Lírios & Tulipas.

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No dia seguinte, acordei relativamente cedo. Uma noite até que bem dormida, considerando que dividi a cama com Vênus, já que Nessa e Violeta tiveram que dividir a dela. Vovó e vovô tomaram conta do quarto de Vilu, enquanto meus pais ficaram com o quarto da caçula.

O relógio da cozinha marcava oito da manhã em ponto, quando desci as escadas.

Me encostei contra a ilha da cozinha com uma xicara de café recém feito. Pouco depois, mamãe desceu as escadas, provavelmente se deparando com algo similar à Wandinha Addams.

– Tem café? – perguntou, rouca.

Abri um fraco sorriso. Algumas coisas realmente nunca mudam.

– Fiz agora a pouco. – respondi.

Ela encheu uma caneca para si e se escorou na bancada.

– Um passarinho me contou que você e Henry estão oficialmente juntos. – escondeu o sorrisinho atras da caneca.

Ela esbarrou seu quadril no meu.

– Vou parar de contar coisas para Violeta. – murmurei.

Demos risadas.

– E então?

Suspirei.

– Se lembra de quando eu tinha oito anos e sonhava em casar com um príncipe encantado? – assentiu. – Achei que aquele sonho tinha desaparecido há muito tempo, achei que eu não merecesse um cavaleiro de armadura brilhante. Mas eu mereço. E esse príncipe encantado é o Henry.

Seu sorriso era tão grande que poderia iluminar o estado da Califórnia inteiro.

– Eu fico tão feliz em ouvir isso, mi amor. Você não tem ideia.

Ela beijou meus cabelos e minhas bochechas e me trouxe mais para perto de si.

Tomei mais um gole da bebida quente.

– Sabe, já faz algum tempo que não pinto. – comentei com segundas intenções.

Mamãe revirou os olhos.

– Você tem sorte que eu trouxe minhas tintas.

Sorri.

– Já sabe o que quer fazer?

Encarei o grande espaço da tela em branco que de alguma forma, coube dentro da mala do meu pai.

– Não. – respondi.

Mamãe pôs as tintas em cima do balcão, junto ao pote de pincéis.

– Podemos fazer algo mais simples. – opinou.

– Flores?

– Você leu minha mente.

Peguei o tom mais claro de amarelo e o espalhei pela tela. Então veio a mistura do azul com o branco, o verde e o rosinha claro.

De pouco em pouco, a pintura foi tomando forma. Pincelada em pincelada, pétala por pétala.

Duas horas depois, encarava um buquê de lírios e tulipas.

– Não sabia que você pintava. – Vênus falou, comendo uma porção de cereal com leite.

– É um talento oculto. – sorri, orgulhosa do que eu havia pintado.

Limpei minhas mãos manchadas pelas tintas numa toalhinha qualquer.

– Devia mostra-lo com mais frequência. Esse quadro é lindo.

– Se quiser, pode pendurar lá no quarto. - falei.

– Posso?

Assenti.

– Vou para a faculdade depois do verão e o quarto será todo seu. – dei de ombros. – Poderá fazer o que quiser com ele.

Oito meses.

Eu tinha oito meses antes da faculdade.

Escolhi o curso que queria há apenas alguns meses. – o curso de jornalismo talvez não fosse a primeira opção de muitos, mas era a minha.

E por sorte, consegui ser aceita em Stanford algumas semanas atrás.

– Sabe, vou sentir sua falta quando você for embora. – falou.

– E eu vou sentir a sua. Mas não vou estar muito longe, é uma viagem de sete horas, oito no máximo.

– Eu sei. Pelo menos, ainda temos tempo antes do verão.

É.

Pelo menos ainda tínhamos tempo.

E eu queria que ele não corresse por dentre os meus dedos tão rápido.

HEART RACEOnde histórias criam vida. Descubra agora