(Não tão) Feliz aniversário, Charlotte!

31 4 0
                                    

Os lençóis estavam gelados debaixo dos meus braços. Meus olhos tentaram se acostumar com a claridade do sol, eu havia esquecido de fechar as cortinas e a janela ontem à noite.

Peguei o celular e meia dúzia de mensagens dos meus pais me lembraram que dia é hoje.

Feliz dezessete anos para mim.

O nome mamãe brilhou na tela do aparelho.

– Bom dia, minha pequena mulher. – disse doce e cheia de ternura. – Ah, a minha bebê está fazendo dezessete anos! Queria tanto estar aí, meu amor. Que inveja que eu estou do Victor agora.

Dei uma risada fraca.

Mamãe já estava vestida para o trabalho. As roupas sociais e o cabelo perfeitamente arrumado.

– Bom dia, mamãe e obrigada. – agradeci, sorrindo involuntariamente.

– Já recebeu nosso presente, Bolinho? – papai perguntou.

– Sim papai, já recebi.

O par de botas brancas de cano alto, veio dentro de uma caixa espalhafatosa em tons de rosa e com um laço dourado enorme. Bem a cara dos meus pais.

– Amamos você, pequeña princesa. – mamãe afirmou. – Queríamos estar aí.

– Eu sei, mas é por um bem maior, não é? – repeti o que ela me disse quando nos despedimos no aeroporto, meses antes.

– É por um bem maior, Bolinho. - concordou.

Sabia que minha mãe havia começado a chorar.

– Amo vocês, nos falamos mais tarde.

– Aproveite o seu aniversário, mi amor. – falou, com a voz embargada.

Te quiero mucho, mama.

Te quiero, Char, te quiero mucho

A ligação foi encerrada. Senti um aperto no peito. Saudades. Muitas saudades.

Olhei para o leão de pelúcia deitado ao meu lado. Passei a mão por sua pelagem artificial, suspirando.

Era o primeiro aniversário em que eu não acordava com uma mensagem de Eros. Parte de mim se sentiu um tanto aliviada.

Saí do quarto e ouvi vozes baixas e abafadas vindo do andar debaixo. Quando levantei o olhar, estavam minha família, os mais novos, Maya e Matthew todos esperando por mim.

– Surpresa! – exclamaram em uníssono.

Dei uma risada.

– Obrigada, gente.

– Feliz aniversário, minha sobrinha favorita. – tio Victor depositou um beijo em minha testa.

– Ainda sou sua única sobrinha, treinador.

Ele me entregou uma caixinha cheia de fotos antigas. Dos meus avós, da minha mãe na adolescência, dele, da minha tia Ciara, pequenina. E até mesmo, uma minha.

Meus dedos traçaram a foto da garotinha de bochechas gordinhas, outrora, eu fui aquela garotinha. Sentada no sofá da minha casa em Boston, abraçando o ursinho de pelúcia que ali, era do meu tamanho.

A saudade apertou um pouco mais em meu peito.

– Obrigada, treinador.

Nessa me apertou com força e me entregou um cartão todo decorado, com glitter, estrelas e um feliz aniversário escrito numa caligrafia que não era dela – talvez a de Violeta.

HEART RACEOnde histórias criam vida. Descubra agora