Melancolia hospitalar.

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Tenho certeza de que vomitei.

Minha garganta ardia e eu sentia um gosto amargo na boca.

Nem ao menos sei quanto tempo se passou. Minutos? Ou seriam horas?

Estávamos no hospital. Eu encarava um ponto fixo no chão desde que chegamos.

Uma mão quente afagou minhas costas. Cole.

– Você precisa comer. Já fazem algumas horas desde o café da manhã. – me entregou um sanduiche.

Eu não sentia com fome.

Não sentia nada. Absolutamente nada.

Mas apenas assenti de leve.

Era como alimentar um defunto. Uma ação completamente em vão, desnecessária. O sanduíche não tinha gosto de nada. Era quase como comer papel.

Annie estava encolhida numa cadeira, ao lado de Vênus. Elas pareciam consolar uma à outra.

Não havia sinal algum dos treinadores, de Nessa, Violeta ou Milo.

– Eles avisaram Ramona? – perguntei, num fio de voz.

Cruzei as pernas em cima da cadeira, ocupando o menor espaço possível. Cole assentiu.

– Ela e Paul quiseram vir para cá imediatamente. O treinador disse que ia tentar resolver isso. Zara tá falando com os médicos, se não me engano.

Engoli em seco antes de perguntar:

– Foi muito grave?

Ele abriu a boca para responder, mas Zara apareceu, acompanhada de outra mulher.

– Crianças, essa é a doutora Russo. Ela está cuidando do caso de Henry pessoalmente.

Me levantei com as pernas bambas, assim como os três mais novos. Violeta apareceu, uma das mãos entrelaçada na da irmã enquanto a outra segurava um copo de suco de laranja.

– Consegue nos dizer alguma coisa sobre o caso dele, doutora? – Cole perguntou, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans.

Quando a mulher ruiva suspirou, a náusea em mim aumentou.

– Três costelas quebradas, um ombro deslocado.. – listou. – e um dos joelhos fraturados.

Engoli um soluço, não queria chorar ali. – mas era quase inevitável.

– Alguma previsão de melhora ou algo do tipo? – questionei, num tom baixo.

Negou.

Me sentei novamente, me sentindo fraca demais até mesmo para me manter de pé. A doutora de despediu e então permiti que uma lágrima escorresse pelo meu rosto.

Meu peito apertou. Senti vontade de vomitar, mais uma vez.

Zara se agachou na minha frente.

– Vai ficar tudo bem, chérie. – assegurou, enxugando minha bochecha. – Henry Di Laurentis é forte.

– Mas e se não ficar? Zara, ele não é só o meu namorado, ele é um dos meus melhores amigos, um confidente. – minha voz falhou. – Eu não sei o que fazer se ele..

Solucei.

– Eu sei, chérie. E eu sinto muito não poder garantir que ele vá ficar bem.

Ela beijou o topo da minha cabeça e se levantou. Cocei o nariz com a mão e terminei de comer o sanduiche.

Pequenas e hesitantes mordidas.

Nessa se sentou em meu colo, e me olhou com seus grandes olhos castanhos. Hospitais não eram um bom lugar para uma criança de dez anos de idade.

HEART RACEOnde histórias criam vida. Descubra agora