga de uma mulher me avalie? - Puta merda! Minhas veias estão saltando para fora.

- Tenho que lembrar algo que Ava lhe ensinou sobre as mulheres?

Travei.

"Nós somos tão, ou mais fortes que vocês homens, somos tão, ou mais corajosas. Somos tão, ou mais firmes, resistentes, admiráveis que vocês homens. Também temos nossas fraquezas, fragilidades, medos, sentimentos, também erramos como podemos acertar. O que nos difere uns dos outros é como lidamos com isso, apenas."

- Ela está morta. - Digo, com a voz falha e desligo o telefone.

Sentia-me tonto, com as lembranças dela.

Sua pele bronzeada, seus olhos esverdeados, seu sorriso, seus sonhos...

A mesa de madeira de segunda mão partiu ao meu, depois de eu tê-la socado.

Eu sempre fui cego de amor por ela.

Nos casamos aos vinte e dois.

Ela era uma Excelente advogada e eu era o homem que fazia tudo por ela.

Ava foi avaliada com cardiomiopatia em seu aniversário de vinte e seis anos. Ela passou mal e fomos direto ao hospital.

Passamos mais dois anos fazendo cirurgias, esperando um doador de coração, mas ele não veio.

Em seus últimos dias, lembro-me claramente, de sua voz fraca e seus olhos molhados por suas próprias lágrimas.

- Não me deixe morrer. - Ela pediu em seu leito, antes que os remédios fizessem efeito.