OS DIAS SEGUINTES VIERAM SEM MUITAS SURPRESAS. Liza continuou passando boa parte do seu tempo no hospital, acompanhando Rafael. Mara e Tobias, como já era de se esperar, fizeram as pazes depois de terem estado sozinhos no estacionamento; o que frustrou todas as tentativas de Dominick de se aproximar da menina para tirar mais informações. Já Eduardo, o calouro, continuou se mantendo afastado dos companheiros, os evitando a todo custo. Ele passava a maior parte do seu tempo com Beatriz, sua amada cunhada, de quem se tornava mais próximo a cada dia.
Outra coisa que já se esperava era a Derrota dos "Bávaros de Einstein" no torneio de basquete. Os garotos perderam a semi-final de lavada para um dos melhores times da competição, ficando assim de fora da grande final. No fim da partida, ainda tiveram o desprazer de provar do próprio veneno, saindo do ginásio sob os cânticos provocadores da torcida adversária. Vaias, assobios e — eles poderiam jurar — muitas ofensas incluídas.
Ao cair da tarde, os bávaros voltaram pro colégio com a vergonha e raiva escancaradas. Entraram no vestiário enfileirados, cabeças abaixadas, rostos fechados, completamente revoltados. Não tinham motivos para comemorar. Depois dessa cena, demorou pouco para que a revolta dos valentões fosse direcionada às pessoas inocentes.
Nos dias que se seguiram, mais bandejas foram derrubadas na cantina, mais meninos esbarraram na perna estendida de um dos valentões, mais alunos foram oprimidos pelos corredores do colégio e muitas mais partidas de mal gosto foram realizadas. A monarquia estava a todo vapor.
Para fechar a semana, em plena sexta-feira, depois que Eric caçoou de Eduardo na frente da namorada, uma gritaria interrompeu a atividade dos alunos espalhados pelo pátio. Acusações, xingamentos, dedo na cara e todos os outros pré-requisitos de uma briga de casal. Um verdadeiro barraco. No centro de tudo estavam eles, Eric e Beatriz, mergulhados em gritos e bravejos, imersos o suficiente para deixarem de lado a imagem de casal top do colégio que tentaram manter por meses. O escândalo só terminou quando a orientadora Virgínia veio pessoalmente buscar o casal e os levou para o seu consultório.
Um evento perfeito para fechar com chave de ouro a semana louca que tiveram.
***
Segunda-feira, céu nublado; um vento vivo entrando pela janela e arrastando o cheirinho a novo que emanava das páginas do livro que Dominick esfolheava. Sentado, sobre uma cadeira desajustada que balançava levemente, o professor era levado para fora daquela realidade; para um mundo em que não precisava enfrentar os alunos, ou algo ainda pior: As lembranças.
Com todo o furdunço do grupinho, as conversas com cada um dos envolvidos e a confusão que foi a última semana; Dominick se esquecera do prazer de ficar só, tirar férias dos problemas do mundo e viajar nas páginas de um bom livro. Decidiu revisitar esse lugar de deleite.
Naquela manhã, sozinho em sua sala, aproveitou os poucos minutos entre uma aula e outra pra se afundar em páginas de mistérios e suspenses. Só que por pouco tempo.
Quando menos esperava, a porta da sala em que estava rangeu ao ser aberta. Uma cabeça brotou em sequência, pedindo permissão para entrar. O professor se surpreendeu. Ele levantou, fechou o livro e pousou sobre a mesa. Lançou seu olhar curioso para a menina. Nunca tinha recebido tal visita em sua sala.
— Entre... — Orientou.
Beatriz fechou a porta, avançou para o centro da sala em passos hesitantes e olhar inseguro, como se a qualquer momento fosse se virar e sair.
— Está tudo bem? — O professor questionou.
Ela elevou os ombros.
— Faz poucos dias que eu tive uma briga feia com o meu namorado bem no meio do pátio, então... — Apertou os lábios e estendeu as mãos.
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Existem Vários Porquês
Ficção AdolescenteSempre nos perguntamos como as provocações, as risadas e os deboches podem afetar a vida de alguém vulnerável. Esses cinco meninos podem responder essa questão. Liza, Mara, Tobias, Eduardo e Rafael, são adolescentes vítimas de bullying, que planejam...