1- O Grupinho.

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O PROFESSOR ENTROU E FECHOU A PORTA. Sentiu a maçaneta por uns instantes antes de soltá-la. Tomou fôlego, se virou apreensivo e encarou os olhares acerados em sua direção. Na memória, a lembrança fracassada de sua última intervenção, que ainda o corroía por dentro e alimentava a hesitação com que se movia até o centro da sala. Tinha diante de si, espalhados pelas carteiras, cinco alunos com posturas relutantes, tensão escancarada; ávidos por entenderem por que razão ainda estavam no colégio trinta minutos depois do sinal ter tocado.

O professor se inquietou.

Era uma ideia perigosa a concepção de que pessoas solitárias preferem a morte do que se juntar a outras pessoas, se rotular, ou fazer parte de um grupo. Foi sob essa premissa que Dominick, o professor, os reuniu.

Sua preocupação era única: Nos últimos dias, vinha notando os olhares trocados entre os cinco, com uma pitada de tensão envolvida. Todos eles, outrora abrigados em seus esconderijos sociais, agora passavam boa parte do tempo no pátio do colégio cochichando, outras vezes isolados em uma das mesas mais afastadas na cantina, olhando para os lados a todo momento, como se estivessem se certificando de que ninguém os ouvia.

Era no mínimo suspeito.

— Então, professor... — Tobias ajeitou a carteira e checou seu relógio de pulso. — Por que ainda estamos aqui a essa hora? Isso não é algum tipo de violação dos nossos direitos!

— Pois é, Professor. — Eduardo concordou. — O sinal tocou faz tempo e meu irmão não para de mandar mensagens me apressando. Eu preciso ir pra casa.

O professor espalmou as mãos em redenção.

— Eu sei... Desculpem a demora e obrigado por terem esperado. A nossa conversa vai ser rápida, prometo.

— Esperamos que sim... — Tobias murmurou. Olhou para os lados caçando olhares de indignação entre os colegas em volta e não tendo encontrado, se calou. Se recostou a cadeira.

Dentre os cinco, o garoto se mostrava o mais relutante. Estava sentado na fileira da frente, de braços cruzados, encarando o professor com seu olhar afiado e queixo levantado. Uma rebeldia que só aparecia em momentos como esse, quando só os alunos mais "vulneráveis" e o professor "bonzinho" estavam presentes. Dominick o conhecia bem.

— É o seguinte... — O professor pigarreou. — Vocês estão aqui porque eu tenho notado um comportamento estranho entre os cinco. E não queria deixar passar sem tentar entender o que está havendo.

Os alunos se entreolharam, tensos. Ruídos de carteiras sendo ajustadas inundaram a sala.

— Eu sei que isso parece esquisito. — O professor continuou. — Entendam, não é minha intenção acusar vocês de alguma coisa. Longe disso! Mas tenho visto vocês reunidos pelo colégio, segredando. Isso chamou a minha atenção.

— Então estamos aqui porque o senhor achou estranho o facto de agora nós cinco andarmos juntos?! — Tobias interferiu novamente, sem disfarçar a ironia no tom de voz.

— Achei que tivéssemos feito algo errado, professor! — Eduardo acrescentou.

— Pelos vistos não, meu parceiro. É só a mesma descriminação e o pré julgamento de sempre.

Os dois abanaram a cabeça desprezando a situação. Tobias repousou as costas na cadeira e suspirou. Não se mostrava preocupado, pelo menos, não como Mara, sua namorada.

A garota estava sentada bem ao lado de Tobias e não parecia confortável com a desconfiança do professor Dominick. Pelo contrário. Se voltou para trás, olhando tensamente para Liza que sentava a três carteiras de distância e se mantinha calada, de cabeça abaixada, deixando seu cabelo liso e comprido livre sobre o tampão da carteira. Ao perceber que a colega estava desatenta, Mara se virou para Rafael, no fundo da sala, mas este, por sua vez, desviou seu olhar do dela e olhou para a janela.

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