Debaixo do visco.

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Natal.

Neve, chocolates quentes e suéteres feios que ofendiam a moda de milhares formas diferentes. Tirando a parte da neve, tínhamos tudo isso hoje. A escola estava de recesso, então dormi por mais meia hora do que o de costume. - e estranhamente sonhei com duendes do Papai Noel vestidos de bailarinas.

Quando me levantei, a casa cheirava a biscoitos de gengibre e chocolate quente. Nessa e Vênus dançavam ao som de uma das músicas de Mariah Carey.

Violeta tentava falar com Maya que estava em Nova York, passando o Natal com a família, enquanto tio Victor dançava na cozinha.

– Feliz Natal, família!

– Feliz Natal, Char. – Nessa e Vênus falaram, em uníssono.

– Feliz Natal, minha sobrinha favorita. – o treinador deu um beijo na minha testa.

ABBA começou a tocar e a cantoria – ou gritaria – vinda da sala aumentou. O treinador esboçou um sorriso enquanto desenformava os biscoitos de gengibre em formato de homenzinhos.

– A Nessa tá cada vez mais parecida com a minha mãe e com a tia Ciara. – comentei.

– Sempre a achei mais parecida com a minha família do que com a família da mãe dela.

O analisei, procurando o tom melancólico na frase.

– Sente falta dela?

– Cada dia menos. – me olhou com sinceridade.

Quando tio Victor e Lia – a mãe das meninas – se separaram e ela pediu para que não tivesse a guarda das filhas, os dois cortaram todo e qualquer contato.

Violeta tinha treze anos quando ouviu a mãe dizer que, basicamente, não queria mais ter contato com ela ou com Nessa.

A caçula tinha apenas seis anos.

– Tá tudo bem. É normal. Você é um ser humano.

– Eu sei, corázon.

Ouvi o toque da campainha abafado pela música alta. Quando abri a porta, Henry estava ali, com cinco presentes empilhados nos braços.

– O que faz aqui? – perguntei.

– Feliz Natal para você também, Cachos.

Ele tirou a pilha de presentes da frente do rosto e beijou minha bochecha.

– Henry? – tio Victor tinha o cenho franzido ao vê-lo aqui.

– Bom dia, treinador.

– Henry, o que você tá fazendo aqui? – insisti.

– Vim deixar seus presentes. – falou como se fosse obvio.

Revirei os olhos.

Vá. para. casa. – falei pausadamente. – Vá aproveitar as festas com os seus pais.

Apoiei minha mão em seu ombro.

– Mas os meus tios estão lá. E eu definitivamente não quero ouvir mais uma piada ruim. Ou um comentário perguntando o porquê de eu estar solteiro.

– Querido, é Natal. Você tem que ir ficar com a sua família!

– Mas vocês são como a minha família. – deu de ombros.

– Nos sentimos honrados, Hen. Mas os seus pais devem querer passar o dia com você. – o treinador disse.

O loiro colocou a pilha de presentes em cima da ilha da cozinha.

HEART RACEOnde histórias criam vida. Descubra agora