Em uma hora e meia, estávamos de volta a San Diego.
Nos mandaram sentar numa sala mal iluminada. Ainda não haviam permitido que ligássemos para os nossos responsáveis.
Imaginei que tio Victor estava tendo uma sincope por não ter notícias minhas há horas. Tombei a cabeça para trás, e fechei os olhos, estava cansada demais.
Já era próximo à meia-noite.
Vênus batucava as unhas contra a cadeira de metal e Henry tremia a perna - uma mania frequente, aparentemente.
O policial de antes – cujo descobri que se chama Maverick, que nem o Tom Cruise em Top Gun – abriu a porta e nos olhou com pena.
– Vocês só têm direito a uma ligação. – ergui as sobrancelhas tristemente. – Desculpe, senhorita Perez-Peterson, foi tudo o que consegui.
– Só senhorita Peterson, por favor. – pedi num sorriso triste. – E pode ir, James Dean, faça sua ligação.
– Não tenho para quem ligar. – olhei para o loiro abatido e ainda ensanguentado. – Longa história. Vá, peça socorro ao treinador, por nós três.
Maverick me levou até os telefones e disquei o número de tio Victor com as mãos tremendo.
– Alô?
Ele não soava sonolento, estava me esperando.
Esperando por nós.
– Estamos na delegacia. Era tudo uma armadilha. – falei, tentando não soar triste ou abatida, sabia que havia falhado miseravelmente.
– Ah, Char. – suspirou. – Chego em vinte minutos. Vai dar tudo certo.
Então, a linha ficou muda.
Fui levada novamente à sala má-iluminada e me sentei entre Henry e Vênus. Prestei atenção na postura curvada e melancólica da mais nova, que encarava um ponto fixo no chão bege.
– Seu primeiro nome é Reese? – perguntei, tentando tirar o clima estranho.
Peguei uma mecha de seu cabelo, brincando com ela entre os dedos.
– Sim, mas eu o odeio. – respondeu, em tom neutro e cansado. – É o nome da minha mãe.
Vênus tinha o mesmo nome que a mãe.
Mãe essa que não pisa em casa há meses.
Ajeitei-me na cadeira, virando o corpo na sua direção.
– V, você precisa nos contar. O que Eros fez ou faz com você?
Tremi ao perguntar.
Namorei com Eros por dois anos, a ideia de ele fazendo algo com a própria irmã me faz sentir nojo do nosso relacionamento inteiro.
Henry levantou a cabeça e olhou para nós, parecendo interessado no assunto.
Os lábios da menina tremeram e ela se envolveu num abraço solo. Ela não olhava para nós, olhava para os próprios pés nos tênis vermelhos, iguais aos seus cabelos.
– Ele já me bateu. – disse com a voz embargada. – Começou há uns dois anos no meio de uma das nossas brigas estúpidas.
Senti um nó na garganta. Foi mais ou menos na época em que começamos a namorar.
– Ele ficou com tanta raiva que levantou a mão e quando eu percebi, minha bochecha ardia. – ela se segurava pra não chorar. – Corri pro meu quarto e não falei com ele por uma semana inteira.
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HEART RACE
RomantikCharlotte Perez-Peterson, uma estrela juvenil do kart, se muda para a Califórnia buscando o sucesso. Três anos depois, Charlotte percebe que a sua vida perfeita em San Diego não é exatamente o que parece. Principalmente quando se trata do seu coleg...