25 - Despedida

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SEGUNDA-FEIRA, DOMINICK NÃO CONSEGUIA DISFARÇAR A PRESSA E A PREOCUPAÇÃO. Se despediu da professora que o abordou no pátio pra uma breve saudação e seguiu colégio adentro. Subiu para sua sala e foi pra perto da janela, com os olhos grudados no pátio. Pronto para o que quer que fosse acontecer.

Depois das revelações que Mara e Beatriz fizeram, o professor ficou o resto do fim de semana tentando encontrar a melhor maneira de resolver os dois problemas. O foco do dia era tentar impedir que o grupinho colocasse o plano macabro em ação e felizmente tinha Mara como aliada para isso. Só precisavam ter certeza do que iriam fazer, pois não havia margens pra erros.

Minutos depois da chegada do professor, Mara passou pelos portões do colégio, com o mesmo desespero no rosto. Andou até aos degraus que separavam o pavilhão de concreto e o hall de entrada do prédio, ansiosa, e ficou ali; perambulando de um lado pro outro, exalando sua apreensão para todos os lugares. O lado bom de ser "invisível" é que ninguém a reparava o suficiente para notar a tensão.

A manhã era assombrosa, tantas nuvens em luto que o azul do céu quase nem se via. O vento batia, instigando calafrios de medo, enquanto Mara descontava seus anseios amassando a borda do casaco jeans que vestia. Foram vários minutos ali, em pé, vendo alunos passar por ela, até avistar a primeira cúmplice brotar da multidão que entrava pelos portões. Liza, com seu cabelo caído sobre os ombros, olhar assustado e postura arqueada, andava lentamente em direção à Mara, como se a vida tivesse perdido sua urgência. Quando chegou perto, parou bem ao lado da amiga, encarou as janelas do terceiro andar do edifício com certo temor, até se virar para direção do portão. Ignorou as saudações, tomou fôlego e desabafou:

— Hoje eu abracei meus pais com tanta força que eles ficaram preocupados. Não foi fácil me despedir sem chorar ou fazer alguma coisa que os deixasse desconfiados. — Se virou para Mara com um olhar de empatia. — Imagino que contigo foi ainda pior... Ter que se despedir do seu irmão.

— Foi... — Mara respondeu e se calou.

— Sabes que você não precisa fazer isso, né? — Liza apelou. — Ninguém vai te julgar se você desistir.

— Você também não precisa, Liza. Mas, contudo, estamos aqui, não é mesmo? A menos que você queira desistir agora.

Liza olhou para trás e encarou as cinco janelas enfileiradas novamente. Engoliu em seco.

— E-eu não quero desistir!

Mara suspirou.

— Eu também não...

As duas voltaram seus olhares para o portão de entrada, esperando pelos dois que faltavam. Passaram vários minutos até o próximo membro do grupinho aparecer: Eduardo, também assombrado, cruzou o portão com o rosto fechado, olhando para todos os cantos, avistou as meninas alguns passos depois e se aproximou com um olhar determinado em seu rosto.

— Desculpem a demora. — Respirou fundo. — É que eu tive que vir de ônibus. O Eric não virá pra escola hoje. Aconteceu algo esquisito em minha casa ontem, mas enfim... Não importa...— Parou um pouco e olhou para os lados. — O Tobias ainda não chegou?

As meninas responderam que não. Eduardo, admirado, se juntou as duas, esperando por ele.

Alunos continuaram entrando, o colégio ficava mais cheio a cada instante e nada do Tobias chegar. Alguns minutos depois algo inédito desviou a atenção dos três meninos: Na entrada do colégio, Tina, a rainha da exuberância, apareceu escondida em um moleton volumoso, com capuz cobrindo parte do rosto e um andar arqueado, como se pela primeira vez quisesse passar despercebida das pessoas. Mas conseguiu exatamente o contrário.

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