10 - A Direção.

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TODO MUNDO JÁ VIU UM MEME QUE ACHOU ENGRAÇADÍSSIMO, MAS QUANDO MOSTROU PARA ALGUÉM, A PESSOA NEM SORRIU. Como diz-se, o humor é algo íntimo, particular, e é mais sobre individualidades do que sobre generalidades. Fora o facto de que pessoas são pessoas, e isso, por si só, já denota singularidade. Somos subjetivos no achar, viver e sorrir; complexos, porém simples, mas complexos. E dito isso, é normal que pessoas achem graça em coisas diferentes. Mas essa diversidade não se limita só a esse contexto:

O que entristece um, pode não significar muito para o outro e, as vezes, até a indignação obedece a essa regra. E diante dessa realidade, Dominick se viu numa situação em que, depois de revelar o que julgava ter descoberto sobre os cinco alunos, esperava ouvir uma trilha dramática soar, olhos se arregalarem  e queixos despescando de tanta admiração. Mas isso não aconteceu.

Na verdade, ele não poderia esperar menos indiferença das duas ouvintes. Por um momento, parecia ser o único realmente preocupado com os alunos naquele escritório. Viu a Diretora Eunice servir-se de um café que emanava espuma pela borda da xícara, e exalava seu cheiro pelo escritório de decoração sofisticada. No rosto da senhora, uma expressão incrédula com pitadas de aborrecimento, como se estivesse certa de que o que acabara de ouvir era mais do mesmo: "Uma das várias paranoias do professor Dominick."

O jovem percebeu o desinteresse. Se recostou na cadeira desconfortado. Ouviu uma pequena risada vindo da orientadora estudantil que estava bem ao seu lado e olhou para ela. A mulher, sentada, de pés cruzados, exibia parte das pernas bronzeadas enquanto vasculhava o celular, distraída. Passeava o dedo sobre a tela, arrastando pra cima como quem procura, dentre tantas opções, o melhor entretenimento de trinta segundos ou menos para satisfazer as necessidades do seu cérebro viciado em rápidas recompensas.

Dominick se aborreceu.

Em nenhuma das duas presentes havia a tensão que ele esperava que o assunto causasse. Pelo contrário, tanto a Diretora quanto a orientadora estudantil o ouviram e desencanaram.

— Deixa ver se eu entendi... — A Sra. Eunice pousou a xícara sobre a mesa, passou o lenço nos lábios e pigarreou. — O senhor acha que alguns alunos planejam se vingar dos outros colegas e por isso estão orquestrando um atentado para o dia do Baile. É isso mesmo?

Dominick percebeu a intenção da diretora de fazer tudo aquilo soar ridículo, mas se conteve e assentiu.

— É mais ou menos isso, senhora.

— Certo... E o senhor diz isso com base nas suas observações?

— Sim. Na verdade, acho que é só uma questão de prestar atenção para perceber que tem alguma coisa errada com esses meninos. A Senhora poderia observar e tirar suas próprias conclusões.

— Tá... — As sobrancelhas da Diretora se ergueram tanto, que quase pularam rosto afora. — Eu nem sei o que dizer, preciso de um tempo para digerir tudo isso.

Ela respirou fundo e elevou a xícara de café até a boca para mais um ligeiro saboreio, no mesmo instante em que Virgínia, a orientadora, gargalhou alto com algo que viu no celular, chamando a atenção do Professor e da Diretora para si. Logo após perceber o deslize, a moça se constrangeu; bloqueou a tela do celular, embaraçada, e se desculpou.

Dominick revirou os olhos.

Virgínia era jovem, sobrinha da Diretora e recém-formada em psicologia. Foi contratada no ano anterior para ajudar os alunos a lidar com a tragédia da Nathalia, além de cuidar de outras questões como, aconselhamento académico e mediação de conflitos. Só que, por várias razões, seu jeito nunca agradou a Dominick. Sua competência sempre fora questionada pelo professor, que muitas vezes aconselhou os alunos com problemas a procurarem ajuda externa. Muitos deles o ouviram.

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