5 - Eduardo.

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EDUARDO SAIU DO QUARTO FURIOSO. Ignorou os pais que tomavam o café na cozinha e foi ao encontro de Eric, que o apressava buzinando como doido do lado de fora da casa. Na noite anterior, O garoto expôs para os pais o desprazer que tinha em ir à escola com o irmão todo dia. Sugeriu que um dos dois o levasse, mas, como de praxe, a resposta foi desanimadora:

— A gente não tem tempo pra brincar de motorista, querido. – A mãe pousou a bandeja de salada sobre a mesa e ajeitou-a. — Foi por isso que compramos um carro pra você e o seu irmão. Pra não termos que vos levar e vos buscar todo dia, e nem pagar o transporte escolar todo mês.

A mulher parou encarando a salada como se faltasse alguma coisa. O garoto tentou contra-argumentar, mas ela o interrompeu.

— Você pode pegar as azeitonas na cozinha, querido? — Perguntou.

Eduardo não se surpreendeu. Sabia do grau de importância que os pais davam as suas reclamações. Foi à cozinha e voltou com o pote de azeitona nas mãos e a insatisfação no rosto. Viu sua mãe dedicar mais atenção na decoração da salada do que prestou nele o ano inteiro.

— Já que não podem me levar, — o garoto interrompeu o silêncio — acho que eu poderia começar a ir de ônibus, então. Seria tranquilo para mim e a estação fica bem pertinho, inclusive.

A mãe franziu os lábios sem desviar o olhar da mesa.

— Não sei se é uma boa ideia, Edú. Não quero a vizinhança fofoqueira comentando que nós fazemos distinção entre você e o Eric, sendo que, como eu já disse, nós compramos um carro para vocês os dois.

Eduardo revirou os olhos e cruzou os braços.

Seu pai, do outro lado da mesa, estava afundado no celular e parecia nem ouvir a reclamação do filho mais novo. Na verdade, os problemas de Eduardo nunca foram tão interessantes para o Sr. Laifer, já que não envolviam uma bola, uma quadra e um futuro brilhante num dos esportes mais populares do mundo. Em meio a conversa entre mãe e filho, o máximo que o senhor fazia era levantar a cabeça, olhar para Eduardo com desaprovação e mirar o celular novamente.

— Dizer que o carro é meu e dele é um exagero, mãe. — Eduardo reclamou.

— Então é esse o problema?

— Não, mãe, é que...

— Nós já falamos sobre isso, Eduardo. — A senhora o interrompeu, enquanto ainda tentava encontrar um lugar melhor para colocar a tijela de salada. — O Éric só dirige o carro porque é o mais velho e tem idade pra isso.

— Mas o problema não é o carro, mãe. É ele!

— E o que o seu irmão tem de errado?

— Ele age como se eu não tivesse direito nenhum. Me apressa todas as manhãs e faz ameaças, como se estivesse me fazendo um favor ao me levar para a escola. Ele é um... — Fez uma pausa, bisbilhotando a mente a procura da palavra menos ofensiva, mas, não tendo encontrado, preferiu se calar. — Quer saber, deixa pra lá...

— Sinceramente, filho, eu não consigo te entender.

O suspiro da senhora revoou sobre a mesa recheada, passou pelo resto da sala e saiu para fora; ela abanou a cabeça e seguiu com sua tarefa. Estava bem mais interessada em terminar de montar a mesa do que em prestar atenção ao que o filho dizia. Como sempre. Instantes depois, com a mesa já montada, Eric abandonou o quarto e se juntou aos três pro jantar. Foi recebido com um grande sorriso por parte do pai, que interrompeu seu silêncio e pousou o celular sobre a mesa.

— Como vai o Basquete? — Perguntou interessado, e o resto da noite girou em torno desse assunto.

Agora, de manhã, Eduardo tinha que lidar com o mesmo problema de sempre: Eric e o seu jeito opressor. Entrou no carro pela porta de trás e se sentou. Cruzou os braços, mirou a janela; nem um bom dia foi dirigido ao irmão que aparentemente não fazia questão de receber.

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