Detenção.

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Na segunda feira, entrei no colégio ignorando os olhares sobre mim. Abri meu armário e me deparei com as fotos minhas e de Eros.

Sorridentes e felizes, nossos lábios se tocando.

Eu tinha um brilho no olhar. Um brilho que se apagou há muito tempo.

Não hesitei antes de pegar todas elas e as jogar no lixo. A única foto que permaneceu foi uma antiga, da minha primeira competição em San Diego, três anos atras.

Henry e eu exibíamos nossas recém-ganhas medalhas de ouro. Vênus, Annie Milo e Cole também estavam na foto, ainda crianças.

Eu tinha treze anos, cabelos cacheados volumosos até a cintura e um sorriso gigantesco, com o braço de Henry ao redor dos meus ombros. Ele sempre foi bem mais alto do que eu. Nessa época, nós éramos mais amigos do que inimigos.

– Acabou mesmo, então? – Annie se aproximou de mim. Provavelmente viu o que fiz.

– Acabou. Não quero mais ser manipulada.

A Cooper abriu um sorriso orgulhoso. Algo em mim se esquentou em alívio e conforto.

– Você sempre teve o sorriso tão parecido com o do seu irmão? – perguntei, com a cabeça tombada para o lado.

Percebi que o sorriso de Annie e Milo eram praticamente idênticos.

– Acho que sim. Somos gêmeos afinal. – deu de ombros.

Sei uma risadinha.

– É verdade, desculpe.

– Não precisa pedir desculpas. – falou. – Nos vemos na hora do almoço?

Assenti.

Ela beijou minha bochecha e foi até sua classe.

O sinal ecoou pelo prédio, avisando que a primeira aula já ia começar.

Me sentei na última bancada no laboratório de química. E por sorte, ninguém quis sentar ao meu lado.

Ninguém exceto...

– Posso sentar? – Henry perguntou.

– Claro.

Sua jaqueta de couro roçou contra meu braço desnudo. Fingi não senti o choque que percorreu meu corpo inteiro.

Ele batucou na bancada inquieto. O pé tremendo por debaixo da mesa. Ele queria falar algo, mas estava receoso.

– Só pergunta logo, Di Laurentis. – murmurei.

Seu olhar encontrou o meu.

– Você tá bem? – perguntou baixinho.

Suspirei, meus ombros caíram.

– Não aguento mais estar triste. Quero que esse aperto no peito suma.

Seu dedo mindinho roçou o meu em cima da bancada.

– Ele não merece suas lágrimas. – falou. – Sabe, em algumas semanas, ele vai ser apenas uma memória desagradável. 

Abri um fraco sorriso.

No início da aula, o professor apresentou o trabalho que constaria como a nota do bimestre. Um trabalho em dupla.

Henry olhou para mim como um Golden Retriever esperançoso.

– Vou ter que passar ainda mais tempo com você, James Dean? – brinquei.

Ele sorriu.

– Acho que é o destino, Cachos. – deu uma piscadela.


HEART RACEOnde histórias criam vida. Descubra agora