Selenia
Olhei-me no espelho.
Via uma menina assustada.
Não que eu não fosse assim antes, creio que sempre fui.
Mas só agora eu percebi, o quanto precisava de alguém pra me salvar, em certos momentos.
E supreendentemente, o grosso, sem coração, nomeado Crixus Conahan– nunca pensei que conheceria alguém com a letra x no nome – esteve comigo, minutos atrás, para que eu não despedaçasse, diante do fato de que uma menina de aparentemente 8 anos estava sentenciada a morte.
Joguei água no rosto. Respirei fundo e saí do banheiro, indo diretamente a sala de Crixus, decidida.
Eu vou falar com ele, e juntos pensaremos em algo para salvar a doce garotinha.
3, 2, 1,
Abro a porta e toda minha coragem se vai ao vê-lo me olhando me olhando bravo.
- Foi no banheiro beber água ou ter uma rapidinha com algum funcionário? – Ele perguntou ríspido. – Aliás, rapidinha não, demoradinha...
Agora minha coragem voltou com toda a força.
- Escuta aqui seu grosso, mauricinho, que eu saiba não existe tempo estipulado para usar o banheiro e se eu quisesse transar com um funcionário com certeza não teria feito isso no banheiro, sendo que a sala de raio x tem bem mais espaço e outra, tem uma menina com câncer no pâncreas internada neste hospital e você está realmente preocupado comigo e as minhas SUPOSTAS rapidinhas!
Ele ficou sem resposta por alguns segundos.
- Eu não responderei a todo o seu discurso ridículo, e quanto a menina com câncer, esperava mais de você que acabou uma faculdade fantástica de medicina do Acre e não sabe o que significa câncer de pâncreas avançado.
Okay, ele acha que eu estou de brincadeira.
- Eu sei bem o que significa senhor Conahan, o que me surpreende é o senhor, "o melhor dos melhores" – Debochei – Desistindo no ato, de uma paciente com riscos de vida.
- Eu não desisti. – Ele se levanta e apoia as mãos na mesa que me separa dele. Aproximando seu rosto do meu.
- Então faça alguma coisa! – Gritei com ele. – É só isso que você sabe fazer?
Ele abriu o computador bufando e colocou-o na minha frente.
- Eu fiz minhas pesquisas. Há uma operação, normalmente para pessoas com diabete, um transplante de pâncreas. Mas seria arriscado para uma pessoa da idade dela. E tem mais, mesmo sem pensar nos riscos, há tempos eu não tenho o direito de inventar novas cirurgias ou até mesmo liderar cirurgias complexas, graças a minha ex esposa.
- Como assim?
- Ela faz meu chefe pensar que eu não estou bem para trabalhar. Que eu não estou tendo o mesmo desempenho de antes. – Ele bufa.
- Mas porque ela faz isso? – Pergunto sem entender.
- Porque ela morreu. Droga! Não estava nos meus planos, não estava no quadro de operações... Eu não estava preparado, eu não... O que eu estou fazendo?! – Ele se cala e se senta.
Ele parecia transtornado, com sigo mesmo.
- Talvez seu chefe esteja certo...
- ELE NÃO ESTÁ. – Ele grita.
- Você estava pronto para mandar Sarah Awkward para casa dizendo que ela poderia estar apenas com dor de cabeça. – Disse. – Você nem ao menos se levantou da mesa para a examinar. Ser médico acima de tudo é contato. – Ele riu com escarnio e deu a volta na mesa.
- Essa é nova. uma pirralha, universitária que ainda nem saiu das fraldas da medicina e mulher, querendo me dar uma lição de moral, ser médico é salvar vidas! Eu salvo vidas! – Ele parecia tentar se convencer da própria afirmação.
- E o que tem eu ser mulher? E o que tem eu ser baixinha? E o que tem eu ser universitária? Você é um filho da mãe estúpido que não consegue ter um dialogo sem dar uma patada em alguém.
- Eu sei ser agradável com as pessoas... – Ele resmungou.
- Ah claro, tão agradável quanto um coice... Mas isso não vem ao caso.
- Nada do que você tagarelou vem ao caso. O ponto é que eu tenho a cirurgia mas não a permissão do chefe. Eu tentei. – Ele vai até a porta e faz menção de sair por ela.
- Você tentou, mas eu não. – Passei na frente dele.
Assim que tive acesso aos corredores, me deparei com várias enfermeiras me olhando como se eu tivesse acabado de dar um tapa na cara do presidente dos Estados Unidos.
- Vamos, eu vou com você. – Disse um Crixus emburrado, atrás de mim. – Estão olhando o que? - Todas voltaram aos seus afazeres e nós fomos em direção a sala do Doutor Lewis.
***
- Senhor, eu precisava tratar de duas coisas com o senhor. – Disse a David Lewis, enquanto me sentava na cadeira em frente a ele.
Entramos em sua sala no meio de uma conversa entre ele e um cirurgião que ainda não me tinha sido apresentado.
- Sem problemas, senhorita Bryce, eu já havia terminado com o senhor King. – Ele disse e o doutor sorriu para mim estendendo a mão.
- Dylan King, prazer. – Apertei sua mão de leve e sorri quando ele a beijou.
- Eu sou Dylan, digo... eu não sou não... desculpe eu... – Me atrapalhei um pouco, um pouco muito. – Eu sou Selenia Bryce. – Ri fraco, sentindo-me corar.
- Acho que estou com diabete. – Ouvi a voz de Crixus, tinha me esquecido de sua presença.
- Bom senhor Lewis, um dos meus assuntos é sobre o meu salário. – Ele franziu o cenho. – É que... Bom, eu perdi minhas malas no aeroporto e no acidente de carro perdi minha bolsa, com meu dinheiro e cartões de crédito, e os novos só chegam em três dias. Eu gostaria de saber se o senhor poderia adiantar uma parte do meu salário, para que eu possa me instalar aqui em Miway Park.
- Mas Selenia, onde você dormiu na noite de ontem? – Ele perguntou preocupado.
Olhei para Crixus e respondi:
- Na casa de um amigo, mas não poderei dormir por lá mais...
- Porque não? – Crixus perguntou me encarando.
- Porque meu amigo é meio estúpido e bagunceiro, sem contar que fala muita asneira e é muito insensível. A casa dele é um completo chiqueiro e ele não me deixa arrumar... Fora que ele é meio violento as vezes. – Passo a mão pelas marcas que tinha no braço.
- Ele fez isso a você? – Dylan perguntou. – Diga o nome do desgraçado que eu dou uma lição nele.
- Você não conseguiria... – Conahan ri. – Quer dizer, você não conseguiria bater nele, sem mata-lo. – Disfarçou e Dylan sorriu.
- Se quiser, eu tenho uma solução. - O doutor King sorriu. – Dorme em casa, lá é bem grande e espaçoso. Minha irmã foi lá esses dias e fez massa para donut, mas não teve tempo de terminar, pois teve que sair as pressas... – Ele disse e eu sorri. – Você podia me ajudar a terminar. – Coçou a testa, parecendo envergonhado. – É que eu não me dou bem com a cozinha.
Eu amo cozinhar!
- Eu amo cozinhar! – Disse contente. – Eu acho que se não for te incomodar...
- O que?!

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Amável
RomansaLovely Crixus Conahan era o melhor dos melhores médicos dos Estados Unidos, residia atualmente em Miway Park. Ele nunca havia perdido nenhum paciente, até ele precisar. Sua esposa, Ava, teve uma doença extremamente perigosa e precisava desesperadam...