11 - Liza & Nathalia.

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AS VISITAS A SALA DA DIRETORA SEMPRE O DEIXAVAM COM O MESMO SENTIMENTO DE REVOLTA, INSATISFAÇÃO E INDIGNAÇÃO. Dessa vez não foi diferente. Dominick voltou para sua sala, afetado, e se aproximou da janela; a brisa fresca ainda era o seu ponto de paz. Olhou para baixo encarando o vazio e inspirou, apenas alguns alunos passeavam pelo pátio. Ele lançou seu olhar em direção à entrada, viu dois amigos andando lado a lado, trocando sorrisos; talvez tendo um dia bom. Olhou fixamente para os dois, sentiu uma nostalgia crescer e, num suspiro, vultos inundaram o seu campo de visão. Se perdeu em sua mente.

Num instante, se viu no lugar de um dos meninos, com o amigo do lado, falando as besteiras da idade e trocando sorrisos. Seu amigo era o mesmo de sempre, o de todas as lembranças, cabelos ondulados, pele escura e sorriso tímido; um falar tão leve quanto plumas ao vento. Dominick o apreciou com satisfação e nostalgia, reviveu o passado pelos míseros minutos até desviar a atenção para outro lugar do pátio. Quando voltou a olhar para o amigo, viu sua imagem esfumaçar novamente e sumir diante de seus olhos.

Ele voltou a si, ofegante, um desalento bateu forte. Era mais um momento de lembranças que tentaria esquecer.

Dominick passou alguns minutos num silêncio absoluto, até ouvir um toque na porta. Leves batidas sincronizadas, seguidas de um chamado tímido de uma voz do outro lado. O professor reconheceu o tom agudo de Liza, se ajeitou e permitiu que ela entrasse. A medida que a menina ia se aproximando, o som de seus passos preenchiam o silêncio do lugar gradualmente, se sobrepondo aos ruídos que vinham lá de fora.

Dominick se afastou da janela para recebê-la, e foi como um alerta abrupto, logo que jogou o olhar para a menina, percebeu que aquela não era uma visita académica, muito menos cordial.

— Está tudo bem? — Questionou.

Liza não respondeu. Mãos abraçadas na altura do umbigo, ombros murchos, andar contido e o desalento estampado em seu rosto. A menina mirou a cadeira mais próxima e se sentou. Nem os óculos disfarçavam a tristeza que brilhava em seus olhos.

— O que houve? — Dominick insistiu.

Ela permaneceu em silêncio. Se debruçou, escondendo o rosto entre as palmas das mãos e suspirou. Leves sonidos de um choro engrenando soaram no vazio, passearam pelo lugar, mas a menina logo se conteve. Parou para respirar. Dominick, comovido, se aproximou e estendeu a mão para afagar seus cabelos, mas hesitou de imediato. Lembrou dos limites de sua função e recolheu a mão devagar, encolhendo os dedos.

— Liza... — A voz do professor soou, num tom suave. — Me diz, aconteceu alguma coisa?

A menina inspirou e expirou lentamente.

— É o Rafael, professor. Eu estou preocupada.

— E porquê? — O professor perguntou. — O que houve com ele?

Ela levantou o rosto num suspiro.

— É que... Sei lá. Acho que tem alguma coisa muito grave acontecendo com ele.

— Como assim?

— Bom, fazem três dias que ele não vem a escola. Tentei ligar pra ele, mas ele ignorou as ligações. Agora eu recebi a notícia de que ele está no hospital.

— Ele está doente? — A voz de Dominick soou mais aguda que o normal.

— Não sei dizer, mas sei que está no internamento. E depois do que aconteceu la no pátio, no dia do jogo, eu não sei o que pensar. Estou assustada.

Dominick cerrou as sobrancelhas, curioso. Puxou uma cadeira e se sentou.

— Como assim "o que aconteceu no dia do jogo?!" Houve algum acidente?

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